sábado, 29 de novembro de 2008

Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro [29-11-2008]




Editora Martins, 1971:
DE: p. 62: "A poesia pastoral, como tema, talvez esteja vinculada ao
desenvolvimento"...
[parágrafo iniciando-se no final da página de "Bucolismo"]
ATÉ: p. 66: ..."Mas a verdade é a natureza:
La nature est vrai..."
[primeira página do Cap 4 Verdade e ilustração]




Dando continuidade à análise sobre o bucolismo presente na poesia árcade, Antonio Candido observa que a temática associada à paisagem natural, à vida no campo serve como um contrapeso à cultura urbana que cada vez mais se desenvolve nas cidades do século XVIII. Desse modo, o campo surge, na poesia, representando um ideal de simplicidade e felicidade que não pode ser encontrado na vivência urbana.


Na poesia bucólica, a crítica literária comumente aponta o convencionalismo arcádico como uma característica que a pode tornar menos valorosa, pois, o poeta árcade, como destaca Candido, delega a um pastor fictício a iniciativa lírica. A temática amorosa, portanto, recebe uma abordagem mais lúcida e menos emocional, porque, além das questões estéticas e ideológicas do momento histórico, é latente o fingimento do poeta.


A dicotomia campo-cidade, pastor-poeta acentua ainda mais o convencionalismo da poesia árcade, gerando debates sobre como deveria ser a verdadeira forma a ser adotada na expressão poética: o poema deveria abordar temática extremamente campestre com palavras simples ao alcance de pastores reais ou o poema deveria ser requintado verbalmente trazendo como pano de fundo a relação entre homem e a natureza?


O debate mencionado conduz a uma conceituação do gênero écloga, que deve buscar a simplicidade pautada no gosto e na razão, possibilitando, por suas características, a expressão racional de ideais universais.


No Brasil, a poesia pastoral permitiu ao intelectual brasileiro de formação européia justificar o seu modo de atuação em um país ainda sem a tradição erudita do velho mundo. O contraste entre a personalidade rústica do pastor e a roupagem clássica da poesia árcade serviu para indicar o “descompasso” entre a cultura universal com raízes européias e a cultura local, quase selvagem do mundo “recém-descoberto”. Da reinterpretação desse contraste, surgiu a vertente indianista com Basílio da Gama e Frei de Santa Rita Durão.




Verdade e ilustração



A arte não é uma simples reprodução do real, pois, guiada pela razão, a obra artística consegue apreender a verdade ideal. Por isso, por meio da arte pode-se chegar à categoria estética do belo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros [22-11-2008]



Editora Martins, 1971:
DE: p. 58: "Deístas, céticos, ateus; materialistas, empiricistas, sensualistas,"...

ATÉ: p. 62: ..."imagens pastorais, como Garção, Gonzaga, Silva Alvarenga."
[do subitem Bucolismo do Cap 3 Natureza e rusticidade]


Capítulo I – Razão, natureza, verdade
Item 3 – Natureza e rusticidade




A dialética do natural e do racional persiste no comportamento setecentista, embora se perceba que o século XVIII tenha sido um período de transição. A percepção do eu e do outro como representações da existência pessoal mas também do mundo exterior combinava com a revolução que ressaltava o sentimento e estava implícita no empirismo por meio da literatura de Rousseau. E isso demonstrava já a prevalência da magia sobre a simetria matemática, não significando, contudo, a mudança total de paradigmas, mas o fortalecimento do conceito de Natureza, da valorização da emoção, da leitura em voz alta, do recitador enfim, do sentimento do interlocutor, como já frisara Antonio Candido. Fazendo-se uma breve divagação, basta lembrar da multiplicação dos salões de leitura na França do século XVIII, em pleno Antigo Regime que ao proibir uma série de publicações excitava mais ainda a subversão dos leitores. Nesse mesmo contexto, para a valorização da natureza e da rusticidade pode ser representativo o interesse das elites urbanas pela cultura camponesa.


No Brasil, destaca Antonio Candido, a respeito de Silva Alvarenga, tem-se a mera transcrição do preceito horaciano segundo o qual o poeta deveria estar comovido para poder comover. Esse mesmo pensamento também fora defendido, na música, por Emmanuel Bach.


Essa exaltação da sensibilidade como condição na poesia árcade tornou difícil de ser combinada, na obra de Gonzaga, com os elementos racionais. Mesmo assim, a obra de Gonzaga produziu momentos de plenitude da naturalidade, do homem natural com algumas características do seu padrão ideal, embora sua invocação na literatura fosse influenciada por circunstâncias históricas e ideológicas.


O homem natural


O homem natural tornou-se a representação da bondade, tornou-se o herói destituído do caráter humano da urbanidade e da arquitetura apresentada pelo barroco e pelos sistemas monárquicos. Diferentemente disso, ele representa a contemplação da naturalidade das maneiras e dos sentimentos e a assimilação disso pelo social. O equilíbrio entre a forma e o conteúdo é ao mesmo tempo preenchido pela linguagem do coração e da inteligência.


Grande parte da literatura dessa época se empenha na construção de um ideal que defende o homem natural imbuído dos embates culturais envolvendo o erudito e o popular (se é possível interpretar assim), pois era exigido dele a simultaneidade da razão e da emoção, do simples e do requintado, do rústico e do erudito, do polido e do espontâneo. Inclusive, a este último aspecto (considerado a negação da racionalidade) foi conduzido o ideal de naturalidade, depois que o pensamento setecentista ressaltou a identidade do racional e do natural, rompendo o equilíbrio clássico e instalando a lógica do coração e a dicotomia entre sentimentos espontâneos e a razão raciocinante. No contexto geral, menos no Brasil e em Portugal, a razão raciocinante foi dissolvida – como instância superior na criação literária – com a chegada do Romantismo.


Bucolismo


Por fim, na continuidade das manifestações da naturalidade, ao aspecto do homem natural foi acrescentada a ênfase nos gêneros pastorais, que juntava a tradição clássica com relações humanas simples, sendo interpretada, porém, por normas racionais. Assim, o projeto árcade segue no cumprimento de sua atitude estética de tornar equivalentes a palavra e a natureza, substitui a idéia de progresso pela noção de homem natural, acolhendo a utopia em detrimento da nostalgia.

sábado, 15 de novembro de 2008

Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Lígia Mychelle de Melo [15-11-2008]


9ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.
DE: p. 50: "Além desta garantia de excelência do modelo, a Antiguidade"...
[continuação de Busca de Comunicação, do cap 2 Razão e imitação]
ATÉ: p. 54: ..." por vínculo muito mais poderoso, inelutável na sua força
unificadora."
[início do Cap. 3 Natureza e Rusticidade]


A antiguidade, de acordo com Candido, oferecia também, além da garantia de excelência do modelo – que é orgulho do escritos neoclássicos –, outros apoios à teoria arcádica. Um desses apoios era o recurso da despersonalização do lirismo, graças à utilização de temas e personagens antigos (como o mito, a lenda e a história antiga), elementos da linguagem universal, como veículo da emoção. Outro apoio, oferecido pela antiguidade, era a solução de problemas da forma. A adoção de gêneros e espécies tradicionais atenua o arbítrio do autor e permite criar pontos de referência para o homem medianamente culto, propiciando e reforçando a comunicabilidade (um dos alvos do Arcadismo).



A imitação e as regras da retórica, embora tenham sido adotadas para que houvesse comunicação entre os homens, trazem, como conseqüência, a perda da capacidade de observar diretamente a vida e a visão superficial da natureza exterior e da própria natureza humana: “Note-se que a paisagem civilizada, racionalizada, da literatura arcádica é, principalmente, um escorço de paisagem da superfície da terra: árvores, prados, flores, regatos, e os animais pacíficos que nela repousam” (p.51). Candido chama a atenção para o fato de os árcades não terem sentido a magia do mar e do ar (que, posteriormente, foram povoados de magia e de mistério pelos românticos). Em outras palavras: a preocupação exacerbada com o equilíbrio e com o padrão universal acaba “excluindo” as particularidades e gerando um distanciamento do autor em relação ao que está sendo descrito e é isso que dá ao texto poético um caráter estático, superficial e sem graça. O mesmo acontece quando se trata da imitação da vida interior: “Mais do que nunca, é o tempo da psicologia do adulto, branco, civilizado e normal – à qual se procura reduzir a do próprio primitivo, do homem em estado da natureza, que era o padrão. Assim como não se desce aos subterrâneos da terra, não se baixa também aos dos espíritos” (p.52).





Capítulo 3: Natureza e rusticidade


De acordo com Antonio Candido, pode-se dizer que há em literatura três atitudes estéticas possíveis. A primeira delas é quando a palavra é considerada algo maior que a natureza, capaz de sobrepor-lhe as suas formas próprias. Trata-se de uma atitude da estética barroca. A segunda atitude é quando a palavra é considerada menor que a natureza, sendo incapaz de exprimi-la, abordando-a por tentativas fragmentárias: é o caso do Romantismo. E, por fim, há uma atitude estética em que a palavra é considerada equivalente à natureza, capaz de criar um mundo de formas ideais que exprimam objetivamente o mundo das formas naturais. Esse é ao caso do Classicismo.


Na atitude estética do Classicismo há um esforço de equilíbrio. Este é fundamentado no pressuposto de que as formas elaboradas pela inteligência se regem por leis equivalentes às leis da natureza. O belo para os clássicos, aponta Candido, está ligado à idéia de natural, de ser fiel à natureza. No entanto, essa fidelidade trouxe aos cultores da razão conseqüências imprevistas e deu lugar a combinações mais complexas. A complexidade foi, provavelmente, a característica fundamental do século XVIII, principalmente na França e na Inglaterra. Nesses dois países, o século XVIII é considerado de transição, no qual conviviam, lado a lado, blocos do passado (como o racionalismo e o conceito de que o homem nasce com certas idéias inatas) e traços característicos do século futuro (como o empirismo e a idéia de que a mente é um quadro em branco sobre o qual o conhecimento vai sendo gravado).


A chave para a compreensão das principais manifestações literárias do século XVIII deve ser buscada no tipo de racionalismo que o caracterizou. Diferentemente da razão lógica, cartesiana, de Descartes do século XVII, que se exprimia na vida social do espírito pelo senso das conveniências, o novo racionalismo setecentista – contemporâneo do empirismo e da física de Newton – é o mesmo que transparece na ordenação do mundo natural, na qual a atividade do espírito obedece a uma lei geral, que é a própria razão do universo, “unida à natureza por vínculo muito mais poderoso, inelutável na sua força unificadora”.

sábado, 8 de novembro de 2008

Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães [08-11-2008]



6ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.

DE: p. 50 – “Para ele a poesia não era puro deleite (e, portanto, coisa somenos)”...
[segunda página do subitem Cândido Lusitano, do cap. 2 Razão e imitação]

ATÉ: p. 54 – ... “obras é prova segura e infalível de que elas devem ser admiradas”.



Como já indicou Joana na leitura anterior à minha, Candido observa que a contribuição teórica de Francisco José Freire [Cândido Lusitano] posicionou-se em relação à própria importância e função da poesia: ou esta é relevante e merece atenção, ou ela é secundária, podendo, por isso, ser desconsiderada. No interior desse problema, Freire, justificando o trabalho poético, considera que a poesia serve também para edificar o homem, sendo, portanto, “útil ao progresso moral”.



Contudo, Freire aponta não só o caráter instrutivo da poesia, mas também salienta o elemento arrebatador, “o furor poético”, demonstrando uma compreensão e sensibilidade mais apurada, fruto da influência do arcadismo italiano, marcado pela doçura e musicalidade que suavizou o peso didático e racionalista da Ilustração. Todavia, Candido ressalva que o elemento imaginativo não se deve à inspiração gratuita, mas ao trabalho do poeta, enquanto artífice. O deleite do leitor dependerá da novidade, vinculada à beleza e a doçura, trazida pela matéria poética. A beleza configura-se na forma racional, enquanto que a doçura refere-se ao elemento afetivo, capaz de mover o ânimo do leitor.



Dessa maneira, Freire ao vincular a imaginação ao labor artístico enfatiza menos a liberdade do que o domínio e o controle sobre o poético. Ao defender que o “próprio vôo poético deve ser usado com moderação e sem perda da tonalidade racional do poema”, o autor enquadra a sensibilidade e a fantasia no contexto racional, cerceando o espaço que concedeu a esses elementos.



Um aspecto fundamental, para Freire, corresponde à verossimilhança da poesia, na qual a obra teria sua utilidade e seu deleite assegurados. Para o tratadista, o verossímil não se refere, fundamentalmente, à fantasia, mas à aproximação com o verdadeiro objetivamente constatado. Vemos, por conseguinte, que a criação não é concebida como arbítrio, entendimento pouco provável para um neoclássico, mas há um esforço de equilibrar linguagem e realidade, desencadeando uma expressão moderada que atende à verdade poética, composta de “perfeições reais, não de desconcertos, ou ilusões aéreas”.



Candido finaliza indicando a verossimilhança, na acepção definida por Freire, como critério de validade da poesia arcádica. Assim, por um lado, a obra deveria aproximar-se da natureza das coisas, possuindo uma imaginação fiel à razão; por outro, ela deveria apresentar uma linguagem racional, fruto da instrução e da inteligência do poeta.




Busca da Comunicação


Nesse item, Candido aponta que um critério útil para a diferenciação dos períodos e das escolas diz respeito à destinação pública da literatura. Em sua visão, o escritor árcade prefigura um público de salão, pois suas obras desejam ser instrumento de comunicação entre os homens. O Arcadismo, pois, é consciência de integração: as obras se ajustam ao espaço natural, social e literário, decorrendo daí a estética da imitação, pois o poeta tenta reproduzir não somente a realidade, mas também os modelos literários dos autores da Antiguidade, estes tomados como paradigmas, cuja conformidade é digna de orgulho, já que a antiga e constante admiração pelas obras dos antigos é prova infalível do mérito estético desses textos.



Esse processo mimético favorecia a inteligibilidade da obra haja vista que, para o leitor com boa formação humanística, as referências que o poema agencia são conhecidas, pois elas já são relativamente dadas pelo âmbito social, estético e cultural. Assim, os escritores não apresentavam nas obras casos particulares ou a condição individual do homem, mas devotava seu interesse para as situações e emoções genéricas. Não raro, o poeta, no exercício do verso, recorria às grandes circunstâncias da vida, à convenção bucólica, às situações e sentimentos da mitologia e da história greco-latina, preferindo, assim, o universal ao particular.



Candido pondera que, para o gosto atual, na literatura arcádica falta a individuação capaz de construir uma perspectiva que capte a experiência sob o ângulo pessoal do poeta. A partir de dois versos, tomados como exemplo, o autor acrescenta que, mesmo nas poesias mais pessoais do século XVIII, há nelas o vestígio do diálogo “a evitar uma provável solidão”.

sábado, 1 de novembro de 2008

Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
JOANA LEOPOLDINA DE MELO OLIVEIRA – [01-11-2008]


Editora Martins, 1971:
DE: p.46: Capítulo 2 - Razão e imitação
"Não esqueçamos que a idéia-força do Arcadismo português (de..."
A : p.49: "...da poética franco-italiana e intelectualismo mitigado pela fantasia."

No começo do Capítulo 2 – Razão e imitação - Antonio Candido inicia suas reflexões sobre o primeiro conceito-chave desse período. Fala para não esquecermos que a idéia-força do Arcadismo português foi polêmica porque tratava de opor e, por isso, foi um movimento eminentemente crítico. Como conseqüência, prezou-se na poesia alguns valores que eram atribuídos à prosa como ordinários: clareza, ordem lógica, simplicidade e adequação ao pensamento. Segundo Candido, esta reconquista da naturalidade dá feições clássicas ao período, pois é ligada a uma estética em que a palavra deve exprimir a ordem natural do mundo e do espírito.

Antonio Candido fala que o Arcadismo em Portugal integra um movimento amplo de renovação cultural e que homens como Verney e Ribeiro Sanches queriam introduzir na pátria o novo espírito filosófico, impregnado das orientações do racionalismo e pós-racionalismo anglo-francês. Na literatura defendiam uma poesia lógica, sem artifícios nem surpresas marcantes.


A literatura francesa precisava de um movimento exatamente oposto ao racionalismo estético. Já em outras partes, como na Itália e Portugal, esse movimento (que o autor chama de dieta magra) vinha corrigir os excessos de um século destemperado, que criou produtos excelentes, mas depois descaiu na orgia verbal. Por isso, os árcades se empenhavam nas duas penínsulas em retomar o decoro e a dignidade da expressão à prosa.


Estas idéias são o ponto de referência da teoria literária do século XVIII em quase toda a Europa. Embora fosse conhecida em Portugal nos fins do século XVII e início do XVIII, só ganham força em meados do século XVIII com o movimento da Ilustração, comandado por Verney.


Verney


Antonio Candido agora abre um subitem para falar de Verney. No seu livro Verdadeiro Método de Estudar, Verney se encontra muito próximo dos teóricos franceses posteriores a Boileau, que despoetizaram ao máximo a teoria poética, mas alguns deles também insistiram no gosto como critério de apreciação. Extremado racionalista, para ele poetar dependia de conhecer as normas da poesia e quando alguém as abandona e confia na inspiração, desanda.


Verney, como homem do seu tempo, também aceita o progresso na literatura e entende que os contemporâneos estavam mais aparelhados para escrever bem, graças à superação dos antecessores pela assimilação do seu exemplo. Enquanto essencialmente pedagogo, a poesia só lhe interessa como instrumento e exercício mental. Repudiava nela os aspectos mais livres e pessoais, para guardar os que se enquadrassem no preceito didático.


Chegou a criticar o próprio Camões, culpando-o de preciosismo nos sonetos e nos Lusíadas, dizendo sentir lacunas de instrução que enfraquecem a poesia. (Isso é brincadeira, né?!!). Por isso, Candido anota o supremo pedantismo deste homem, assim como o do século que ele exprime, cujo racionalismo tendia a um utilitarismo didático que é a própria negação da arte. Mas o nosso autor não deixa de ver nas reflexões antipoéticas de Verney um elemento justo e fecundo, pois repudiava a mania versejante do tempo, reservando o exercício do verso às vocações verdadeiras, dos que fossem capazes de escrever com lógica, naturalidade e modernidade.


Cândido Lusitano


Noutro subitem o autor fala sobre Cândido Lusitano, pseudônimo árcade usado por Francisco José Freire. Ele reequilibra a situação, defendendo que a poesia não visava o puro deleite, mas que, como as demais produções do espírito, era útil ao progresso moral. No seu livro Arte Poética, empreenderá uma conceituação mais ampla que redignifica a poesia, inserindo-a, simultaneamente, nas aspirações do tempo e na tradição clássica. Candido afirma que o seu tratado pode ser considerado pedra fundamental da poesia arcádica portuguesa, pelo seu caráter de superação do cultismo, a imitação da poética franco-italiana e o intelectualismo suavizado pela fantasia.

domingo, 26 de outubro de 2008

Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro – [25-10-2008]



Editora Hucitec, 1997:
DE: p. 38: "Ainda mais sério é o caso da influência poder assumir sentidos..."
[ainda no item 6 - Conceitos, segunda página]
A: p. 45: "... três grandes conceitos-chave mencionados: razão, natureza, verdade."
[ já entramos aqui no capítulo I, o item I, Traços gerais, inteiro, até o final]

6 - Conceitos, segunda página
Continuando com o conceito de influência, Antonio Candido explica que ela deve ser estudada de acordo com as várias formas que pode exercer numa obra. Ela pode ser apenas uma transferência que não foi trabalhada no texto e que para a crítica deve ter um valor secundário. Porém, pode ser de tal forma incorporada que passa a ser um elemento próprio e independente no texto atual, deixando de ser mero empréstimo. Nesse caso, não convém ser analisada como influência, ao contrário, deve ser vista como parte importante de um conjunto.

Esses conceitos servem para mostrar a sua base crítica no livro, que consiste em interpretar as produções literárias, buscando as coerências interna (de uma obra) e externa (de uma fase, grupo ou corrente). O termo coerência refere-se à integração de um conjunto de fatores (meio, vida, idéias, temas, imagens etc.), formando uma diretriz tomada pelo escritor, cabendo ao crítico a tentativa de descobrir e explicar essa combinação, ou seja, essa fórmula.

Com relação ao autor, a coêrencia é vista através da “personalidade literária”, que não é o perfil psicológico e pessoal, mas são as marcas afetivas, intelectuais e morais que decorrem da análise da obra, e que podem ter correspondência ou não com a vida do escritor. Em relação à fase, a coerência se manifesta através da sintonia e complementariedade entre as obras, originando o estilo. Antonio Candido, então, lembra que por isso não foi rigoroso com as determinações históricas, mas preferiu a análise temporal, sintetizando as condições de interdependência entre as obras literárias.

O crítico ainda salienta que a coerência em parte pode ser inventada pelo crítico, pois de acordo com suas preferências pessoais de intuição e investigação pode salientar um outro eixo explicativo. Daí, então, a possibilidade de vários percursos críticos - se a obra é verdadeiramente grande. Sendo assim, cada geração percebe de um modo um autor, como, por exemplo, em nossa literatura existem tantos textos críticos sobre Guimarães Rosa, Machado de Assis, Graciliano Ramos etc., que não esgotam a análise de suas obras.


Essa parte conclui que a crítica, em busca da coerência, percorre um caminho pleno de escolhas, pois sendo o texto literário múltiplo em significados, é necessário definir um percurso em que se pode relevar características e deixar outras de lado. Assim, num período, o crítico escolhe os autores que vê como mais representativos, nesses autores as obras mais significativas e que se enquadram ao seu ponto de vista e também os temas que prefere ressaltar.


Capítulo 1- Razão, natureza, verdade
1- Traços gerais

Na primeira parte do primeiro capítulo, Candido afirma que as manifestações literárias no Brasil adquirem forma de sistema através de três correntes de pensamento: Neoclassicismo, Ilustração, Arcadismo. A união dessas formas marca o período e o crítico explica que utilizará os três termos quando ressaltar determinado aspecto e que Arcadismo será o mais usado, ficando subentendido que se refere ao conjunto.

O termo Neoclassicismo pode ser utilizado em nossa literatura, pois o movimento da Arcádia Lusitana, influenciada pelas idéias de Verney, tinha por objetivo combater o Barroco e restabelecer padrões clássicos na literatura, através da imitação dos textos gregos e romanos. Antonio Candido prefere o termo Ilustração para evitar confusão com o Iluminismo místico, entendendo-se Ilustração por um conjunto de idéias do século XVIII, de origem inglesa e francesa, como exaltação da natureza, divulgação do saber, confiança no governo de possibilitar o bem comum. Também engloba as idéias filosóficas de racionalismo e empirismo e, além disso, na literatura apresenta as tendências didática e ética.

Já o termo Arcadismo é influência dos italianos que utilizavam as Arcádias, agremiações literárias contra o maneirismo. Esse termo designa melhor as características de renovação do período e engloba os outros dois aspectos, se não for limitado apenas a representação da vida pastoral. Antonio Candido afirma que um período com textos como os de Silva Alvarenga, com influência do maneirismo, não pode ser chamado Neoclássico, daí a preferência para o Arcadismo.

O século XVIII ficou desarticulado de sua tradição nos estudos literários modernos devido à revalorização do Barroco e suas reminiscências do maneirismo, deixando o aspecto clássico em segundo plano. Também devido ao conceito de pré-romantismo que realçou as origens da literatura do século XIX. Além disso, a falta de grandes nomes não deu a devida relevância ao seu estudo e que Antonio Candido propõe dar-lhe no livro.

De um modo geral, a fórmula representativa do período seria: Arcadismo = Classicismo francês + herança greco-latina + tendências setecentistas. Apesar de variar em cada país, de uma forma geral correspondem ao culto da sensibilidade, ao racionalismo e ao interesse por problemas sociais. Assim, de acordo com os estudos tradicionais, a literatura seria uma expressão racional da natureza para manifestar a verdade. A partir disso, o crítico tomará como ponto de partida os conceitos-chave razão, natureza e verdade, para continuar a investigação desse período.

domingo, 19 de outubro de 2008

Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos – [18-10-2008]

Editora Ouro sobre Azul, 2006. p.35-38

Item 5 e início do item 6 - Introdução:
DE: p. 35: "Quando nos colocamos ante uma obra, ou uma sucessão de..."
A: p. 38: "... sugestões fugazes), que por vezes sobrelevam as mais evidentes."


Item 5: Os elementos de compreensão


Candido inicia este item expondo os vários níveis de que dispomos para a compreensão de uma obra. 1º) os fatores externos – vinculam a obra ao tempo, são portanto os sociais; 2º) O fator individual – o autor; 3º) O texto. Segundo Candido, para que um livro de história literária escape à parcialidade ou à fragmentação, o autor precisa referir-se a esses três aspectos/fatores ao mesmo tempo. Entretanto, ele não descarta a possibilidade de se estudar uma obra escolhendo apenas um dos ângulos referidos, mas atenta para o fato de que aí não se estará sendo crítico, e sim sociólogo, psicólogo, lingüista etc. Vejam aí que o arsenal necessário para ser crítico não é pouca coisa, tendo em vista as exigências da tarefa.

Tendo claros esses elementos, a discussão de todo este item será em torno dos argumentos que sustentam a tese, qual seja, a de que ao se analisar uma obra, o crítico deve considerar que ela é “uma realidade autônoma” e os elementos extraliterários devem sim ser observados na medida em que auxiliam na sua interpretação. Todavia, o estudioso de literatura deve ter claro que, não sendo história, a obra literária é, antes de tudo, forma. Assim, importa descobrir como um autor encontra uma fórmula estética para plasmar a realidade. No fundo, Candido está debatendo e marcando uma posição, por um lado, em relação ao formalismo (preocupados com a estrutura interna e os aspectos lingüísticos), sem negar a sua contribuição e validade; por outro, com o sociologismo ou psicologismo (que transformam a obra literária em documentos históricos ou compêndios psicanalíticos) sem também dispensar a sua importância; em síntese, ele integra tudo com o objetivo de desvendar como se organiza a particularidade formal/estética da obra. (Eu particularmente acho isso a coisa mais difícil de se fazer. Por isso acho que muitas vezes Antonio Candido não é entendido de jeito nenhum e, contraditoriamente ao que ele advoga, ainda é tachado de fazer crítica sociológica. Eu mesma no começo achava que era isso. Depois fui ler direito e vi que era outra coisa).

Reiterando, Candido elege para o seu livro o seguinte critério: “a literatura é um conjunto de obras, não de fatores nem de autores”. Porém, a obra não se faz sem a integração destes dois últimos. O crítico demonstra ainda alguns exemplos da própria literatura brasileira para reforçar os seus argumentos e finaliza dizendo que utilizará as técnicas que considerar conveniente, “no momento exato e na medida suficiente” a fim de alcançar o entendimento da obra, que é o seu alvo principal.


Item 6: Conceitos, p. 38:


Neste item Candido irá discutir os conceitos que utilizará no livro: período, fase, momento; geração, grupo, corrente; escola, teoria, tema; fonte, influência.

O que fica claro logo numa primeira leitura desta parte é o cuidado do crítico em modalizar, se é que assim posso me expressar, os conceitos. Ou seja, ele quer escapar da rigidez que os termos por vezes evidenciam. Reconhece que usará a noção de período de forma incidental, porque quer sugerir mais certa idéia de “movimento, passagem e comunicação entre as fases, grupos e obras”; o crítico quer mostrar com isso que entre arcadismo e romantismo irá se caracterizar certa continuidade e, portanto, a noção meio separada de período quebraria em parte o seu objetivo.

Já no que se refere a gerações, considera que este termo evoca certa idéia mecânica, o que atrapalharia a perspectiva de seu estudo, que é antes de tudo longitudinal. Para isso sobrepôs ao conceito de geração o de tema, procurando observar a sua retomada através das gerações. Vê-se aí como Candido tinha claro o sistema literário, ou melhor, como o arsenal teórico-conceitual é escolhido com lupa para tecer a idéia de sistema.

Com isso se chega ao conceito de influência, que afinal vincula os escritores uns aos outros e contribui para a formação do momento literário. Trata-se, segundo Candido, de um conceito de complexo e delicado manejo para toda a crítica, isto porque é difícil distinguir coincidência, influência e plágio, sem falar que não temos como identificar se houve deliberação ou inconsciência do autor no uso da fonte de outrem.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Medeiros
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho – 11-10-2008

itens 3 e 4 da Introdução:

[Villa Rica, 9.ed, 2000]
DA p. 29 [item 3. Pressupostos]: "O fato de ser este um livro de história literária..."
A p. 32 [item 4. O terreno e as atitudes críticas]: "... desligada dos interesses fundamentais do homem."

Nessa parte introdutória, Antonio Candido toca num dado importante, o qual perpassa todo o decorrer da sua obra: a questão da literatura encontra-se atrelada à história, porque tendo em vista que a abordagem histórica traz um ponto de vista amplo que abrange as questões sociais, históricas, psicológicas, institucionais, entre outras, a literatura seguida por esse caminho amplia os horizontes de informações contidos em seus textos.
Não obstante, o estudo da literatura concomitantemente com o da história não deve ser entendido no sentido de enquadrar a literatura aos padrões formalistas e estéticos de determinada época, pois assim, tomam-se as formas de uma literatura alheia como parâmetro, subtendendo-se simplesmente a existência de grandes valores estéticos a-históricos. Mas, também, não implica dizer que a literatura deva estar presa, puramente, aos métodos investigativos da história.
A literatura, como ressalta Candido, deve, portanto, apreender cada autor na sua integridade estética, ou seja, as marcas do autor na obra, que não deve ser confundido com a biografia do autor, que é muito mais ampla e superficial no que tange ao aspecto literário. E para que isso ocorra se faz relevante a percepção do caráter histórico do texto, uma vez que a literatura estuda no seu contato com a raiz, com a sua realidade o aspecto social nas vertentes política, econômica, étnica e cultural descritos pela história.

sábado, 4 de outubro de 2008

Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Medeiros
Arandi Robson Martins Câmara (04-10-08)

CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos. 6 ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.

Da p. 24 [último parágrafo da página]: “Se desejarmos focalizar os momentos...”

A p. 28 [último parágrafo da página]: “... é permitido ressaltar este ou aquele aspecto”.


Os fragmentos de texto das páginas 24 a 28 correspondem respectivamente ao final do tópico 1- Literatura como Sistema, e o tópico 2 – Uma Literatura Empenhada. Ambos encontram-se na Introdução da obra.

Nos dois últimos parágrafos do primeiro tópico – LITERATURA COMO SISTEMA, Antonio Candido focaliza os momentos em que discerne a formação de um sistema. Trata-se de observar de quando e como se definiu uma continuidade de obras e autores, cientes de integrarem um processo de formação literária. Este fato acontece durante os séculos XVIII e XIX. Destaque para Rocha Pita e Itaparica e certos intelectuais que surgem com vontade de fazer literatura brasileira. Antonio Candido toma como ponto de partida as Academias dos Seletos e dos Renascidos e os primeiros trabalhos de Cláudio Manuel da Costa.

O autor destaca a fase árcade como o início de nossa verdadeira literatura. Neste sentido, o tema do indianismo prevalece na produção oitocentista. Candido diz que os críticos conceberam a literatura do Brasil como expressão da realidade local e, ao mesmo tempo, elemento positivo na construção nacional. Além disso, afirma que a formação da literatura brasileira é uma “história dos brasileiros no seu desejo de ter uma literatura”.

No segundo tópico – UMA LITERATURA EMPENHADA, Antonio Candido ressalta a importância de Durão, Basílio ou Caldas Barbosa como sendo os mais voltados à temática brasileira, apesar da distância, por terem residido em Portugal. Depois da Independência a tendência pelo nacionalismo se acentuou, levando a considerar a atividade literária como esforço de construção de um país livre. Esta disposição de espírito nacional, muitas vezes causou nos escritores prejuízo e desnorteio, sob o aspecto estético. O nacionalismo artístico não pode ser condenado ou louvado em abstrato, pois é fruto de condições históricas - quase imposição nos momentos em que o estado se forma e adquire fisionomia nos povos antes desprovidos de autonomia ou unidade.

Antonio Candido afirma que, neste livro, tentará mostrar o jogo dessas forças, universal e nacional, técnica e emocional, que a plasmaram como permanente mistura da tradição européia e das descobertas do Brasil. O autor cita a crítica tradicional desde Ferdinand Denis a Almeida Garrett por enfocar a idéia de que a literatura brasileira deve ser interessada, a partir dos quais tomou-se a brasilidade, isto é, a presença de elementos descritivos locais, como traço diferencial e critério de valor.

No presente livro, a atenção se volta para o início de uma literatura propriamente dita, como fenômeno da civilização, não algo necessariamente diverso da portuguesa. Elas se unem. Candido utiliza a expressão “literatura comum” (brasileira e portuguesa). Tudo depende do papel dos escritores na formação do sistema. Por fim, o livro tenta estudar nas obras não apenas o aspecto empenhado. Elas só podem ser compreendidas e explicadas na sua integridade artística, em função da qual é permitido ressaltar este ou aquele aspecto.

sábado, 27 de setembro de 2008

Antônio Medeiros
Arandi Robson Martins Camara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
_____________________________________________________________

Antônio Medeiros (27.09.08)

Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 6ª edição, 1981:

da p.17 [primeiro parágrafo da página]: "A aplicação deste critério permitiu..."
à p. 24 [último parágrafo da página terminando em]: "...quanto João de Brito e Lima pôde alcançar".



O trecho que comento abrange os três últimos parágrafos do Prefácio da 2ª edição, o breve Prefácio da 6ª edição e parte do item 1, “Literatura como sistema”, da Introdução, esta composta por seis subdivisões.


AINDA NO PREFÁCIO DA 2ª EDIÇÃO, dialogando com a recepção da 1ª edição da obra, Antonio Candido pondera o quarto pressuposto fundamental do livro – os três anteriores foram comentados por Fávero. Esse penúltimo item componente do recorte de trabalho esclarece que o período histórico-literário destacado (Arcadismo e Romantismo) é estudado como contraponto ao que até então, em meados do século passado, havia cristalizado na critica desses dois movimentos. Considera a depreciação a que ambos estiveram submetidos, ora sob a pecha de veicular “uma forma de alienação (isto é, um desvio da atividade literária)”, ora sob argumento romântico, “revigorado pelos modernistas” e também àquela época “pelos nacionalistas”, segundo o qual “os árcades fizeram [tão-somente] literatura de empréstimo, submetendo-se a critérios estranhos à nossa realidade, incapazes de imprimir a cor local”. Aqui se pode aludir a que “cor local” é expressão que lembra fortemente o texto crítico de Machado de Assis, “Notícias da atual literatura brasileira – instinto de nacionalidade”, de 1873, material útil para ampliar a discussão do tema.

Antonio Candido diverge da crítica que o antecedeu para reavaliar esse estado de coisas. Em lugar da falha, percebe o nexo. Em vez da precariedade, detecta que, associados, Arcadismo e Romantismo significaram o exercício saudável de aproximação estético-cultural brasileiro incipiente aos “padrões universais”. De outro modo, em circunstância distinta, mas conseqüente do andamento histórico, os modernistas de 1922 ecoaram essa necessidade que revela a compreensão de nossa singularidade e da juventude cultural brasileira. Antes de tudo é preciso digerir, esse é um dos sinalizadores da Antropofagia oswaldiana, por exemplo.

Para ilustrar o alcance dessa tentativa em busca da identidade nacional, Antonio Candido menciona Basílio da Gama (luso-brasileiro, autor de O Uraguai, de 1769) e Silva Alvarenga (mineiro que se radicou em Portugal, autor de Coimbra, de 1774) considerando que tais poetas contribuíram para “exprimir as particularidades do nosso universo, conseguiram elevá-las à categoria depurada dos melhores modelos”. A essa altura do Prefácio, chama a atenção do leitor o empenho didático para esclarecer, em confluência, os quatro pressupostos fundamentais do livro, a que, por fim, se ajunta o derradeiro, referido à definição da literatura brasileira como uma literatura “eminentemente interessada”. Esse pressuposto corrobora toda a argumentação dos quatro que antecederam. Ganha relevo porque expressa ser da natureza das culturas emergentes – a brasileira entre elas no conjunto das culturas latino-americanas – lançar mão do repertório geral, que, freqüentemente, se depura por contraste ou por afinidade de valores, processamento típico no curso de definição das identidades culturais.


Em relação às leituras anteriores, me aproprio do pensamento de Marcos, referido ao Prefácio da 1ª edição – “Esse prefácio pode ser considerado hoje um patrimônio da cultura brasileira” – incluindo nesse patrimônio o Prefácio da 2ª edição. E concordo com as afirmações extraídas por Fávero da leitura do Prefácio da 2ª edição, sobretudo em relação ao problema grave, dramático nas exposições de pesquisas menos atentas, de se “fetichizar a teoria”. A expressão de Fávero me fez recordar do capítulo IX, do Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, no exato instante em que, desabusabamente, Brás Cubas está saindo do delírio em que se encontrava metido, recobra a consciência ficcional e se dirige ao leitor demonstrando destreza para conciliar a necessidade do método com a habilidade do raciocínio lúdico e lúcido: “... o livro fica assim com todas as vantagens do método, sem a rigidez do método [...] que isso de método, sendo, como é, uma coisa fundamental, todavia é melhor tê-lo sem gravata nem suspensório, mas um pouco à fresca e à solta, como quem não se dá da vizinha fronteira, nem do inspetor de quarteirão”. O Prefácio da 2ª edição demonstra ao leitor – a despeito da expressão autoral de ser um “rodeio espichado”, que de espichado tem nada – o método de trabalho modelar, “sem gravata nem suspensórios”, demonstração que prenuncia o estudo do FLB sempre recomendável para se obter lições de consistência teórica e de fluência metodológica.


O BREVE PREFÁCIO DA 6ª EDIÇÃO, composto por dois parágrafos curtos, é dedicado aos esclarecimentos de ordem prática. O primeiro registra a gratidão do Autor, que credita o retorno da obra ao catálogo à “insistência cordial” de seu Editor. Lá também informa que, decorrido o tempo, a bibliografia sobre o tema do livro havia crescido substancialmente. Afirma que a nova tiragem do livro, embora merecesse revisão bibliográfica, se manteve tal qual as antecedentes. Para tanto, usa como justificação a especificidade do recorte de trabalho definidora dessa obra que, não sendo “uma justaposição de ensaios”, mas um todo orgânico, deva ter a força suficiente para “prestar algum serviço assim como está”, numa aposta feita por meio de expressão modesta.

No segundo parágrafo, Antonio Candido declara que, na contingência, havia mais de dez anos que não lia o FLB e comenta ao retomá-lo um efeito percebido na leitura, distanciada no tempo, de “sentimentalismo da escrita de alguns trechos e na tendência quem sabe excessiva para avaliar, chegando a exageros de juízos”. Tanto ou quanto o dilema apontado no parágrafo anterior, esse entrave foi removido por ponderação de equanimidade: “o que somos é feito do que fomos, de modo que convém aceitar com serenidade o peso negativo das etapas vencidas”. Assim, o texto do FLB está preservado da 1º edição de 1959 até a 6ª edição de 1981.



“LITERATURA COMO SISTEMA” nomeia a primeira das seis partes da Introdução do FLB. Para explicitar conceitualmente a abrangência de “Formação da Literatura Brasileira”, Antonio Candido estabelece o problema da defasagem semântica entre a simplificação de conteúdos estagnados que “ensinam os livros de história literária” contraposta à verificação efetiva de conteúdos históricos, sociais, políticos e propriamente literários configuradores da identidade brasileira. Estabelece a discussão empenhada em distinguir “manifestações literárias” da prática continuada característica de uma “literatura propriamente dita”. Paulatinamente, os termos que compõem o título e o subtítulo da obra (“momentos decisivos”) entram no circuito explicativo sintetizado por meio do sintagma “Literatura como sistema”. Interessado em discutir a particularidade formativa da literatura brasileira, Antonio Candido desenvolve um arcabouço crítico amplo. Aponta os denominadores comuns “que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização” no sistema simbólico articulado por meio da interação dos elementos básicos (“autor-obra-público”) os quais geram a tradição propriamente dita da cultura “sem a qual não há literatura [...] como fenômeno de civilização”.

A seguir reafirma que sem essa organização, representativa de um sistema literário, as ocorrências das obras de valor produzidas por força da inspiração individual são “manifestações literárias” isoladas que fermentam um sistema literário, mas ainda não o define. No caso brasileiro menciona, entre outras, a atividade literária do jesuíta José de Anchieta, no século XVI e considera as presenças influentes de Antônio Vieira e, particularmente, de Gregório de Matos, como “manifestações literárias” que ainda “não são representativas de um sistema, significando quando muito o seu esboço”. O ponto de vista de Antonio Candido a respeito da relevância histórica localizada da obra de Gregório de Matos obteve desdobramentos críticos importantes [Ver comentário de Marcos registrado no nosso blog no dia 20 de setembro].

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Afonso Henrique Fávero
Antônio Medeiros
Arandi Robson Martins Camara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes
Afonso Henrique Fávero


início da p. 13/início da 17 - 5ª Ed. São Paulo/Belo
Horizonte, Edusp/Itatiaia, 1975.
De: “No capítulo dos agradecimentos” [ainda no prefácio da 1ª.edição]

a : “para fazer justiça aos vários fatores atuantes no mundo da literatura.”[penúltima página do Prefácio da 2ª. edição]]




Na seqüência, Antonio Candido agradece a uma catervagem grande. Começa por José de Barros Martins, que lhe encomendou em 1945 uma história da literatura brasileira completa, projeto alterado para o enfoque dos momentos constitutivos da nossa literatura segundo a concepção adotada. A seguir, os agradecimentos a Lúcia Miguel Pereira, escritora casada com Otávio Tarquínio de Sousa e autora de um estudo de ordem biográfica sobre Machado de Assis; Carlos Drummond, não o poeta mas um professor de línguas indígenas da USP (provavelmente auxiliou Candido em textos com expressões em tupi); Edgard Carone, João Cruz Costa, Laerte Ramos de Carvalho – antigos professores da USP (de História, Filosofia e Pedagogia, respectivamente); Sérgio Buarque, o Marcos já apresentou; o restante não sei quem é. Agradece por fim uma ruma de instituições de pesquisa e bibliotecas. Ainda em post scriptum agradece a mais um bando (parece o boxeador Maguila depois de uma luta agradecendo a uma lista infinita!). Mas não agradece a Deus, o ingrato!


Volto ao primeiro parágrafo da p. 13 para dizer duas coisas: 1. FLB não deve ser vista como uma história da literatura brasileira mas como estudo de orientação histórica (por tal equívoco é que muita gente reclamou a presença do Barroco, por exemplo, embora o autor tenha deixado claro o seu ponto de vista). 2. O atraso de dez anos!... Scriptoria III atrasou-se apenas seis, e houve muita reclamação!
Já no âmbito do prefácio à 2ª edição, de 1962, Candido informa as pequenas mudanças ocorridas, correções e acréscimo de títulos na bibliografia, sem concretizar a intenção de incorporar nova matéria à reedição.

A seguir, uma cutucada nos leitores ao reclamar que as críticas recebidas voltaram-se apenas para a Introdução. Para não falar de modo claro que somente a Introdução foi lida, elegantemente o autor tira ilações, concluindo que isto se deve a um "interesse pelo método" e pelas "idéias teóricas".


Importante Candido afirmar que a teoria literária funciona aqui enquanto "enquadramento para estudar as produções". Exemplo para todos nós que costumamos fetichizar a teoria. Quantas e quantas vezes vemos nossos alunos martirizados, atrás de uma "fundamentação teórica" para suas teses e dissertações. A teoria é fundamental, sim, e pode até ser tema principal de um trabalho.

Mas quando temos uma obra literária como assunto central (contos, poemas, peças de teatro, romances), a teoria torna-se eficaz se vem para auxiliar no esclarecimento da obra; todavia, limitar-se à obra como exemplificação da teoria costuma ter alcance menor.


Candido aborda na seqüência uma idéia fundamental de seu livro: a literatura como "sistema articulado". Alude às condições necessárias para a sua existência: autores que produzem obras e público que as lê, dentro de um processo de continuidade (não avanço na discussão porque o tema surgirá com força logo adiante na Introdução).


No Brasil, a literatura começa a atingir tal situação de sistema nos períodos do Arcadismo e Romantismo, diferentes no plano estético mas cumprindo função histórica análoga na constituição do sistema literário. No último parágrafo, ganha relevo a discussão do método, no caso a conjugar dado histórico e dado estético no intuito de surpreender na obra literária seus vínculos com a dimensão social, cultural, econômica, política, ao mesmo tempo em que se evidencia seu caráter artístico. Esta é uma questão decisiva, pois aponta para uma preocupação constante do autor: a autonomia da obra de arte.


Nada mais injusto do que afirmar que Candido utiliza as obras literárias para tornar claro um panorama histórico ou social. Trata-se, isto sim, de enxergar como a substância do mundo entra em correlação com os meios expressivos de que dispõem os escritores para, num processo de síntese, resultar no texto artístico. Em suma, são os fatores externos que se tornam internos, na expressão do próprio Candido. E do próprio Candido proponho aos interessados no assunto que leiam "Crítica e sociologia (tentativa de esclarecimento)", in Literatura e sociedade. 5ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1976 .

domingo, 14 de setembro de 2008

Afonso Henrique Fávero
Antônio Medeiros
Arandi Robson Martins Camara
 Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia Santos
Edlena da Silva Pinheiro
 Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Rochele Kalini
 Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano 
Valeska Limeira Azevedo Gomes


Editora Martins, 1971 – p. 9 a 12:
De “Cada literatura requer”
a “em sanar estas e outras lacunas”.
Prefácio da 1ª. edição

 Esse prefácio pode ser considerado hoje um patrimônio da cultura brasileira. Muito lembrado, ele é o anúncio não só de uma abordagem fundamental de nossa literatura, mas também de um equacionamento preciso das condições históricas do Brasil. Avesso a qualquer ufanismo provinciano, traz formulações marcantes: caracteriza a baixa expressão estética resultante de nossa condição periférica e de país novo gerado sob a opressão e a exploração de um processo colonizador — e, pior, dependente de uma literatura, a portuguesa, que por sua vez é um “galho secundário” da européia. Numa atitude intelectual que serve de exemplo para nós, o autor professa seu carinho pela literatura brasileira, salienta a importância de vivificá-la pela leitura de sua obras, que não devem ser relegadas ao esquecimento, mas nem por isso se isenta de senso crítico para avaliar sua pobreza. [Aqui é interessante observar, a partir das observações de Roberto Schwarz, que a obra tem como ponto de fuga o aparecimento do grande autor Machado de Assis, mas que não chega até ele, tratando justamente dos “momentos decisivos” — e fracos — da formação da literatura brasileira, anteriores a Machado, mas que teriam sido seu húmus]. No item 2 do prefácio, Antonio Candido [sem acentos] lembra que escreveu a obra entre 1945 e 1951. Dois amigos leram os originais: Décio de Almeida Prado [grande estudioso do teatro brasileiro, falecido há uns anos, foi meu professor na Letras – USP, era um dos “chatos-boys”, na designação de Oswald de Andrade dos anos 40 para o pequeno grupo de intelectuais da revista paulistana “Clima”, do qual participava o jovem Candido] e Sérgio Buarque de Holanda [grande pensador da cultura brasileira, cremado na Vila Alpina – São Paulo, limítrofe com São Caetano do Sul, antes disso, não necessariamente nesta ordem, morou na Rua Buri, no bairro do Pacaembu, passei em frente da casa sábado passado, foi professor de história na USP, fundador do Instituto de Estudos Brasileiros – IEB-USP, pai do Chico Buarque e irmão[errado, ver comentário abaixo] do dicionário Aurélio]. Depois de uns quatro anos, Antonio Candido retomou para revisão o volume 1, entre 1955-1956 e o volume 2, em 1957. [Este Prefácio da 1ª. edição está datado no final: “São Paulo, agosto de 1957”, mas a obra é conhecida historicamente como um evento da cultura brasileira com publicação em 1959]. A seguir, faz algumas observações bibliográficas, entre as quais, a mais interessante é quando diz que só traduzirá textos em inglês e latim, já que espanhol, italiano e francês são acessíveis ao leitor médio. [O que revela o nível do tempo, se lembrarmos que hoje o leitor médio brasileiro geralmente não sabe ler e escrever nem em português]. Não garante precisão nos dados biográficos e pede correção dos leitores. Com modéstia que esquece o equacionamento teórico significativo da obra, acima referido, observa a dificuldade de ser original em matéria tão extensa, originalidade, “ilusão dos parvos ou ignorantes”, sempre limitada ao pequeno timbre pessoal da forma de expressá-las [também observação interessante aos pós-graduandos sempre ingenuamente e presunçosamente preocupados com originalidade]. No item 3, observa que a obra é resultado de uma vida inteira de interesse pelo assunto, desde a infância, quando já lia histórias de literatura da biblioteca do pai, com destaque para Sílvio Romero e Ronald de Carvalho. Ainda que superadas e quase nada utilizadas, sente que as obras desses autores estão na base de muitos de seus pontos de vista. Já nos seus tempos de neófito [: recém-admitido, noviço] da crítica literária, reconhece a influência de José Veríssimo. Apesar de a obra ter sido escrita durante anos [ver acima: 1945-1951] em meio a outras atividades, lembra que teve de imediato um plano fixado, que foi mantido, ainda que no momento de concluí-la sentisse tendência a outras orientações. Lamenta em seu plano original a exclusão do teatro, o que na verdade empobreceu sua argumentação, quando poderiam servir para reforçá-la autores como Martins Pena, Alencar, Gonçalves Dias etc. Exclusão que talvez possa ser explicada pela timidez para enfrentar a crítica teatral, com a qual não tinha prática. Vê também falha na exclusão do Machado de Assis romântico, mas justifica por não querer seccionar uma obra a cuja unidade se dá cada vez mais importância para o estudo integral do autor. Pensa em sanar essas lacunas numa próxima edição [o que não ocorrerá, como veremos no prefácio à 2ª. edição].

 ———————————————————————————————————- [[a deletar:] o texto acima fica valendo como a remessa de sábado, 13-9-2008. Logo que os convidados confirmarem o interesse na participação, remeterei a lista e inicia-se a ordem alfabética – provavelmente o próximo, dia 20-9-2008, será do A-fonso com as 4 páginas seguintes: Martins, 1971 – p.13 a 16 (início da 17): De “No capítulo dos agradecimentos” [ainda no prefácio da 1ª.edição] a “para fazer justiça aos vários fatores atuantes no mundo da literatura.”[penúltima página do Prefácio da 2ª. edição]]