sábado, 29 de novembro de 2008

Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro [29-11-2008]




Editora Martins, 1971:
DE: p. 62: "A poesia pastoral, como tema, talvez esteja vinculada ao
desenvolvimento"...
[parágrafo iniciando-se no final da página de "Bucolismo"]
ATÉ: p. 66: ..."Mas a verdade é a natureza:
La nature est vrai..."
[primeira página do Cap 4 Verdade e ilustração]




Dando continuidade à análise sobre o bucolismo presente na poesia árcade, Antonio Candido observa que a temática associada à paisagem natural, à vida no campo serve como um contrapeso à cultura urbana que cada vez mais se desenvolve nas cidades do século XVIII. Desse modo, o campo surge, na poesia, representando um ideal de simplicidade e felicidade que não pode ser encontrado na vivência urbana.


Na poesia bucólica, a crítica literária comumente aponta o convencionalismo arcádico como uma característica que a pode tornar menos valorosa, pois, o poeta árcade, como destaca Candido, delega a um pastor fictício a iniciativa lírica. A temática amorosa, portanto, recebe uma abordagem mais lúcida e menos emocional, porque, além das questões estéticas e ideológicas do momento histórico, é latente o fingimento do poeta.


A dicotomia campo-cidade, pastor-poeta acentua ainda mais o convencionalismo da poesia árcade, gerando debates sobre como deveria ser a verdadeira forma a ser adotada na expressão poética: o poema deveria abordar temática extremamente campestre com palavras simples ao alcance de pastores reais ou o poema deveria ser requintado verbalmente trazendo como pano de fundo a relação entre homem e a natureza?


O debate mencionado conduz a uma conceituação do gênero écloga, que deve buscar a simplicidade pautada no gosto e na razão, possibilitando, por suas características, a expressão racional de ideais universais.


No Brasil, a poesia pastoral permitiu ao intelectual brasileiro de formação européia justificar o seu modo de atuação em um país ainda sem a tradição erudita do velho mundo. O contraste entre a personalidade rústica do pastor e a roupagem clássica da poesia árcade serviu para indicar o “descompasso” entre a cultura universal com raízes européias e a cultura local, quase selvagem do mundo “recém-descoberto”. Da reinterpretação desse contraste, surgiu a vertente indianista com Basílio da Gama e Frei de Santa Rita Durão.




Verdade e ilustração



A arte não é uma simples reprodução do real, pois, guiada pela razão, a obra artística consegue apreender a verdade ideal. Por isso, por meio da arte pode-se chegar à categoria estética do belo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros [22-11-2008]



Editora Martins, 1971:
DE: p. 58: "Deístas, céticos, ateus; materialistas, empiricistas, sensualistas,"...

ATÉ: p. 62: ..."imagens pastorais, como Garção, Gonzaga, Silva Alvarenga."
[do subitem Bucolismo do Cap 3 Natureza e rusticidade]


Capítulo I – Razão, natureza, verdade
Item 3 – Natureza e rusticidade




A dialética do natural e do racional persiste no comportamento setecentista, embora se perceba que o século XVIII tenha sido um período de transição. A percepção do eu e do outro como representações da existência pessoal mas também do mundo exterior combinava com a revolução que ressaltava o sentimento e estava implícita no empirismo por meio da literatura de Rousseau. E isso demonstrava já a prevalência da magia sobre a simetria matemática, não significando, contudo, a mudança total de paradigmas, mas o fortalecimento do conceito de Natureza, da valorização da emoção, da leitura em voz alta, do recitador enfim, do sentimento do interlocutor, como já frisara Antonio Candido. Fazendo-se uma breve divagação, basta lembrar da multiplicação dos salões de leitura na França do século XVIII, em pleno Antigo Regime que ao proibir uma série de publicações excitava mais ainda a subversão dos leitores. Nesse mesmo contexto, para a valorização da natureza e da rusticidade pode ser representativo o interesse das elites urbanas pela cultura camponesa.


No Brasil, destaca Antonio Candido, a respeito de Silva Alvarenga, tem-se a mera transcrição do preceito horaciano segundo o qual o poeta deveria estar comovido para poder comover. Esse mesmo pensamento também fora defendido, na música, por Emmanuel Bach.


Essa exaltação da sensibilidade como condição na poesia árcade tornou difícil de ser combinada, na obra de Gonzaga, com os elementos racionais. Mesmo assim, a obra de Gonzaga produziu momentos de plenitude da naturalidade, do homem natural com algumas características do seu padrão ideal, embora sua invocação na literatura fosse influenciada por circunstâncias históricas e ideológicas.


O homem natural


O homem natural tornou-se a representação da bondade, tornou-se o herói destituído do caráter humano da urbanidade e da arquitetura apresentada pelo barroco e pelos sistemas monárquicos. Diferentemente disso, ele representa a contemplação da naturalidade das maneiras e dos sentimentos e a assimilação disso pelo social. O equilíbrio entre a forma e o conteúdo é ao mesmo tempo preenchido pela linguagem do coração e da inteligência.


Grande parte da literatura dessa época se empenha na construção de um ideal que defende o homem natural imbuído dos embates culturais envolvendo o erudito e o popular (se é possível interpretar assim), pois era exigido dele a simultaneidade da razão e da emoção, do simples e do requintado, do rústico e do erudito, do polido e do espontâneo. Inclusive, a este último aspecto (considerado a negação da racionalidade) foi conduzido o ideal de naturalidade, depois que o pensamento setecentista ressaltou a identidade do racional e do natural, rompendo o equilíbrio clássico e instalando a lógica do coração e a dicotomia entre sentimentos espontâneos e a razão raciocinante. No contexto geral, menos no Brasil e em Portugal, a razão raciocinante foi dissolvida – como instância superior na criação literária – com a chegada do Romantismo.


Bucolismo


Por fim, na continuidade das manifestações da naturalidade, ao aspecto do homem natural foi acrescentada a ênfase nos gêneros pastorais, que juntava a tradição clássica com relações humanas simples, sendo interpretada, porém, por normas racionais. Assim, o projeto árcade segue no cumprimento de sua atitude estética de tornar equivalentes a palavra e a natureza, substitui a idéia de progresso pela noção de homem natural, acolhendo a utopia em detrimento da nostalgia.