sexta-feira, 26 de outubro de 2018





Jackeline Rebouças Oliveira





Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Laís Rocha de Lima
Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro Saraiva
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosiane Mariano
Terezinha Marta de Paula Peres

Adriana Vieira de Sena
Afonso Henrique Fávero
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Bethânia Lima Silva
Edlena da Silva Pinheiro
Eldio Pinto da Silva
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis
Érika Bezerra Cruz de Macedo






Jackeline Rebouças Oliveira  [27-10-2018]

Edição: Martins, 1971, VOL.2:
da p. 230      – no visor p. PDF: p. 539:  [subtítulo] "Desarmonias"
até a p. 232   – no visor p. PDF: p. 540   [...] "nosso pequeno Balzac."
Desarmonias


Partindo da perspectiva esboçada pela colega anterior, percebe-se claramente que durante o romantismo no Brasil havia uma preocupação dos escritores em retratar a realidade nacional brasileira. Essa atitude é decorrente de o romantismo promover uma grande mudança na forma de pensar e no campo estético, ou seja, romper com a tendência anterior, criando uma literatura diferente da neoclássica. Tanto que do ponto de vista estético, destaca-se uma oposição ao estilo neoclássico, com o apego às expressões mais pessoais, naturais e subjetivas, além de valorizar o popular e o nacional. No Brasil, o Romantismo surge como uma manifestação artística que tinha uma necessidade de valorizar a pátria, exaltando os valores essenciais da cultura brasileira. José de Alencar se destaca, porque, em sua vasta produção ficcional, procurou aliar os conceitos de ordem nacional com o universalismo.  E um dos aspectos mais significativos na intriga romanesca de Alencar – e fácil de notar – , é a presença das desarmonias ou contrastes, que é o choque entre o bem e o mal.
               

Dentre muitos exemplos destacados por Antonio Candido sobre a presença de desarmonias nos romances de Alencar, podemos ver que em o Guarani  a desarmonia se dá a partir do comportamento perverso de Loredano, pois sem esse comportamento não haveria drama. O mesmo acontece nas Minas de prata, onde o drama gira em torno das atitudes do padre Gusmão. Em Lucíola, por sua vez, Antonio Candido esclarece que a luxúria do velho Couto e a prática do vício mudam o comportamento da moça. Já em Diva há uma luta interior da moça, que parte do orgulho, que estimula o sadismo e ao mesmo tempo a castiga. Sobre o romance A pata da gazela, Antonio Candido chama a atenção para o fetichismo sexual de Horácio. Na visão do crítico, esse romance é o que mais marca as desarmonias presentes nas obras de Alencar, pois a narrativa gira em torno do fetiche sexual de Horácio por um pé, ou seja, o sentimento não é mais por uma pessoa, mas apenas por parte de um corpo. Por fim, em Senhora, há a grande reviravolta dada por uma moça pobre e humilhada, que, ao tornar-se rica, compra o ex-noivo. Para o crítico, esse foi um truque habilidoso do romancista, o que faz do romance uma obra psicologicamente profunda.


A força do romancista


Para Antonio Candido, a força de Alencar pode ser sentida sob vários aspectos, uns convencionais, outros mais raros; uns mais aparentes, outros virtuais. De acordo com o crítico, em Alencar a percepção complexa do mal, do anormal ou do recalque aparece como obstáculo à perfeição, bem como é definidora da conduta humana. Trata-se de uma dialética do bem e do mal que percorre toda a ficção romântica, inclusive a nossa. O que não é visível de modo nenhum em Manuel de Almeida, como também em Bernardo Guimarães, porque nele esse aspecto se atenua em forma de otimismo natural e sadio. Já em Teixeira e Sousa e em Macedo, aparece como uma luta convencional de contrários, para atingir, em Alencar, um refinamento que pressagia Machado de Assis. A galeria dos tipos alencarianos é vária e ampla. Antonio Candido divide-os em três categorias: os inteiriços (D.Antonio de Mariz, Peri, Loredano, Arnaldo) sempre os mesmos, no bem e no mal; os rotativos (João Fera, Diva) que passam do bem para o  mal ou do mal para o bem; e os simultâneos (Lucia e Paulo, de Lucíola; Amélia e Fernando Seixas, de Senhora) que são os mais complexos: o bem e o mal, nestes, perdem a conotação simples que aparece nos demais.


Por fim, Candido destaca que José de Alencar foi capaz de fazer uma literatura de boa qualidade tanto em relação ao esquematismo psicológico quanto ao senso de realidade humana. Pois foi da poesia ao realismo cotidiano, da visão heroica à observação da sociedade, o que fez dele o nosso pequeno Balzac. Tudo isso faz com que Alencar ocupe um lugar de destaque em todo o processo de renovação literária nacional.