domingo, 6 de dezembro de 2009

Lígia Mychelle de Melo

Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães


Lígia Mychelle de Melo [05-12-2009]
Edição Itatiaia, 2000:
da p. 135 :"D rima obrigatoriamente com o verso final de cada quadra que compõe a
oitava, que [...]"

até p.139: [...]"Mas quando terá fim o meu tormento?
(XXVI) "

Antonio Candido observa que Manuel Inácio da Silva Alvarenga inventou um tipo de rondó com estribilho, ou seja, com rimas obrigatórias ao fim de cada quadra, o qual foi inspirado na composição da cançoneta “L’estate” de Metastásio:

Più non hanno i primi albori [Não têm mais os primeiros alvores]
Le lor gelide rugiade; [Os seus gélidos orvalhos;]
Più dal ciel pioggia non cade, [Do céu a chuva não cai mais]
Che ristori e l'erbe e i fior. [Que revigore seja as ervas seja as flores.]

Alimento il fonte, il rio [ Alimento – a nascente, o rio]
Al terren più non comparte [Ao terreno mais não comparte]
Che si fende in ogni parte [Que se fende em cada parte]
Per desio di nuovo umor. [Por desejo de novo humor.]


[Tradução literal e exegese de Massimo Pinna: a 2a.estrofe diz que a nascente, o rio, não dá mais alimento ao terreno, que se resseca quebradiço, ansioso pelo
líquido]

Conforme podemos observar na composição acima, a palavra “fior” do quarto verso rima com “umor” do oitavo verso; o poema obedece ao esquema de rimas externas ABCD EFFD. Geralmente essas rimas são terminadas em ar, er ou or, o que favorece a excessiva melodia. No caso aqui específico as rimas são terminadas em or. Tal modelo de poema se assemelha às cantigas, às letras de modinha e traz ao Arcadismo brasileiro a musicalidade, a sensibilidade e a popularidade, bem ao nosso gosto, que prenunciam a arte romântica.
Outro ponto observado por Antonio Candido é que Alvarenga é o único poeta árcade que “deixa de lado carneiros e ovelhas” e passa a cantar em sua poesia a cobra, a onça, o elefante etc. Entanto, os animais mais caros em seus versos são a pomba branca e o beija-flor, os quais aparecem como representações de sua atividade amorosa:

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Neste bosque alegre e rindo
Sou amante afortunado;
E desejo ser mudado
No mais lindo beija-flor.
Todo corpo num instante
Se atenua, exala e perde;
É já oiro, prata e verde
A brilhante e nova cor.
[...]

Nesse rondó podemos observar a presença do beija-flor identificado com a sensualidade; a exaltação da natureza; a facilidade das rimas; (terminadas em or); a espontaneidade dos versos; a musicalidade e o sentimentalismo. Assim, podemos dizer que Silva Alvarenga, ao imprimir em sua poesia “certos tons da nossa sensibilidade”, tentou escapar dos valores universais defendidos pela arte neoclássica (que destoam da nossa realidade local) e deixou se guiar pela intuição. Por isso é tido por Cândido como o mais sentimental comparado a Gonzaga e a Cláudio Manuel.
E, “se não vibrou em seu verso a humanidade profunda de Gonzaga, nem a visão plástica de Cláudio Manuel”, é preciso reconhecer que ele soube bem colorir seus versos com nossa brasilidade e, assim como Basílio da Gama, antecede características da poesia romântica.

sábado, 21 de novembro de 2009

Kalina Naro Guimarães


Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira





Kalina Naro Guimarães [21-11-2009]



Edição: Itatiaia, 1981:
Da p. 139: [Dentro do Capítulo 4, subtítulo Preocupações teóricas: “Esta disposição de temperamento levá-lo-ia a ressaltar na teoria [...].”
Até p. 142: [Subtítulo Os rondós: [...]“No estribilho as rimas são internas, segundo o esquema:
.............................A
.............A.............B
.............B.............C
............C..............D. ”


Candido aponta em Silva Alvarenga certa disposição melancólica, o que o levou a ressaltar, na teoria, valores da sensibilidade e da emoção, evidenciados formalmente pela expressão adocicada e menos conceitual e pela repulsa do verso feito por mero exercício.


Na Epístola a Termindo Sipílio, surge certa consciência de separação entre a arte e o burguês – perspectiva essa aprofundada no romantismo –, na medida em que o poeta que sofre e pensa contrapõe-se ao burguês, que, por não sofrer, não percebe a arte. Aqui, observamos uma importante pressuposição. Para a arte ser divisada é fundamental certa sintonia entre as experiências e os sentimentos vividos e aqueles expressos no poema, prenunciando, assim, a idéia da correspondência entre a vida e obra, bastante recorrente no romantismo. No caso da Epístola, a insensibilidade do burguês deve-se ao fato de que ele não sofre, e a poesia, associada à emoção, seria justamente a expressão do profundo sentimento.


Candido reafirma que, ao lado do culto pela sinceridade, Alvarenga repulsa a imagem rebuscada, primando, assim, pela moderação formal. Estabelecendo certa coerência entre a teoria neoclássica cultivada e a sua poética, Manuel Inácio “concentra-se afinal nas formas breves, adequadas à pesquisa lírica e à expressão dos estados poéticos”. Essa decisão foi importante por, pelo menos, dois motivos. Primeiro, porque observamos a busca do poeta em pensar teoricamente a literatura, mas fazê-la à maneira como sua consciência e sensibilidade a definiam. Portanto, a teoria correu menos perigo de ser reflexão abstrata ou mero falatório estético. Segundo, porque a musa heróica, tão presente na epopéia, foi arquivada em favor da coroa de folhas de mangueira, símbolo que atribuiu valor ao elemento nacional nos rondós, ajudando a acentuar o gosto pelo espaço e pelas coisas do Brasil.


Candido finaliza apresentando Cláudio Manuel da Costa como o grande artífice, que encerrou “no arcabouço rígido dos sonetos grande parte da veia lírica”; Gonzaga como aquele “que realizou a mais perfeita compenetração da matéria poética com o sentimento natural da vida”; e Silva Alvarenga como o mais sentimental, porém o menos profundo, já que obedeceu mais passivamente ao espontâneo, “revelando ao mesmo tempo capacidade menor para ordenar formalmente a emoção”.

sábado, 7 de novembro de 2009

Joana Leopoldina de Melo Oliveira

Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira





Joana Leopoldina de Melo Oliveira [7-11-2009]




Edição: Martins, 1971:
Da p. 135 : [dentro do capítulo 3. O DISFARCE ÉPICO DE BASÍLIO DA GAMA, após o subcapítulo "Conclusão"]: "É somenos, mas não desprezível para compreender o poema, indagar se representa"[...]

Até p. 138: [já no capítulo 4 POESIA E MÚSICA EM SILVA ALVARENGA E CALDAS BARBOSA, subcapítulo "Preocupações teóricas", três primeiros parágrafos]: [...]"por isso acariciava 'nas horas de melancolia' o sonho de requerer uma sesmaria para as bandas de Itaguaí."


Na última parte do capítulo 3, Candido não despreza para a compreensão do poema a indagação se o mesmo representa uma convicção sincera do poeta ou é ato de bajulação a Pombal. Ele afirma que a informação do poeta era improvisada e, por isso, talvez os seus índios sejam tão poéticos. Já as informações sobre os acontecimentos militares foram retiradas de uma publicação antijesuítica que Pombal mandou fazer, e ainda esclarece que após a conclusão da obra, Basílio recebeu todo apoio do ministro na impressão e aprovação da obra na Mesa Censória.


Entretanto, Candido sabiamente o isenta de qualquer culpa, dizendo que Basílio não agiu de má fé por agir em parte por interesse, tendo em vista que o poema mostra a inspiração e os problemas que a situação despertou na mente do poeta. Além disso, a campanha antijesuítica era forte na Europa, fato que acabou impressionando “o inflamado e volúvel Basílio”.


O último parágrafo conclui, dizendo que a luta contra a poderosa Companhia de Jesus fazia parte das reformas do Marquês de Pombal e, portanto, “Tudo leva a pensar que Basílio as aplaudia sinceramente, por opinião e por reconhecimento à proteção recebida”.


Passando para o capítulo 4, Candido começa destacando a influência exercida por Basílio da Gama nos poemas de Silva Alvarenga. Percebem-se algumas semelhanças entre eles na preocupação com a teoria literária, na adoção do alexandrino e no americanismo poético quando Alvarenga explora os temas e imagens da natureza brasileira.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eldio Pinto da Silva



Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento




Eldio Pinto da Silva [17-10-2009]




Edição: Martins, 1971:
da p. 131 : "A finalidade da citação é sugerir ao leitor a equivalência plástica de que
se vale o poeta"[...]
até p. 135: [...]"e tudo mostra que jamais conseguiu de novo a perfeição dos
incomparáveis versos soltos do Uraguai."





Em Uraguai, o autor utiliza imagens para resssaltar o ambiente em transformação que é o Brasil, seja com a presença das paisagens naturais ou com a relação da guerra entre brancos e índios. Candido ressalta que o poeta (Basílio da Gama) demonstra sua posição quanto ao conflito entre o “civilizado” e o “selvagem”. Ao mesmo tempo em que revela uma tendência de apoio aos índios pela sua simpatia a eles, sabe da importância do trabalho dos brancos que estão motivados a “civilizar” os índios. Porém para isso usam da violência da guerra para manter o controle sobre as terras invadidas.


Para Candido, o poema busca esclarecer o problema através do estudo da situação que aponta o conflito entre índios e brancos. Candido percebe isso com maestria, demonstrando em sua leitura que o poema não versa somente sobre o choque entre culturas, mas também sobre a formação de nova civilização provinda da Europa e a tradição da civilização europeia que vê a nossa como selvagem.


Candido aponta que a visão do momento histórico de Basílio além de perceber o ambiente natural e a guerra, vai orientar o leitor sobre as relações sociais. Assim, o poema visa fazer uma retrospectiva: sentimental pela natureza, reflexão sobre a vida e a guerra, o uso da Razão para estabelecer uma visão pessoal sobre o conflito, tomando uma posição favorável ao índio. E apesar de ressaltar a guerra, Candido observa que na descrição poética de Basílio há o testemunho quanto às artes – agricultura e pecuária, como também sobre a vida do homem (camponês) que não está no campo de batalha.


Candido também reconhece que Basílio percebe o jogo de interesses no campo de batalha, daí a simpatia pelos índios. Exalta os índios como elemento natural da terra e por isso mostra-se defensor de seus interesses, acusando os jesuítas de invasores e transgressores das tradições indígenas. Basílio, segundo Candido, tem um “sentimento da irrupção do homem das cidades no equilíbrio de civilização natural”. Portanto pode-se destacar a expansão dos europeus nas “terras descobertas” como uma fuga das cidades e o sentimento dos índios em defender seu ambiente, para não perder seu espaço natural.


De acordo com as pesquisas de Candido, o herói Cacambo não é apenas um nome inspirado na obra de Voltaire, mas um índio que buscou representar os índios no conflito com os brancos.


Candido percebe a influência de Basílio da Gama como precursor dos autores românticos, da literatura nacional. O crítico também observa que se pode “distinguir nele o nativismo do interesse exterior pelo exótico, parecendo haver predomínio deste, pois o Indianismo não foi para ele uma vivência, como para os românticos, foi antes um tema arcádico transposto em roupagem mais pitoresca”.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Edlena da Silva Pinheiro



Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos








Edlena da Silva Pinheiro [26-09-2009]




Formação da Literatura Brasileira
Edição: Martins, 1971:
da p. 127 : "capítulo 3. O DISFARCE ÉPICO DE BASÍLIO DA GAMA" [...]
até p. 131: [final do poema:][...] "Mil vezes, e mil vezes solta o arco
Um chuveiro de setas despedindo."


Nesta parte, Antonio Candido comenta o poema Uraguai, de Basílio da Gama, e o vê nao como um poema épico, mas primeiramente como lírico. O tema do poema é a expedição dos portugueses e espanhóis contra as missões dos jesuítas no Rio Grando do Sul (1756), para executar o Tratado de Madrid, firmado entre Portugal e Espanha para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas. Utilizando o índio como elemento representativo do Brasil, Basílio da Gama oscila entre o encantamento com o pitoresco e a ordem social européia, diferentemente de Cláudio Manuel da Costa, que se identificava claramente muito mais com a paisagem nativa.


Essa indecisão de Gama, pois até mesmo contra os jesuítas percebe-se o ataque do poeta, todavia, não deixa de revelar a simpatia pelo elemento mais fraco, o que significa uma prevalência da emoção contra o racionalismo. As duas partes do poema, a dos versos e a das notas, sao complementares, sendo as notas imprescindíveis para a compreensão do texto e perceber o combate aos jesuítas e a exaltação ao Marquês de Pombal. Assim, o uso da prosa para o expressão ideológica torna o poema mal construído, pois mostra a incapacidade do autor em ideologia em poesia épica. Entretanto, a plasticidade, fluidez e movimento dos versos decassílabos soltos de Basílio da Gama fazem do Uraguai uma obra brilhante do ponto de vista estético, apreciada pelos árcades e usada até como modelo pelos românticos, como Gonçalves Dias.


Antonio Candido utiliza trechos do poema para ilustrar o aproveitamento das leituras clássicas de Basílio da Gama, que cita Virgílio, Petrarca, Camoes em versos cujas combinações lhe dão verdadeiro movimento. Já as imagens relacionadas ao mar mostram a influência do poeta pela cidade do Rio de Janeiro, onde se educou e estava ligado pela família e amigos. Na última citação, Candido mostra como os dois elementos – europeu e índio – são apresentados através de diferentes espaços e como a batalha é o espaço novo, onde esses dois elementos se confrontam. O poeta simpatiza com o selvagem, mas se conforma com a ordem do civilizado. Seria também essa uma das razões que fazem o crítico afirmar que Basílio da Gama usa o épico como disfarce, pois o conflito cultural passa a ser mais importante que contar fatos heróicos da guerrilha.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cássia de Fátima Matos


Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho





Cássia de Fátima Matos [12-9-2009]




Edição: Ouro sobre Azul, 2006.


da p. 127: “A delegação poética referida anteriormente, não perturba aqui a emergência do lirismo pessoal [...]
até p.130: “[...] cada vez mais o poeta Tomás Antonio Gonzaga, lançando nos jardins da Arcádia a sua forte alma para a posteridade”.




Como essas são as últimas páginas inseridas no item “Naturalidade e individualismo de Gonzaga”, Candido segue destacando a importância desse poeta no contexto do Arcadismo, realçando que a sua obra é a única entre os árcades “que permite acompanhar um drama pessoal e as linhas de uma biografia” (p.127). Ou seja, trata-se de evidenciar o que o título aponta: é o individualismo de Gonzaga que faz a sua poesia ser melhor se comparada aos demais.


Os fatos dramáticos vividos pelo poeta (prisão, a impossibilidade de viver com Dorotéia, a sua pastora Marília) criam as tensões na vida pessoal, que Gonzaga potencializa em estilo. Esse estilo, Candido vai demonstrando ao longo do texto, passa a ser não somente a devoção a Marília, mas uma “estilização de si mesmo”. É como se diante do infortúnio, isto é, a crise afetiva e a crise política, o poeta forjasse a si mesmo.


As liras se transformaram, especialmente na prisão, a via de escape que o poeta tinha para expressar-se, e é exatamente por meio delas que ele, o poeta, realça “a sua dignidade e valia”.


Acho esse aspecto muito interessante, pois, como demonstra Candido, é a partir da tragédia pessoal que o poeta confia ainda mais em si mesmo, demonstrando a sua dignidade e usando a poesia para passar à posteridade.

Enfim, parece que Gonzaga, “mesmo pautado no decoro neoclássico”, supera, de forma individual e reveladora, os seus antecessores, especialmente por ter expressado de forma altiva o seu eu.

Assim, para Candido, Gonzaga destaca-se como um dos melhores dos nossos poetas até então, e essa qualidade resulta por sua capacidade de fundir: a aventura sentimental (o amor), a sua formação poética (com forte influência de Claudio) e uma forte convicção de si mesmo, convicção esta que a crise política, ao invés de abatê-lo, deu-lhe mais altivez.

sábado, 29 de agosto de 2009

Carmela Carolina Alves de Carvalho




Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara









Carmela Carolina Alves de Carvalho [29-8-2009]





Editora Martins, 1971
da p. 119: “E, mais próximo aqui de Horácio, a visão burguesa da decrepitude:
Mas sempre passarei uma velhice
muito menos penosa.” [...]
Até p. 122: [...]”A suprema importância de sua obra é a maturação do psicologismo esboçado naquele poeta, mas que só avulta com ele e Bocage”.




Segundo Anacreonte, seu mestre, a velhice traz o lamento pela fuga da juventude. Mas Gonzaga retoma seu mestre consolando-se com a paz doméstica da velhice, aproximando-se de Horácio:


Mas sempre passarei a velhice
muito menos penosa.
não trarei a muleta carregada,
descansarei o já vergado corpo
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada.

As frias tardes, em que negra nuvem
os chuveiros não lance,
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno
onde os membros descanse,
e ao brando sol me aquente.
(I, 18)


“O meu Glauceste”

Se o amor pela mocinha de Vila Rica foi de grande influência na sua vocação, é necessário, entretanto, assinalar outra grande influência: a de Cláudio Manuel da Costa. Gonzaga por pertencer à nova geração, recebe a influência da Arcádia Lusitana, consequentemente de Cláudio. Quando chegou aqui, ligou-se ao amigo mais velho que apontou o caminho da poesia ao talento que fora logo pressentido e manifestado.

A intimidade entre eles fica sempre patente, como nos Autos da devassa, onde podemos observar que Cláudio o aconselha em matéria poética. Num de seus poemas, querendo traçar o perfil do poeta, diz:

e o terno Alceste chora
ao som dos versos, a que o gênio o guia (I,6)


Na Lira 31 da 1 Parte, o elogio:

Porém que importa
não valhas nada
seres cantada
do teu Dirceu?
Tu tens, Marília,
cantor celeste;
o meu Glauceste
a voz ergueu:
irá teu nome
aos fins da terra,
e ao mesmo Céu.

Em outra lira mostra o orgulho que sentia por ser admirado por Cláudio:


Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste,
nem canto letra que não seja minha. (I, 1)


O último verso parece indicar, da parte de Gonzaga, desvanecimento, não de quem estreia, mas de alguém que começa a poetar com verdadeiro discernimento e força para prosseguir.

Devido à contenda com a Governador Luís da Cunha Menezes, o sentimento por justiça e o ardor combativo reforçariam o apego ao amigo, que contribuiu para interessá-lo pela Inconfidência, onde teve um papel marginal, se é que teve algum.

O profundo amor que Cláudio possui pela terra mineira teria passado em parte ao luso-brasileiro Gonzaga.

Essa fraternidade não tinha ciúmes: a obra de Gonzaga de certo modo superou a obra de Cláudio, ao trazer para a literatura luso-brasileira um tom mais moderno dentro do Arcadismo, levando a naturalidade a um plano mais individual e espontâneo, que na geração anterior ainda é quase acadêmica.



Dirceu transfigurado

Na literatura brasileira, Gonzaga foi dos seus maiores poetas, junto a outros que contribuíram para a construção de uma visão de mundo nossa. Nele, a pesquisa neoclássica da natureza alcança expressão mais humana e artisticamente mais pura, libertando-se do barroco e do prosaísmo.
Antes da prisão, na primeira fase de sua poesia, prefere o verso leve e ataviado. Depois, supera o lado rococó da inspiração, para se concentrar em formas mais severas, mas, paradoxalmente, é do tempo anterior a mais bela de suas odezinhas amorosas:


A minha amada
é mais formosa
que o branco lírio,
dobrada rosa,
que o cinamono,
quando matiza
co’a folha a flor.
Vênus não chega
ao meu amor;
(II,27)



Apura o contraste entre a celebração mitológica da mulher e o senso de realidade. Busca valorizar a vida social, a ordem serena da razão, a beleza e a nobreza das artes da paz, combatendo o falso heroísmo da violência:


Um pouco meditemos
na regular beleza,
que em tudo quanto vive nos descobre
a sábia Natureza.
(I, 19)


A naturalidade inicial dos árcades nele é recuperada com nota humana. Contra a degeneração da simplicidade despoetizada, ofereceu a vivência calorosa do quotidiano, com uma maturação do psicologismo que só se avultará com ele e Bocage.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Arandi Robson Martins Câmara





Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr





Arandi Robson Martins Câmara [11-07-09]





Editora Martins, 1971:
da p. 115: "Para podermos formar juízo, é preciso mencionar pelo menos três pontos:"...
[parágrafo anterior ao subtítulo Presença de Marília]
até p. 119: ... "diz retomando Anacreonte:
Já me alvejam as têmporas e a cabeça é calva: já passou a cara juventude e os dentes se arrruinaram. Resta pouco tempo da doce vida."




Neste tópico Antonio Candido enfoca a poesia de Tomás Gonzaga. Essa apresenta-se como fenômeno vivo e autêntico por ter brotado de experiências humanas palpitantes. Antonio Candido afirma que o poeta Gonzaga existe, realmente, de 1782 a 1792: poeta de uma crise afetiva e de uma crise política. O problema consiste em avaliar até que ponto a Marília de Dirceu é um poema de lirismo amoroso tecido à volta dessa experiência concreta ou o roteiro de uma personalidade, que se analisa e expõe, a pretexto da referida experiência. É certo que os dois aspectos não se apartam, nem se apresentam como alternativas. Mas também é certo que o significado da obra de Gonzaga varia conforme aceitemos predominância de um ou de outro. Para podermos formar juízo, é preciso mencionar pelo menos três pontos: a sua aventura sentimental, a sua formação poética, as características de sua poesia.



PRESENÇA DE MARÍLIA



Antonio Candido diz que Gonzaga é dos raros poetas brasileiros, e certamente o único entre os árcades, cuja vida amorosa tem algum interesse para a compreensão da obra. Primeiro, porque os seus versos invocam a pastora Marília, segundo, porque eles criaram com isto um mito feminino, dos poucos em nossa literatura.


A partir daí Candido destaca versos de Gonzaga sobre a temática de Marília tecendo reflexões: os versos a seguir caracterizam-se por uma presença física de Marília, concretamente sentida:

Quando apareces
na madrugada,
mal embrulhada
na larga roupa,
e desgrenhada,
sem fita ou flor;
ah! que então brilha
a natureza!
Então se mostra
tua beleza
inda maior. ( I, 17 )






Nos versos seguintes, Antonio Candido assinala na musa a presença, sugerida por Gonzaga, de um leve esnobismo de mocinha fina:


É melhor, minha bela, ser lembrada
por quantos hão de vir sábios humanos,
que ter urcos, ter coches e tesouros
que morrem com os anos;



O autor continua viajando nas veredas dos versos do árcade, lembrando também que, sob esta Marília dos poemas, podem na verdade ocultar-se pedaços de Lauras, Nizes, Elviras, Ormias, Lidoras e Alféias, que o poeta cantara em versos anteriores.



Eu não sou, minha Nize, pegureiro
que viva de guardar alheio gado.


A predominância do ciclo de Marília é quase toda a sua obra: seria realmente pouco vulgar que apenas aos quarenta anos tal poeta abrisse as asas, e o fizesse de maneira desde logo tão consumada.


Foi um acaso feliz para a nossa literatura esta conjunção de um poeta de meia-idade com a menina de dezessete anos. O encantamento de um amor refinado em relação à moça em flor é descrito nos versos abaixo:


Ah! Enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós na face irada,
façamos sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos (...)




O amor entre o homem mais experiente com a menina em flor é descrito de forma bastante objetiva na poesia de Gonzaga. Nesta perspectiva, Antonio Candido afirma que na poesia de Tomas há uma substituição da antiga pena de amor, como impaciência sensual, pela aspiração ao convívio doméstico, que coroa e consolida os amores da mocidade. São numerosas as suas liras de celebração do lar e de sonhos de vida conjugal. Por isso dignificam os sentimentos cotidianos, superando os disfarces alegóricos que o Arcadismo herdou da poesia seiscentista e quinhentista. Marília aparece então realmente como noiva e esposa, desimpedida de toda a tralha mitológica, livre da idealização exaustiva com que aparece noutros poemas.

sábado, 27 de junho de 2009

Antônio Fernandes de Medeiros Jr



Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza





Antônio Fernandes de Medeiros Jr [27-6-2009]




Editora Martins, 1971:
da - p. 111: "Combinadas, referidas a alguns sonetos e devidamente lidas, desvendam um claro roteiro de poesia ilustrada,"...
até - p. 115: [primeiros parágrafos do subcapítulo 2 - Naturalidade e individualismo de Gonzaga]..."Mas também é certo que o significado de Gonzaga varia conforme aceitemos a predominância de um ou de outro."





Na seqüência da exposição didática, Antonio Candido chama a atenção do leitor. Constata que a atitude intelectual de Alvarenga Peixoto se consolida como sendo típica do “ilustrado à brasileira”, a mais expressiva naquele contexto histórico e no enquadramento estético do século XVIII. Além disso, estabelece uma ressalva anunciando que os pontos selecionados para a interpretação seguinte não se encontram “expressamente definidos e organizados”. Tais constatação e ressalva servirão de base para os comentários e desdobramentos analíticos concisos nessa seção do livro.



Para sondar o valor literário e o mérito histórico do poeta inconfidente, Antonio Candido transcreve fragmentos, escassos, das odes e da cantata de Alvarenga Peixoto anteriormente aludidas. Observa as relações temáticas determinantes dos conflitos ideológicos, das disputas políticas que alimentavam as ações inconfidentes sem perder de vista a habilidade do poeta para expressar por meio de versos o contexto do debate para “civilizar” e transformar o Brasil. Considera a ode a Pombal [sem destaque das aspas] duplamente importante quando, no plano do gênero político, a sublinha como “uma das mais belas que nos legou o século XVIII”, e também a pontua “com certeza a sua melhor obra”. Menciona a “Ode à rainha D. Maria I” e o “Canto Genetlíaco” neles localizando a presença de um tópico central do desejo inconfidente, o da autonomia política, antevista como possibilidade apenas quando o Brasil viesse a superar a sujeição imperial, e a ser administrado por brasileiros. Nos versos do poeta, o vislumbre se dá no contexto de batizado do filho do Governador Conde de Cavalheiros, nascido em Minas, D. José Tomás de Meneses.



Conforme Antonio Candido, o alinhamento estético de Alvarenga Peixoto com os demais poetas inconfidentes, Basílio da Gama entre outros, também ocorre mediante a compreensão nova, que teria implicações mais elaboradas no Romantismo, segundo a qual o indígena “ia se tornando símbolo do Brasil”, percepção que se processa no longo intervalo histórico necessário para firmar o perfil de miscigenação do povo brasileiro.



Por fim, a avaliação do Mestre determina que, a despeito do valor histórico e do mérito literário de Alvarenga Peixoto, este inconfidente ainda se situa numa fase de elaboração política e literária refém da “estrita preocupação ilustrada”, cuja superação, em linguagem poética, será percebida na geração seguinte com atividade de Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e Silva Alvarenga.




2 – NATURALIDADE E INDIVIDUALISMO DE GONZAGA



A presença de Tomás Antônio Gonzaga no cenário político do século XVIII imprime maior vigor e amplia o universo de quesitos literários. Antonio Candido divisa no procedimento implícito do poeta uma “teoria da criação poética bem diferente da que reputaríamos ajustada à sua obra”. O fragmento transcrito de trecho da resposta do homem Gonzaga ao conturbado inquérito a que esteve submetido dissimula o estado de espírito provável que o poeta Gonzaga vivenciou na contingência de presidiário quando escreveu as liras do “Marília de Dirceu”.



De acordo com Antonio Candido, com Tomás Antônio Gonzaga a poesia inconfidente adquire relevo para expressar a densidade, algo inusitado entre nós, como decorrência da associação entre vida e obra, por meio de uma poesia que “parece fenômeno mais vivo e autêntico, menos literário do que em Cláudio [Manuel da Costa]”. A partir desta constatação, o novo problema seria examinar os limites entre os acontecimentos de vida pessoal do homem Gonzaga e a composição do poeta Gonzaga, autor de “Marília de Dirceu”. Para formar juízo em relação ao caso Gonzaga, Antonio Candido anuncia três itens necessários à investigação os quais vinculam os aspectos da “aventura sentimental”, da “formação poética” e “as características de sua poesia”, pontos decisivos para bem assimilar essa obra.

sábado, 13 de junho de 2009

Aldinida Medeiros Souza


Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero











Aldinida Medeiros Souza [13-6-2009]


Editora Martins, 1971:

da p. 105: [final do capítulo II ]"Os críticos não discrepam ao apontar a sua decadência nas obras posteriores a 1768,"...
até p. 111: [primeiras páginas do capítulo III Apogeu da reforma]..."Alvarenga Peixoto: duas odes, o fragmento de um terceira, uma cantata e o famoso "Canto Genetlíaco". "



Antonio Candido comenta a discordância dos críticos em relação ao poema épico de Cláudio Manuel da Costa, alegando sobretudo o esforço do poeta de “se pôr em dia” com a moda, com peças geralmente laudatórias, o que indica a possibilidade de desinteresse do poeta para com a produção lírica. Segundo Candido, esta produção lírica desinteressada pode servir para avaliar a decadência do poeta, observando que mesmo peças reveladas a posteriori ainda são de melhor qualidade que o “erro poético do Vila Rica”.



Os indícios de uma crise espiritual em Cláudio Manuel podem ter surgido em razão da pouca repercussão de sua obra, visto que Silva Alvarenga e Basílio da Gama eram conhecidos e levados em conta na Metrópole. O enfraquecimento poético do poeta teria sido talvez motivado pelo esforço de acertar o passo com os modernos e ganhar a desejada fama. Confiou, então, no sentimento nativista para forçar a admiração dos contemporâneos.



Capítulo III – Apogeu da reforma

1. Uma nova geração



Candido assegura que os ideais neoclássicos só se afirmaram na geração seguinte – Silva Alvarenga, Basílio da Gama, Alvarenga Peixoto e Gonzaga – apontando, seja por um ou por outro aspecto, em cada um destes autores, uma nítida superação do momento inicial de compromisso entre cultismo e novo estilo. Ressaltando aspectos de ritmo e musicalidade de alguns desses poetas, alude-os como traços importantes para completar a expressão da nova sensibilidade, “amaciando”, “colorindo o verso português”, num processo de contrapeso ao estilo regular e lógico do Classicismo.


No segundo parágrafo da página 113 [Ed. Ouro sobre Azul] , as características de plasticidade e modos de expressão da natureza nos poemas de Basílio da Gama e Silva Alvarenga são explicitados; ambos são mineiros, porém, cariocas pelo “sentimento da água, cores [...] e luminosidade do mar”. Gonzaga participa de um universo plástico psíquico mais genérico. Ressaltando onde cada um passou a maior parte de sua vida, Candido diz que não há uma Escola Mineira como grupo, mas o Arcadismo brasileiro encontrou sua mais alta expressão em poetas ligados à capitania das Minas, por nascimento ou por residência.



Alvarenga Peixoto



É mediana a qualidade dos poemas de Alvarenga Peixoto; impossível equipará-lo aos outros poetas mineiros.



Através deste poeta, Antonio Candido enfatiza a utilização que os poetas fizeram do louvor a reis e governantes para, através disso chegar à meditação sobre problemas locais. A homenagem tornava-se pretexto tanto mais seguro quanto o poeta se escudava no homenageado. Isto aconteceu com Cláudio Manuel da Costa, Antonio Cordovil e no que resta de mais vivo de Alvarenga Peixoto: duas odes, o fragmento de uma terceira, uma cantata, e o famoso CANTO GENETLÍACO.

sábado, 30 de maio de 2009

Afonso Henrique Fávero



Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes







Afonso Henrique Fávero [30-5-2009]


Edusp/Itatiaia, 1975:
de p. 101: " Convém notar que em certos poemas pouco citados, e aliás pouco numerosos, os
quatro "romances", "...
até p. 105: ... "Terás a glória de ter dado o berço
A quem te fez girar pelo universo."



Antonio Candido, após lembrar à página 93 que nos sonetos é que se encontra o nível mais alto da poesia de Cláudio Manuel, refere um tipo de produção considerado por ele, Candido, como também elevado. Trata-se de uma simplicidade alcançada pela aproximação em tom erudito ao plano da poesia popular tradicional, por meio do cantante verso, na métrica e no ritmo, que é a redondilha (“influência visível dos processos métricos caros aos espanhóis”, p. 101).


Em seguida aborda outra modalidade praticada pelo poeta, agora em decassílabos (necessidade de expansão discursiva, por certo), voltada para o teor encomiástico, num propósito de elogiar figuras cujas biografias pautaram-se por valores como “a Virtude, a Justiça, a Pátria”. Assim é com Gomes Freire, o 1° Conde de Bobadela, título instituído pelo rei de Portugal na segunda metade do século XVIII. Mas esse tipo de obra que em geral descamba para o puxa-saquismo inócuo, em Cláudio repousava menos nas personagens que nos valores aludidos e que elas representavam de modo exemplar. E é com base em tais valores que o futuro inconfidente embute em seu poema uma investida contra a iníqua relação entre colônia e metrópole, longe do equilíbrio racional que deveria marcar toda ordenação de governo.


“Vila Rica”. Poema construído num misto de imaginação e documentação, em que se evidenciam – pelo próprio poeta – os limites de uma e outra esfera. Ou seja, o leitor é informado em “ensaio prévio” e em “notas explicativas” a respeito do que seja invenção ou fato histórico. Perguntar não ofende: tal postura não seria um dos aspectos responsáveis pela má figura da obra? Penso, por exemplo, em Infância, do Graciliano, cuja mescla indistinta entre ficção e confissão é algo que confere beleza ao relato. O sergipano João Ribeiro apontou as influências de peso recebidas por Cláudio, temática e estrutural, de Voltaire e Basílio da Gama. Nem assim!

sábado, 16 de maio de 2009

Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano





Valeska Limeira Azevedo Gomes [16-5-2009]


Editora Martins, 1971:
de: p. 97: " Para compreender até que ponto elas contribuíam para enriquecer
a obra"...
até: p. 101: ... " a mescla de Cultismo e naturalidade, nem sempre favorável ao
equilíbrio poético e ao efeito sobre o leitor."


Ainda traçando aspectos da Literatura de Cláudio Manuel da Costa, Antonio Candido refere-se à imagem/ “imaginação da pedra” e à sensibilidade do poeta, que recorrem a “constantes barrocas”. Cláudio Manuel da Costa sentiu também a necessidade de se adequar ao moderno, possibilitada pela mescla entre o natural e o Cultismo.


No tema de Polifemo, mito do amor de ciclope por uma ninfa, o crítico mostra que as antíteses irrompem do drama de Polifemo e Lize, enriquecendo as cantatas (Galatea e Lize) e a Écloga VIII, Polifemo de Cláudio, peça composta de 49 versos, não tendendo, assim, ao prosaísmo, comum em alguns de seus poemas.


O tema, qualificado como essencialmente barroco, é abordado por Marino, Gôngora e Metastasio – o qual “arcadizou o velho mito”, deixando-lhe uma “brutalidade de ópera bufa”. Cláudio inspira-se nesses dois últimos e teve influência do grego Teócrito com seu Idílio XI e das ambivalências que o rodeavam.


Esteticamente colocada entre a cantata Galatea, em que ocorre a descrição do amor de Acis com a ninfa, e a cantata Lize, que marca a frustração causada pelo desajuste amoroso, a Écloga VIII representa o auge na obra. O poeta simpatiza e se compadece do ciclope, contrariamente às versões anteriores.

Depois do desprezo, e conseqüente desespero, o ciclope oferece os bens mais caros à Galatéia em troca do seu amor:


E se não basta o excesso
De amor para abrandar-te,
Quando rebanho vês cobrir o monte,
Tudo, tudo ofereço:
Este branco novilho,
Daquela parda ovelha tenro filho,
De dar-te se contenta
Quem guarda amor, zelos apascenta.


A esse momento Antonio Candido confere afirmação de que: “... o contraste dramático entre o gigante grotesco e a ternura que o anima permitiu a Cláudio um poema comovente, quase trágico. O pobre ciclope apaixonado, largado a soluçar sua paixão desmesurada nas verdes relvas do prado arcádico, entre pastores e pastoras de ópera, produz o efeito de um estampido nessa atmosfera de ‘parnaso obsequioso’ - graças à contensão clássica e à força barroca que o anima”.

sábado, 2 de maio de 2009

Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo



Rosiane Mariano [2-5-2009]


Editora Martins, 1971:
de: p. 92: "Estudante em Coimbra, foi contemporâneo de Diniz,
Negrão"...
até: p. 97: ..." sentimento, podiam exprimir uma daquelas fortes antíteses
que lhe eram caras."



Em Coimbra, Cláudio Manuel da Costa, de formação barroca, e seus contemporâneos - Diniz, Negrão, Gomes de Carvalho e Garção - encontraram um ambiente inviável para o estilo culto, uma vez que a nova expressão do espírito do século XVIII já se operava. Porém, de modo independente e conservador da tradição, o brasileiro procurou, com simplicidade didática e interesse pela vida humana contemporânea, ser homem do seu tempo e co-autor das novas concepções européias. Mas, foi com a recuperação dos modelos quinhentistas que ele garantiu a culminância do segundo momento da sua evolução literária. Com resíduos do Barroco e da “fresca espontaneidade popularesca”, esses modelos expressaram plenamente o pensamento e a sensibilidade portuguesa no período da Arcádia Lusitana e deram sólida base à literatura moderna portuguesa. Graças a sua vocação cultista, Cláudio teve, no soneto, a sua mais alta realização, pois encontrou nele a forma poética justa para seu caro jogo intelectual, ligado à herança barroca do amor pela imagem peregrina, da rima sonora e da metáfora.


Temas como o do amante infeliz, o contraste rústico-civilizado e a tristeza da mudança das coisas em relação aos estados do sentimento são constantes nos sonetos de Cláudio. No entanto, certo dilaceramento dramático poder ser visto na sua poesia, a exemplo do soneto XVIII, no qual o eu lírico pastor, apesar dos presságios da voracidade do lobo em sua manada, apenas lembra-se de Nize, sua musa inspiradora. As imagens aprendidas em Quevedo e Gongora impregnam outras formas, como as éclogas e as odes de Cláudio. Em suas “Fábulas”, a influência desses poetas espanhóis pode ser vista pelo uso constante do hipérbato, “recurso culterano por excelência, utilizado por Gongora com admirável sentido expressivo e banido pelos árcades”.


Candido admite que o cultismo de Cláudio representa força diante das inclinações para o amaneiramento presente na poesia moderna. A volta ao Brasil em 1753, antes da efetiva fundação da Arcádia Lusitana, lhe causou certo desvio das idéias de renovação, mas favoreceu uma mediação entre as duas tendências, tornando-o, no dizer de Antonio Candido, “um neoquinhentista filtrado através do Barroco”.


Polifemo


As constantes referências às penhas, que sugerem o ambiente agreste e rústico de Minas Gerais, apontam a sensibilidade do poeta em busca dos estímulos barrocos, pois o cultismo era dado a rochedos e a cavernas, talvez pelos movimentos plásticos irregulares que essas formas representam. Além disso, o gosto de Cláudio pela eloqüência pode ser visto nas antíteses, figura prezada pelo movimento seiscentista.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araújo [18-4-2009]


Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1993

de p. 85: "Na pedra, quase tanto quanto nos troncos, obrigatórios na convenção
pastoral...”

até p. 88: ..."Cultismo, chega ao neoclássico por uma recuperação do Quinhentismo
português "



Como mostra o título desse capítulo, “no limiar do novo estilo: Cláudio Manuel da Costa”, estamos diante de um poeta de transição, entre o Cultismo e o Arcadismo. Trata-se de um poeta que busca o equilíbrio da colonização em sua poesia, valorizando o brilho de sua natureza local, aliando-o aos traços estéticos europeus.


Seguindo a convenção pastoral, os versos de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) trazem a força do sentimento do Eu lírico ligado à resistência da pedra, do penhasco.

Que inflexível se mostra, que constante
Se vê esse penhasco!


Tais palavras denotam a constância dos seus sentimentos, bem como o seu apego à natureza.


Ao citar alguns versos, Antonio Candido ressalta a importância que o escritor dá a sua terra. Ao contrário de poetas que apresentam cenários com prados e ribeiras, Cláudio Manuel da Costa retrata sua terra fielmente, com montanhas e montes, trazendo os elementos da paisagem mineira para a sua poesia.


Mesmo tendo frequentado a vida social e intelectual da Metrópole, o escritor não perdeu o vínculo com suas raízes interioranas. Tinha consciência de que sua obra, sem ceder aos temas líricos europeus, podia expressar um grande talento quando fosse comparada ao modelo da Metrópole. A consciência de sua origem rústica e brasileira despertou-o para o desenvolvimento de um talento que exprimisse o lado afetivo do Eu lírico, ligado a sua terra natal, à estética da Metrópole. Sua poesia, dividida entre Portugal e Brasil, entre a Metrópole e a Colônia, expõe um Eu fixado à terra, em meio aos problemas da sociedade.


Se o Brasil enquanto Colônia sofria a ação da influência de idéias externas sobre a cultura e a sociedade, naturalmente, o mesmo ocorria com a arte. Ciente disso, ainda que influenciado pelo modelo da Metrópole, onde havia estudado, Cláudio Manuel buscava uma identidade literária, unindo o saber intelectual adquirido ao instinto de rusticidade.


Sabemos que a cultura/literatura no Brasil foi-nos imposta, constituindo um produto da colonização. No entanto, não somos fadados a representar um galho secundário da literatura da Metrópole. Há, sim, momentos decisivos na história da literatura brasileira, como mostra Antonio Candido ao destacar o novo estilo de Cláudio Manuel da Costa. Mesmo formado em solo europeu, o poeta procurou salvar a literatura brasileira do rótulo de subliteratura, subproduto, repleta de lugares-comuns. Ele buscou trabalhar sua visão para melhor apreender sua terra: Minas Gerais.

domingo, 12 de abril de 2009

Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini [11-4-2009]


Editora Martins, 1971:
De: p. 85: "Dessa revoada de maus poetas e letrados pedantes,
convém"...
Até: p. 88: ..."Aqui sobre esta penha, onde murmura
A onda mais quebrada..."
(Ecl. IV)


Cap. 3
Sousa Nunes e autonomia intelectual


Dentre “maus poetas e letrados pedantes”, Candido destaca Feliciano Joaquim de Sousa Nunes que, por volta dos vinte e um anos, escreveu sua única obra intitulada Discursos Político-Morais revelando claramente a sua contribuição ao progresso intelectual do país.


O primeiro volume de sua obra traz uma retórica erudita e moralista, banhada por um convencionalismo monótono agregado a um estilo lingüístico correto. Dois dos seus discursos, segundo Candido, o resgatam da mesmice e revelam uma visão ampla do escritor no que diz respeito à igualdade feminina e o combate ao patriarcalismo.


Sousa Nunes foi um autoditada que possuía um respeito pela instrução e os livros e uma confiança na própria capacidade de auto-instruir-se. Nesse ponto, o escritor divergia com o sentimento de inferioridade dos brasileiros, ceifada por uma pobreza intelectual, que privilegiava intelectuais que possuíssem prestígio perante a sociedade. Na obra desse escritor carioca fica expressa a posição do intelectual no país e o desejo de mostrar o valor do escritor brasileiro. Essa nova posição traz consequência para a mentalidade da época e terá repercussão na obra de Cláudio Manuel da Costa.


Cap. 4

No limiar do novo Estilo: Cláudio Manuel da Costa

A terra sob o tópico


O poeta mineiro, dentre os neoclássicos, é a representação da nova mentalidade, que tenta se desvencilhar da influência européia, buscando valorizar a terra onde nasceu. Mesmo nessa tentativa de procurar novas referências, Claudio Manuel se vê arraigado, ainda, pelas referências externas. Segundo Candido, a presença do vocábulo rocha em alguns de seus poemas reflete o anseio do poeta em buscar um novo alicerce para sua poesia.

domingo, 5 de abril de 2009

Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti [4-4-2009]


Editora Martins, 1971:
de: p. 81: "Nos documentos publicados por Lamego é patente o nativismo"...
até: p. 84: ..."a expressão do coletivo, de que não se destacavam as personalidades de pouco relevo."


CAPÍTULO II – TRANSIÇÃO LITERÁRIA
2
Grêmios e Celebrações



Os Renascidos

O tópico sobre o qual o colega Peterson versou seu texto introduziu a noção de literatura congregada, importante para entendermos o início da formação de um sistema mesmo que caracterizado ainda por um autopúblico formador de uma subliteratura.

No tópico dois, Grêmios e celebrações, Candido irá expor características importantes de academias que se destacaram como a dos Renascidos e a dos Seletos.

A Academia dos Renascidos adquirirá significação por englobar autores pernambucanos, paulistanos e mineiros, havendo pela primeira vez um sopro de integração entre os intelectuais no Brasil que irá se traduzir numa vaga consciência de integração.

Outro aspecto interessante é o fato de os Renascidos terem tratado do nativismo, elucidando pontos da história local e se preocupando com a imagem do índio. Este, por exemplo, foi considerado, pela primeira vez, “menos bruto do que parece” e se concluiu, num dos poemas, que este povo não merecia o tratamento até agora adotado.

Dentro dessa temática, destaca-se ainda a preocupação com o caso de Diogo Álvares Corrêa – o Caramuru – que exprime a visão de nossa gênese histórica e social, tema esse recuperado por Santa Rita Durão – o que corrobora o início de um sistema literário no Brasil. Mostra-se como desejo, inclusive, a composição de uma epopéia nativista, dando categoria estética aos feitos da crônica local. A academia, todavia, se decompôs antes de terminar esse feito que, ao que parece, permaneceu no estado de esboço publicado por João Lúcio de Azevedo.

Os Seletos

Outra academia em destaque se mostrou a dos Seletos que, ao que parece, foi menos ambiciosa e menos significativa, pois já nos objetivos prenuncia um malogro estético, por ser unicamente destinada a celebrar Gomes Freire de Andrada.

Quanto a essa é interessante recuperar a ênfase crítica dada por Candido ao afirmar que as introduções do secretário, os discursos do presidente, as poesias dos acadêmicos, nada valem esteticamente. "Desnudam uma subliteratura de fiteiros, glosando, adulando, comprazendo-se em equívocos e trocadilhos, exibindo-se por meio da negaça e da falsa modéstia". [p. 82].

Os textos dessa academia eram feitos para se elogiar um poderoso, cultuar um santo ou celebrar um acontecimento, de forma que acabavam se tornando extremamente demagógicos contribuindo para a formação de um ciclo de elogios mútuos que provocava o fechamento da academia aos membros da sociedade que não tivessem uma condição sócio-econômica destacada. Inicia-se, com isso, também, a definição do status de letrado.

Nos poemas, percebe-se uma quantidade exorbitante de elogios que diversas vezes ofuscavam a intenção inicial do texto, tornando-o ainda mais pobre esteticamente. Isso se observa ao observarmos que o principal recurso na construção desses textos foi o símile que se mostra um dos mais usuais recursos e que, afora isso, não havia individualidades, mas o estilo coletivo de um grupo homogeneamente medíocre.

Isso se corrobora se conferirmos um trecho em que Otávio Paz (1982:20) em que afirma: “Quando um poeta adquire um estilo, uma maneira, deixa de ser um poeta e se converte em construtor de artefatos literários”. Se isso ocorre com um poeta, imagine com um grupo... Não é estranho, portanto, o tratamento enfático de Candido.

O valor dessas obras, segundo Candido, se mostra mais documental do que estético. Uma fonte na qual se bebe a mentalidade duma camada social, através de seus porta-vozes ideológicos. Nesse sentido, deve-se destacar a participação maciça do clero, tanto individualmente como também, no caso dos regulares, que disciplinadamente se misturavam na massa amorfa que se caracterizava a produção coletiva.

Dessa forma, por meio destes documentos, pode-se constatar o monopólio da instrução colonial que garantia os padrões de rotina e tradição literária, os valores de devoção e lealdade à Igreja e à Coroa, em colaboração com magistrados e militares.

As exéquias de Paracatu

Nesse contexto se destacam “As exéquias de Paracatu”, texto encomendado para homenagear Dona Maria Francisca Dorotheia, Infanta de Portugal, filha de D. José I.

Conclui-se, dessa forma, que apesar de apresentarem características significativas para a formação de nossa literatura como a abordagem do tema nativista, o início de uma integração intelectual, o início da formação de um sistema literário, os letrados formavam ainda um grupo que se separava da massa na medida em que integrava os quadros dirigentes na política, na administração, na religião.

Agora, neste INÍCIO foi assim, a literatura engatinhava como atividade grupal. Os grupos ainda eram homogêneos pela falta de expoentes que se libertassem dos valores dominantes e criassem estilos individuais que só quando somados formariam o aspecto grupal. Isso começará a ocorrer, paulatinamente, como bem explicitou Peterson, construindo, ironicamente, uma idéia de emancipação política, e, sobretudo, de emancipação econômica de Portugal.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins

Editora Martins, 1971:
DE: p. 77: “O ambiente para a produção literária nos meados do século...”
ATÉ: p. 80: “...Pela primeira vez bruxuleou uma vaga consciência de integração
intelectual no Brasil”.


CAPÍTULO II
Transição Literária

1 Literatura Congregada

Neste segundo capítulo intitulado Transição Literária teremos o percurso traçado pela literatura colonial em seu processo de amadurecimento que culminará na literatura nacional desenhada mais solidamente no Romantismo. O primeiro tópico, Literatura Congregada, de que fiquei responsável, trata dos primeiros passos na organização literária brasileira e da função primordial que as arcádias literárias exerceram nesse importante papel de organização não apenas dos produtores, mas também na construção da crítica e do embrião de um mercado consumidor da produção literária que ainda era um autopúblico. Nas importantes funções dessas agremiações literárias que floresceram, sobretudo, na região das Minas Gerais, tal como aponta Antonio Candido, teremos uma certa abertura social na participação delas, embora a exclusão de negros ainda fosse algo marcante na maioria de tais agrupamentos, excetuando a Academia dos Renascidos.



Voltando um pouco ao início do texto é interessante percebermos como essas agremiações literárias coloniais, fortemente influenciadas pela ideologia e princípios da metrópole lusitana, irão, paulatinamente, construindo uma idéia de emancipação política, e, sobretudo, de emancipação econômica de Portugal, influenciadas, ironicamente, pelos mesmos princípios ilustrados pelos quais tanto simpatizava o Marquês de Pombal.


O contexto do Brasil do século XVIII não era dos mais estimulantes, pois até mesmo em períodos anteriores os grandes produtores do barroco literário brasileiro, para terem um certo reconhecimento deveriam obter aprovação na metrópole portuguesa – o que funcionava como um grande poder censurador. Assim, nesse período tivemos a proliferação (de acordo com Candido) de uma subliteratura, graças a essas agremiações literárias (denominadas arcádias ou academias) que irão surgir mesmo bem antes do Arcadismo (pois na fase final do Cultismo barroquiano já se havia iniciado uma associação de produtores literários e intelectuais).


Dentre esses tipos de agremiações literárias, Candido aponta três tipos: permanentes, temporárias e ocasionais. As primeiras, portanto, teriam um caráter mais duradouro, pois se propunham a ser associações culturais, enquanto que as outras duas eram criadas por ocasião de comemorações. Dentre as que tiveram importante papel no amadurecimento literário temos as do primeiro tipo, onde se enquadram: a Academia dos Renascidos em Salvador (que teve um caráter mais popular, inclusive com associação de negros e membros de categorias profissionais desprivilegiadas); a Academia Científica no Rio de Janeiro (fundada, inicialmente, com o intuito de subsidiar o Reino quanto a melhor forma de explorar a colônia, mas que irá extrapolar sua função e se tornará um importante centro educador e formador de homens de ciência); e a Sociedade Literária, também na cidade do Rio de Janeiro, que segundo Candido não era “mais uma Academia: incorporando ao espírito associativo às diretrizes da Ilustração, é um meio caminho para os grêmios liberais de caráter quase sempre maçônico...”.


Prosseguindo em nossas reflexões, percebi que quando relacionamos as observações de Bosi em sua História Concisa da Literatura Brasileira ao trecho em que fala da Arcádia e da Ilustração a química que agitava essas congregações brasileiras fica mais clara. [vejam p. 55-59, 1997].



De tudo isso, pude concluir que foi a partir dessa congregação literária que o delineamento ideológico ilustrado começou a ser construído em um movimento emancipatório que, a princípio, foi despretencioso, pois os inconfidentes, no início, só queriam impedir a Derrama; e muitos (inclusive o nosso Tiradentes) eram contrários à abolição da escravidão, tal como apontam estudos históricos mais recentes. Mas com a disseminação das associações culturais que congregaram os intelectuais e representantes do povo, foi possível redesenhar o sonho da nação brasileira. Isso tudo me faz lembrar aquela música do Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawai): “sem querer eles nos deram as chaves que abrem essas prisões”.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna [14-3-2009]

Belo Horizonte: Itatiaia , 2000. p. 66 - 69


Cap. I, 5: A presença do Ocidente


Antonio Candido lembra que no século XVIII, além da centralidade da razão, a naturalidade, presente em dois aspectos, formalismo e sentimentalismo, representou um ponto essencial da expressão literária, tendo encontrado a sua máxima realização no equilíbrio entre estes dois elementos através das obras de Basílio da Gama, Silva Alvarenga e Gonzaga.

Nesses escritores o encontro espontâneo da razão e do sentimento levou a um resultado satisfatório, assegurando “uma tonalidade universal e artisticamente elaborada à expressão literária”.

No Brasil, em razão de sua condição “periférica”, é preciso indicar a influência do Arcadismo – o qual, lembre-se, abrange tanto o Classicismo como a Ilustração – como também evidenciar que ele constituiu uma literatura capaz de incorporar-se à cultura do Ocidente.

Entre 1750 e 1880 quatro grandes temas nortearam a formação da literatura brasileira, junto a uma progressiva formação da consciência nacional: o conhecimento da realidade local; a valorização das populações aborígines; o desejo de contribuir para o progresso do país; a incorporação aos padrões europeus. Dentro dessas linhas a literatura da época se expressará, comprovando as suas peculiaridades.

Tudo isso representa uma pessoal leitura estético-filosófica da tradição européia no Brasil, leitura que fez com que se criasse – finalmente – uma literatura brasileira orgânica, transformando, por exemplo, o racionalismo em filantropia, a moda pastoril em valorização do índio e o culto da natureza em exaltação do pitoresco.

Escritores como “os mineiros”, Sousa Caldas, José Bonifácio, Hipólito da Costa, favoreceram o nascimento da literatura brasileira e conseguiram fazê-lo, em muitos casos, com aprazível gosto estético e consciência intelectual da própria missão.

Ferdinand Denis Garrett, em seu Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa, de 1826, critica a “inútil presença” da influência cultural grego-romana na produção desses escritores. Num trecho dessa obra citado por Candido, afirma que os árcades não conseguiram ser originais, mesmo tendo à disposição um novo cenário para se inspirarem: o Brasil. Falando especificadamente de Gonzaga, diz que este não soube descrever a natureza peculiar do Brasil e, portanto, não alcançou uma verdadeira autonomia.

Antonio Candido, lembrando que dessa forma surgiu a teoria da literatura brasileira, onde a análise do brasileirismo representa, até hoje, o critério principal, evidencia – em contraponto à análise de Denis Garrett – que o cenário americano nunca seria suficiente para proporcionar essa autonomia e que somente uma pessoal visão do mundo, que “transforma a natureza física numa vivência”, poderia alcançá-la. Como exemplo, Candido releva que Silva Alvarenga, apesar de ter usado palavras como onça, gaturamo, cobra ou mangueira, continua sendo esteticamente neoclássico. Pelo contrário, Tomás Gonzaga, que não usa uma terminologia “americana”, é mais romântico porque “sofre o processo de decomposição do Neoclassicismo”.

Candido afirma que essa tão desprezada “quinquilharia grego-romana” pode ter favorecido a integração cultural entre o Brasil e o Velho Mundo, permitindo aos poetas lusófonos, através da imitação da Antiguidade, associar uma peculiar categoria estética à própria produção literária.

Já que a época exigia uma literatura universalista, os escritores conseguiram essa universalidade através da presença de uma linguagem comum à cultura européia, realizando os votos do intelectual brasileiro, expresso nos versos de Cláudio:
Cresçam do pátrio rio à margem fria
A imarcescível hera, o verde louro

sexta-feira, 6 de março de 2009

Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros [6-3-2009]


Editora Martins, 1971:
DE: p. 67: Razão, verdade, natureza são portanto uma coisa só
ATÉ: p. 70: cultura orientada pela razão, a verdade e o culto da natureza.




Vimos na passagem anterior, apresentada pelo Marcel, a equação beleza = razão – verdade – natureza. A tríade se dá como uma unidade inter-relacionada, já que a razão está na natureza e entre elas está a verdade, que cabe à arte obter pela síntese singela em busca da beleza. Esse padrão chega ao século XVIII, sob influência do Classicismo francês, quando a tendência pelo verdadeiro terá da mimesis [a condição da arte] uma expectiva de fidelidade e não de invenção, assim como o sentido da arte estará voltado para a sinceridade das emoções e dos problemas intelectuais e políticos em oposição à sua função de deleite estético.


De Leopardi a Rousseau, da tipologia política de Montesquieu ao elogio de Voltaire a Pope, encontraremos a tríade de simplificação racional, que dará à literatura o sentido da utilidade e dos temas filosóficos. Daí a busca do verdadeiro envolver também a verdade científica e social nas propostas neoclássicas, que cobrarão, em seu nome, também a adequação da sociedade civil aos fins da razão. É o que traduz a Henriade [a epopéia de Voltaire] quando
em seu “asseio lapidar”, como diz Antonio Candido, pede aos reis que escutem e sejam educados pela força e clareza da Verdade, a substituta dos heróis e dos grandes feitos épicos.



Se o homem é extensão da natureza, as leis sociais terão portanto igual possibilidade de objetivação — o que favorece o embrião das ciências humanas no século XVIII e da idéia de progresso, configurada desde quando a revolução teórica de Montesquieu indicou que, pelo conhecimento adequado das leis objetivas da vida social, a humanidade poderia modificar-se no rumo de uma melhoria gradual.


A nossa Ilustração


Ao contrário dos países modelos, o Século das Luzes entre Brasil e Portugal foi tacanhamente beato, escolástico e inquisitorial. Mas ainda que discutível, a presença entre nós do despotismo esclarecido de Pombal foi progressista, desarticulando o poder clerical, como no caso da Companhia de Jesus, e promovendo de algum modo uma renovação mental, em que se pode ver na produção poética de seu período, por trás da intenção adulatória a sua figura, a concepção ilustrada do que seria um bom governo, revelando, na atmosfera difusa de nosso ambiente intelectual, um composto de Ilustração, pombalismo e nativismo, que permitiu aos brasileiros produzirem as expressões mais significativas do pombalismo literário: o Uraguai (1769) de Basílio da Gama (antijesuítico); O desertor (1771) de Silva Alvarenga (pela reforma intelectual); O reino da estupidez (1785) de Francisco de Melo Franco (contra a reação no tempo de D. Maria I).




Junto a outras obras, estas representam o eco brasileiro, luso-brasileiro, das idéias modernas, formando o cadinho ideológico de nativismo, da propaganda do saber, do bom governo e do otimismo utópico, à Rousseau, em que uma mistura de sonho e realidade espera pela educação do homem natural das florestas americanas, criando desde aí uma constante em nosso intelectual: o plano salvador.



Na verdade, somente com a vinda de D. João VI, o Brasil teve modestamente a sua Época das Luzes, com as bases da Independência sendo formadas a partir de uma dinâmica de entrosamento governamental e intelectual. Se a poesia do período foi de qualidade inferior, por outro lado, respondiam às tendências didáticas da Ilustração o jornalismo e o ensaísmo excelentes de Hipólito da Costa, Frei Caneca, Evaristo da Veiga, pensadores liberais que ao lado de “realistas”, conservadores igualmente ilustrados e progressistas, elaboraram os diagnósticos do país e os meios para que uma literatura efetivamente brasileira tomasse corpo. O cristianismo e a filantropia professados por José Bonifácio não eram mais clericalismo, mas a cultura de maçons, com ou sem batina, voltada à razão, à verdade e à natureza, que Pedro II e os jovens românticos a seguir iriam herdar.