sexta-feira, 6 de março de 2009

Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros [6-3-2009]


Editora Martins, 1971:
DE: p. 67: Razão, verdade, natureza são portanto uma coisa só
ATÉ: p. 70: cultura orientada pela razão, a verdade e o culto da natureza.




Vimos na passagem anterior, apresentada pelo Marcel, a equação beleza = razão – verdade – natureza. A tríade se dá como uma unidade inter-relacionada, já que a razão está na natureza e entre elas está a verdade, que cabe à arte obter pela síntese singela em busca da beleza. Esse padrão chega ao século XVIII, sob influência do Classicismo francês, quando a tendência pelo verdadeiro terá da mimesis [a condição da arte] uma expectiva de fidelidade e não de invenção, assim como o sentido da arte estará voltado para a sinceridade das emoções e dos problemas intelectuais e políticos em oposição à sua função de deleite estético.


De Leopardi a Rousseau, da tipologia política de Montesquieu ao elogio de Voltaire a Pope, encontraremos a tríade de simplificação racional, que dará à literatura o sentido da utilidade e dos temas filosóficos. Daí a busca do verdadeiro envolver também a verdade científica e social nas propostas neoclássicas, que cobrarão, em seu nome, também a adequação da sociedade civil aos fins da razão. É o que traduz a Henriade [a epopéia de Voltaire] quando
em seu “asseio lapidar”, como diz Antonio Candido, pede aos reis que escutem e sejam educados pela força e clareza da Verdade, a substituta dos heróis e dos grandes feitos épicos.



Se o homem é extensão da natureza, as leis sociais terão portanto igual possibilidade de objetivação — o que favorece o embrião das ciências humanas no século XVIII e da idéia de progresso, configurada desde quando a revolução teórica de Montesquieu indicou que, pelo conhecimento adequado das leis objetivas da vida social, a humanidade poderia modificar-se no rumo de uma melhoria gradual.


A nossa Ilustração


Ao contrário dos países modelos, o Século das Luzes entre Brasil e Portugal foi tacanhamente beato, escolástico e inquisitorial. Mas ainda que discutível, a presença entre nós do despotismo esclarecido de Pombal foi progressista, desarticulando o poder clerical, como no caso da Companhia de Jesus, e promovendo de algum modo uma renovação mental, em que se pode ver na produção poética de seu período, por trás da intenção adulatória a sua figura, a concepção ilustrada do que seria um bom governo, revelando, na atmosfera difusa de nosso ambiente intelectual, um composto de Ilustração, pombalismo e nativismo, que permitiu aos brasileiros produzirem as expressões mais significativas do pombalismo literário: o Uraguai (1769) de Basílio da Gama (antijesuítico); O desertor (1771) de Silva Alvarenga (pela reforma intelectual); O reino da estupidez (1785) de Francisco de Melo Franco (contra a reação no tempo de D. Maria I).




Junto a outras obras, estas representam o eco brasileiro, luso-brasileiro, das idéias modernas, formando o cadinho ideológico de nativismo, da propaganda do saber, do bom governo e do otimismo utópico, à Rousseau, em que uma mistura de sonho e realidade espera pela educação do homem natural das florestas americanas, criando desde aí uma constante em nosso intelectual: o plano salvador.



Na verdade, somente com a vinda de D. João VI, o Brasil teve modestamente a sua Época das Luzes, com as bases da Independência sendo formadas a partir de uma dinâmica de entrosamento governamental e intelectual. Se a poesia do período foi de qualidade inferior, por outro lado, respondiam às tendências didáticas da Ilustração o jornalismo e o ensaísmo excelentes de Hipólito da Costa, Frei Caneca, Evaristo da Veiga, pensadores liberais que ao lado de “realistas”, conservadores igualmente ilustrados e progressistas, elaboraram os diagnósticos do país e os meios para que uma literatura efetivamente brasileira tomasse corpo. O cristianismo e a filantropia professados por José Bonifácio não eram mais clericalismo, mas a cultura de maçons, com ou sem batina, voltada à razão, à verdade e à natureza, que Pedro II e os jovens românticos a seguir iriam herdar.