sábado, 15 de novembro de 2008

Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Lígia Mychelle de Melo [15-11-2008]


9ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.
DE: p. 50: "Além desta garantia de excelência do modelo, a Antiguidade"...
[continuação de Busca de Comunicação, do cap 2 Razão e imitação]
ATÉ: p. 54: ..." por vínculo muito mais poderoso, inelutável na sua força
unificadora."
[início do Cap. 3 Natureza e Rusticidade]


A antiguidade, de acordo com Candido, oferecia também, além da garantia de excelência do modelo – que é orgulho do escritos neoclássicos –, outros apoios à teoria arcádica. Um desses apoios era o recurso da despersonalização do lirismo, graças à utilização de temas e personagens antigos (como o mito, a lenda e a história antiga), elementos da linguagem universal, como veículo da emoção. Outro apoio, oferecido pela antiguidade, era a solução de problemas da forma. A adoção de gêneros e espécies tradicionais atenua o arbítrio do autor e permite criar pontos de referência para o homem medianamente culto, propiciando e reforçando a comunicabilidade (um dos alvos do Arcadismo).



A imitação e as regras da retórica, embora tenham sido adotadas para que houvesse comunicação entre os homens, trazem, como conseqüência, a perda da capacidade de observar diretamente a vida e a visão superficial da natureza exterior e da própria natureza humana: “Note-se que a paisagem civilizada, racionalizada, da literatura arcádica é, principalmente, um escorço de paisagem da superfície da terra: árvores, prados, flores, regatos, e os animais pacíficos que nela repousam” (p.51). Candido chama a atenção para o fato de os árcades não terem sentido a magia do mar e do ar (que, posteriormente, foram povoados de magia e de mistério pelos românticos). Em outras palavras: a preocupação exacerbada com o equilíbrio e com o padrão universal acaba “excluindo” as particularidades e gerando um distanciamento do autor em relação ao que está sendo descrito e é isso que dá ao texto poético um caráter estático, superficial e sem graça. O mesmo acontece quando se trata da imitação da vida interior: “Mais do que nunca, é o tempo da psicologia do adulto, branco, civilizado e normal – à qual se procura reduzir a do próprio primitivo, do homem em estado da natureza, que era o padrão. Assim como não se desce aos subterrâneos da terra, não se baixa também aos dos espíritos” (p.52).





Capítulo 3: Natureza e rusticidade


De acordo com Antonio Candido, pode-se dizer que há em literatura três atitudes estéticas possíveis. A primeira delas é quando a palavra é considerada algo maior que a natureza, capaz de sobrepor-lhe as suas formas próprias. Trata-se de uma atitude da estética barroca. A segunda atitude é quando a palavra é considerada menor que a natureza, sendo incapaz de exprimi-la, abordando-a por tentativas fragmentárias: é o caso do Romantismo. E, por fim, há uma atitude estética em que a palavra é considerada equivalente à natureza, capaz de criar um mundo de formas ideais que exprimam objetivamente o mundo das formas naturais. Esse é ao caso do Classicismo.


Na atitude estética do Classicismo há um esforço de equilíbrio. Este é fundamentado no pressuposto de que as formas elaboradas pela inteligência se regem por leis equivalentes às leis da natureza. O belo para os clássicos, aponta Candido, está ligado à idéia de natural, de ser fiel à natureza. No entanto, essa fidelidade trouxe aos cultores da razão conseqüências imprevistas e deu lugar a combinações mais complexas. A complexidade foi, provavelmente, a característica fundamental do século XVIII, principalmente na França e na Inglaterra. Nesses dois países, o século XVIII é considerado de transição, no qual conviviam, lado a lado, blocos do passado (como o racionalismo e o conceito de que o homem nasce com certas idéias inatas) e traços característicos do século futuro (como o empirismo e a idéia de que a mente é um quadro em branco sobre o qual o conhecimento vai sendo gravado).


A chave para a compreensão das principais manifestações literárias do século XVIII deve ser buscada no tipo de racionalismo que o caracterizou. Diferentemente da razão lógica, cartesiana, de Descartes do século XVII, que se exprimia na vida social do espírito pelo senso das conveniências, o novo racionalismo setecentista – contemporâneo do empirismo e da física de Newton – é o mesmo que transparece na ordenação do mundo natural, na qual a atividade do espírito obedece a uma lei geral, que é a própria razão do universo, “unida à natureza por vínculo muito mais poderoso, inelutável na sua força unificadora”.