sábado, 13 de junho de 2015





Jackeline Rebouças Oliveira



Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Laís Rocha de Lima
Lígia Mychelle de Melo
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Maria Valeska Rocha da Silva
Massimo Pinna
Paulo Caldas Neto
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosiane Mariano
Rousiêne Gonçalves
Terezinha Marta de Paula Peres
Thayane de Araújo Morais

Afonso Henrique Fávero
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Bethânia Lima Silva
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Érika Bezerra Cruz de Macedo
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis





Jackeline Rebouças Oliveira [13-06-2015]

Edição: Martins, 1971, VOL.2:
da p. 83: [PDF-+-p. 403] “Mas já nesse tempo, o povo tinha adotado o poeta, repetindo                           
                                              e cantando”[...]
até a p. 85: [PDF-+-p. 405]  [...] “ Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas,
                                                           A arasóia na cinta me apertaram”



Na página anterior, Antonio Candido apresenta Gonçalves Dias como o verdadeiro criador da literatura nacional que consolidou o Romantismo pelas qualidades superiores de inspiração e por possuir uma consciência artística acima de seus antecessores. Foi admirado e seguido por diversos poetas e serviu de exemplo para os seus sucessores. Com os Primeiros Cantos o poeta causou uma revolução nacional, “a ponto de todos acordarem ao mesmo tempo, e o autor se ver exaltado muito acima do seu merecimento”, diz Candido.


Essa obra serviu de experiência para os demais escritores que tomaram como referência e aprenderam com ele os padrões do Romantismo. Contudo, no que se refere à poesia nacional, os seus sucessores, apesar de terem dado um grande destaque ao índio, jamais conseguiram dar, como ele,  a mesma dimensão poética em relação ao tema.  A esse respeito, o crítico afirma que o indianismo em Gonçalves Dias vai muito além do modo de ver a natureza em profundidade, pois retrata junto à realidade o sentido heroico da vida.


O indianismo


Esse tópico versa sobre as poesias americanas de Gonçalves Dias. Para Antonio Candido, essas poesias se aproximam do medievalismo coimbrão. Isso se dá porque Gonçalves Dias incorporou em suas poesias temas do passado. O índio tem por modelo o cavaleiro medieval, herói, nobre e guerreiro fiel aos deveres tribais. Por isso, Sextilhas de frei Antão, O soldado espanhol, O trovador, (poemas medievais), possuem uma certa simetria com os Timbiras, i-Juca Pirama, a Canção do Guerreiro, que reduzem o índio aos padrões de cavalaria.


Ainda seguindo essa perspectiva, o crítico destaca que Gonçalves Dias como poeta dá uma visão geral do índio, pois retrata as cenas e feitos de um índio qualquer, não se preocupando em identificá-lo, já que a identidade serve  apenas para dar um padrão. Essa forma de caracterizar o índio o torna bem diferente do que faz o romancista Alencar, que particulariza o seu personagem, criando uma identidade e, por isso, acaba “tornando-o mais próximo à sensibilidade do leitor.”



Não há como negar que a forma peculiar de Gonçalves Dias expressar-se em suas poesias com uma grande riqueza temática e multiplicidade de assuntos fez dele um poeta extraordinário. O prisioneiro de Juca Pirama e o tamoio  da Canção dão um bom exemplo da grandiosidade desse escritor. Apesar de serem ”vazias de personalidade”, a “riqueza simbólica” é  incomparável, por isso, são consagrados na literatura brasileira.


É relevante notar que Gonçalves Dias trouxe para a literatura brasileira muitos temas que servirão de modelos para os demais escritores. Sobre isso, Antonio Candido afirma que o poeta soube incorporar em seus versos o detalhe pitoresco da vida americana sob um ângulo romântico e europeu, onde mistura medievalismo, idealismo e etnografia, tendo como resultado uma  escrita nova, que nos faz sentir os velhos temas da poesia ocidental.



A esse respeito, o crítico cita como exemplo a figura da marabá. Mulher de dois sangues, por ter mãe índia e pai europeu, a marabá, apesar de ter uma beleza incomparável, sofre por ser rejeitada por sua tribo, pois possui característica de uma europeia. Para o crítico, a marabá é um desses “monstros românticos” cuja fatalidade é ficar aquém da plenitude afetiva:


Meus olhos são garços, são cor das safiras,
Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
Imitam as nuvens de um céu anilado,  
As cores imitam das vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
- “Teus olhos são garços”,
Responde enojado, "Mas és Marabá:
“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
“Uns olhos fulgentes,
“Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!”




Por fim, Antonio Candido analisa uma estrofe do poema o Leito de Folhas Verdes. Segundo o autor, esse poema é uma obra-prima do exótico, pois Gonçalves Dias utiliza o ambiente para expressar um tipo de emoção que na verdade independe do ambiente. É a combinação de detalhes feita na lírica que causa toda a emoção, tanto que uma simples referência à arazoia (tanga de penas) “faz a emoção vibrar numa totalidade desusada, que refresca e torna a mais expressiva a declaração de amor”:


Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios, 
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas 
A arazóia na cinta me apertaram.