sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Afonso Henrique Fávero


início da p. 13/início da 17 - 5ª Ed. São Paulo/Belo
Horizonte, Edusp/Itatiaia, 1975.
De: “No capítulo dos agradecimentos” [ainda no prefácio da 1ª.edição]

a : “para fazer justiça aos vários fatores atuantes no mundo da literatura.”[penúltima página do Prefácio da 2ª. edição]]




Na seqüência, Antonio Candido agradece a uma catervagem grande. Começa por José de Barros Martins, que lhe encomendou em 1945 uma história da literatura brasileira completa, projeto alterado para o enfoque dos momentos constitutivos da nossa literatura segundo a concepção adotada. A seguir, os agradecimentos a Lúcia Miguel Pereira, escritora casada com Otávio Tarquínio de Sousa e autora de um estudo de ordem biográfica sobre Machado de Assis; Carlos Drummond, não o poeta mas um professor de línguas indígenas da USP (provavelmente auxiliou Candido em textos com expressões em tupi); Edgard Carone, João Cruz Costa, Laerte Ramos de Carvalho – antigos professores da USP (de História, Filosofia e Pedagogia, respectivamente); Sérgio Buarque, o Marcos já apresentou; o restante não sei quem é. Agradece por fim uma ruma de instituições de pesquisa e bibliotecas. Ainda em post scriptum agradece a mais um bando (parece o boxeador Maguila depois de uma luta agradecendo a uma lista infinita!). Mas não agradece a Deus, o ingrato!


Volto ao primeiro parágrafo da p. 13 para dizer duas coisas: 1. FLB não deve ser vista como uma história da literatura brasileira mas como estudo de orientação histórica (por tal equívoco é que muita gente reclamou a presença do Barroco, por exemplo, embora o autor tenha deixado claro o seu ponto de vista). 2. O atraso de dez anos!... Scriptoria III atrasou-se apenas seis, e houve muita reclamação!
Já no âmbito do prefácio à 2ª edição, de 1962, Candido informa as pequenas mudanças ocorridas, correções e acréscimo de títulos na bibliografia, sem concretizar a intenção de incorporar nova matéria à reedição.

A seguir, uma cutucada nos leitores ao reclamar que as críticas recebidas voltaram-se apenas para a Introdução. Para não falar de modo claro que somente a Introdução foi lida, elegantemente o autor tira ilações, concluindo que isto se deve a um "interesse pelo método" e pelas "idéias teóricas".


Importante Candido afirmar que a teoria literária funciona aqui enquanto "enquadramento para estudar as produções". Exemplo para todos nós que costumamos fetichizar a teoria. Quantas e quantas vezes vemos nossos alunos martirizados, atrás de uma "fundamentação teórica" para suas teses e dissertações. A teoria é fundamental, sim, e pode até ser tema principal de um trabalho.

Mas quando temos uma obra literária como assunto central (contos, poemas, peças de teatro, romances), a teoria torna-se eficaz se vem para auxiliar no esclarecimento da obra; todavia, limitar-se à obra como exemplificação da teoria costuma ter alcance menor.


Candido aborda na seqüência uma idéia fundamental de seu livro: a literatura como "sistema articulado". Alude às condições necessárias para a sua existência: autores que produzem obras e público que as lê, dentro de um processo de continuidade (não avanço na discussão porque o tema surgirá com força logo adiante na Introdução).


No Brasil, a literatura começa a atingir tal situação de sistema nos períodos do Arcadismo e Romantismo, diferentes no plano estético mas cumprindo função histórica análoga na constituição do sistema literário. No último parágrafo, ganha relevo a discussão do método, no caso a conjugar dado histórico e dado estético no intuito de surpreender na obra literária seus vínculos com a dimensão social, cultural, econômica, política, ao mesmo tempo em que se evidencia seu caráter artístico. Esta é uma questão decisiva, pois aponta para uma preocupação constante do autor: a autonomia da obra de arte.


Nada mais injusto do que afirmar que Candido utiliza as obras literárias para tornar claro um panorama histórico ou social. Trata-se, isto sim, de enxergar como a substância do mundo entra em correlação com os meios expressivos de que dispõem os escritores para, num processo de síntese, resultar no texto artístico. Em suma, são os fatores externos que se tornam internos, na expressão do próprio Candido. E do próprio Candido proponho aos interessados no assunto que leiam "Crítica e sociologia (tentativa de esclarecimento)", in Literatura e sociedade. 5ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1976 .

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