domingo, 4 de abril de 2021

 

Encerramento das leituras:

As anotações de leitura de Formação da literatura brasileira apresentadas neste espaço podem ser consultadas apenas como indicação, nem sempre precisa, de algumas linhas gerais da obra. Pretendem, assim, funcionar como um índice remissivo que necessariamente encaminhe o leitor para a clareza, o detalhamento e a riqueza de reflexões do original.

 

 

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"O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço."

                                        Machado de Assis, Instinto de nacionalidade

 

 

Essas palavras de Machado de Assis

 

 

"são adequadas, portanto, para encerrar este livro, onde se procurou justamente descrever o processo por meio do qual os brasileiros tomaram consciência da sua existência espiritual e social através da literatura, combinando de modo vário os valores universais com a realidade local e, desta maneira, ganhando o direito de exprimir o seu sonho, a sua dor, o seu júbilo, a sua modesta visão das coisas e do semelhante.”

                                  Antonio Candido, Formação da literatura brasileira

 

 
Jackeline Rebouças Oliveira
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Laís Rocha de Lima
Mácio Alves de Medeiros
Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa
Massimo Pinna
Peterson Martins
Rosiane Mariano
Socorro Guterres de Souza
Terezinha Marta de Paula Peres
Thayane de Araújo Morais
 
Adriana Vieira de Sena
Afonso Henrique Fávero
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Bethânia Lima Silva
Edlena da Silva Pinheiro
Eldio Pinto da Silva
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis
Érika Bezerra Cruz de Macedo
 
 
 
 
 
 
 
Jackeline Rebouças Oliveira [03-04-2021]
 
 
Edição: Itatiaia, 2000, VOL.2:
da      p.  pdf do visor: p. 659   :  “É interessante notar” [...]
até  a p.  pdf do visor: p. 661   :  [...] " e do semelhante. "
 
As Cartas de Távora
 
Candido observa que, nas cartas de Távora, os argumentos são semelhantes aos que “Ig”, Alencar, usou para criticar Magalhães. Do mesmo modo como Alencar fizera com Magalhães, Távora acusa o escritor por não ter cumprido o programa a que se propusera, já que seus romances fogem da realidade nacional. Ou seja, segundo Távora, Alencar não recorre plenamente à realidade brasileira. Nos artigos que escreve sobre Iracema, Távora acusa Alencar de ter abusado da imaginação, tendo incorrido em diversos erros históricos, em fantasias sintáticas e impropriedades etnográficas. Para Távora, Alencar trai a realidade cultural por não ter observado as regiões e os tipos humanos, não sendo, portanto, fiel à visão tradicional de romance da época. Como Alencar também fez com Magalhães, Franklin Távora critica o cearense apoiando-se em autores... estrangeiros, norte-americanos, como Cooper e outros, para propor que se faça uma ficção sem trair a realidade.
 
                  
Segundo Candido, foram os ataques feitos a Alencar o gatilho que o motivou a refletir sobre o sentido da própria obra, e, a partir daí, procurou soluções para não ficar restrito ao valor nacional. Assim, no prefácio a Sonhos d’Ouro, Alencar reconhece que a literatura pitoresca, mesmo sendo a mais característica das condições locais, não é uma única via. Candido nos mostra que nesse prefácio o escritor reafirma que uma obra literária já é em grande parte posterior à experiência e à forma que integram a literatura nacional. Assim, Candido constata que Alencar não traíra o verdadeiro sentido de sua tarefa, mesmo quando, nos seus primórdios, a praticara sem consciência nítida.
 
 
No prefácio a Sonhos d’Ouro, nota-se que Alencar reconhece a importância das pesquisas do romance, que, liberto do pitoresco, traz à tona o humano social e psicológico. Para ele, trata-se de trazer para as obras o aspecto humano que nos toca de perto e nos envolve com sua sensibilidade e com seus problemas. Em consonância com essa concepção, Candido afirma que o escritor deve “descrever e analisar vários aspectos de uma sociedade, no tempo, e no espaço, exprimindo a sua luta pela autodefinição nacional”. Assim, nesse ponto já avançado de sua obra, José de Alencar define três modalidades de tema no romance brasileiro, que correspondem a três momentos de evolução social: a vida do primitivo, a sociedade contemporânea e a vida tradicional das zonas rurais.
 
 
Argumentando a favor de Alencar e possivelmente por decorrência de seu prefácio de 1872, Machado de Assis escreve em 1873 o artigo “Instinto de Nacionalidade”, onde aponta o desenvolvimento do tema de Alencar e a superação de suas concepções em artigos anteriores. Assim, Machado de Assis defende que o escritor deve se embasar nos assuntos da própria terra, mas não no sentido de uma norma literal, pois isso empobreceria a literatura: “O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço”.
 
 

Por fim, Antonio Candido aponta que as palavras de Machado de Assis exprimem um ponto de maturidade da crítica romântica: a consciência real que o romantismo adquiriu do seu significado histórico. São, portanto, palavras adequadas para encerrar Formação da literatura brasileira, uma vez que o objetivo desta obra foi descrever o processo por meio do qual os brasileiros tomaram consciência da sua existência espiritual e social. Desse modo, foi combinando os valores universais com a realidade local que esses escritores ganharam o direito de exprimir o seu sonho, a sua dor, o seu júbilo, a sua modesta visão das coisas e do semelhante.