sábado, 8 de novembro de 2008

Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães [08-11-2008]



6ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.

DE: p. 50 – “Para ele a poesia não era puro deleite (e, portanto, coisa somenos)”...
[segunda página do subitem Cândido Lusitano, do cap. 2 Razão e imitação]

ATÉ: p. 54 – ... “obras é prova segura e infalível de que elas devem ser admiradas”.



Como já indicou Joana na leitura anterior à minha, Candido observa que a contribuição teórica de Francisco José Freire [Cândido Lusitano] posicionou-se em relação à própria importância e função da poesia: ou esta é relevante e merece atenção, ou ela é secundária, podendo, por isso, ser desconsiderada. No interior desse problema, Freire, justificando o trabalho poético, considera que a poesia serve também para edificar o homem, sendo, portanto, “útil ao progresso moral”.



Contudo, Freire aponta não só o caráter instrutivo da poesia, mas também salienta o elemento arrebatador, “o furor poético”, demonstrando uma compreensão e sensibilidade mais apurada, fruto da influência do arcadismo italiano, marcado pela doçura e musicalidade que suavizou o peso didático e racionalista da Ilustração. Todavia, Candido ressalva que o elemento imaginativo não se deve à inspiração gratuita, mas ao trabalho do poeta, enquanto artífice. O deleite do leitor dependerá da novidade, vinculada à beleza e a doçura, trazida pela matéria poética. A beleza configura-se na forma racional, enquanto que a doçura refere-se ao elemento afetivo, capaz de mover o ânimo do leitor.



Dessa maneira, Freire ao vincular a imaginação ao labor artístico enfatiza menos a liberdade do que o domínio e o controle sobre o poético. Ao defender que o “próprio vôo poético deve ser usado com moderação e sem perda da tonalidade racional do poema”, o autor enquadra a sensibilidade e a fantasia no contexto racional, cerceando o espaço que concedeu a esses elementos.



Um aspecto fundamental, para Freire, corresponde à verossimilhança da poesia, na qual a obra teria sua utilidade e seu deleite assegurados. Para o tratadista, o verossímil não se refere, fundamentalmente, à fantasia, mas à aproximação com o verdadeiro objetivamente constatado. Vemos, por conseguinte, que a criação não é concebida como arbítrio, entendimento pouco provável para um neoclássico, mas há um esforço de equilibrar linguagem e realidade, desencadeando uma expressão moderada que atende à verdade poética, composta de “perfeições reais, não de desconcertos, ou ilusões aéreas”.



Candido finaliza indicando a verossimilhança, na acepção definida por Freire, como critério de validade da poesia arcádica. Assim, por um lado, a obra deveria aproximar-se da natureza das coisas, possuindo uma imaginação fiel à razão; por outro, ela deveria apresentar uma linguagem racional, fruto da instrução e da inteligência do poeta.




Busca da Comunicação


Nesse item, Candido aponta que um critério útil para a diferenciação dos períodos e das escolas diz respeito à destinação pública da literatura. Em sua visão, o escritor árcade prefigura um público de salão, pois suas obras desejam ser instrumento de comunicação entre os homens. O Arcadismo, pois, é consciência de integração: as obras se ajustam ao espaço natural, social e literário, decorrendo daí a estética da imitação, pois o poeta tenta reproduzir não somente a realidade, mas também os modelos literários dos autores da Antiguidade, estes tomados como paradigmas, cuja conformidade é digna de orgulho, já que a antiga e constante admiração pelas obras dos antigos é prova infalível do mérito estético desses textos.



Esse processo mimético favorecia a inteligibilidade da obra haja vista que, para o leitor com boa formação humanística, as referências que o poema agencia são conhecidas, pois elas já são relativamente dadas pelo âmbito social, estético e cultural. Assim, os escritores não apresentavam nas obras casos particulares ou a condição individual do homem, mas devotava seu interesse para as situações e emoções genéricas. Não raro, o poeta, no exercício do verso, recorria às grandes circunstâncias da vida, à convenção bucólica, às situações e sentimentos da mitologia e da história greco-latina, preferindo, assim, o universal ao particular.



Candido pondera que, para o gosto atual, na literatura arcádica falta a individuação capaz de construir uma perspectiva que capte a experiência sob o ângulo pessoal do poeta. A partir de dois versos, tomados como exemplo, o autor acrescenta que, mesmo nas poesias mais pessoais do século XVIII, há nelas o vestígio do diálogo “a evitar uma provável solidão”.