domingo, 24 de março de 2019





Mácio Alves de Medeiros

  



Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro Saraiva
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosiane Mariano
Terezinha Marta de Paula Peres

Adriana Vieira de Sena
Afonso Henrique Fávero
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Bethânia Lima Silva
Edlena da Silva Pinheiro
Eldio Pinto da Silva
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis
Érika Bezerra Cruz de Macedo
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Laís Rocha de Lima 





Mácio Alves de Medeiros  [23-03-2019]


Edição: Martins, 1971, VOL.2:
da       p. 237  – no visor p. PDF: p. 544:  "O brutalhão de alma boa”[...]
até  a p. 240   –  no visor p. PDF: p. 546:   [...] "não no naturalismo, mas na naturalidade de Bernardo."





Antonio Candido reluta na definição de quem seria Bernardo Guimarães. No capítulo IV – “Avatares do egotismo”, ele define o escritor como poeta da natureza, já no presente trecho, a referência ao romancista se assemelha a outro Guimarães, o Rosa mineiro, pois nosso crítico espirituosamente define o “pai” d’ A escrava Isaura como um contador de casos.

De fato, levando-se em conta especialmente a fase posterior da vida literária do escritor, a transição da poesia para o romance serviu para enaltecer a natureza pitoresca e os tipos elementares essenciais para suas obras. Assim, os casos aos quais o crítico pretende referendar se manifestam pela descrição “eufórica” a respeito do ambiente, da natureza, valorizando sua obra no contexto do romance rural, excetuando o único romance urbano. Assim, para o crítico, há um incessante compromisso de Bernardo Guimarães em retratar o sertão, goiano e mineiro, banhando sua sensibilidade estética pela observação da topografia que serve de base aos exórdios introdutórios.

É a partir dessa plataforma que serão construídos os tipos elementares dos romances bernardianos, conforme destaca Candido: o moço bom e puro, os pais afetuosos e pirracentos, reflexo de modelos da cultura familiar dominante da época (exemplo dos pais de Eugênio, por exemplo), o rival e as heroínas desprovidas das fisionomias de um Les fées. Tudo isso imbuído de uma composição psíquica e social dos personagens resultantes da confluência entre homem e natureza, mas também ultrapassando e colidindo com os ideários do Romantismo, o que configura autonomia e liberdade do autor ao imprimir, por meio de sua escrita, relações que inquietam ou, ao menos, fazem a sociedade sentir rugidos de descontentamento contra o estado das coisas estabelecidas.

Contudo, Antonio Candido ressalta, ainda, parecer haver certa obediência de Bernardo ao que esperava a nobreza da época e o contexto da literatura. Talvez em função disso, no final do romance O seminarista, mesmo com a crítica feita à intolerância e ao aprisionamento da mente de quem se comprometeu a estar a serviço do sagrado, sai vencedora a tirania dos poderosos, amalgamada à subserviência eclesiástica da Igreja da época. Enlouquecer, como ocorrera a Eugênio em O seminarista não é, definitivamente, o que se deseja à parcela oprimida de nossa sociedade, tolhida por um suposto deus plantando não acima, Vesta em proteção, mas em cima de todos como bate-estacas enxertando cada membro da massa no solo lamacento sobre o qual se ergue seguro o palco para o desfrute dos idólatras da nova ordem.

Assim, comprova Candido, a cumplicidade de Bernardo com a misantropia somente é afetada pela adesão à boemia. No mais, ele se esquiva à sociabilidade a não ser para encará-la e mostrar as anormalidades da pretensa e falsa ilibada ordem social de seu tempo, bem representado no desenlace da não fortuita relação entre Eugenio e Margarida. Pelo menos, consegue dar vazão, na pele dos personagens, à sua afeição pela carne “como componente normal e necessária” para a construção de seus romances, de suas heroínas, cuja relação com os instintos sensuais parecia uma condição básica. Daí por que esse componente se tornava tão crucial quanto menos importava a beleza física dessas heroínas, importando mais o senso de humanidade e de justiça social presentes na honestidade do escritor e impressas na profundidade dos tipos que construiu para seus romances.