domingo, 14 de setembro de 2008

Afonso Henrique Fávero
Antônio Medeiros
Arandi Robson Martins Camara
 Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia Santos
Edlena da Silva Pinheiro
 Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Rochele Kalini
 Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano 
Valeska Limeira Azevedo Gomes


Editora Martins, 1971 – p. 9 a 12:
De “Cada literatura requer”
a “em sanar estas e outras lacunas”.
Prefácio da 1ª. edição

 Esse prefácio pode ser considerado hoje um patrimônio da cultura brasileira. Muito lembrado, ele é o anúncio não só de uma abordagem fundamental de nossa literatura, mas também de um equacionamento preciso das condições históricas do Brasil. Avesso a qualquer ufanismo provinciano, traz formulações marcantes: caracteriza a baixa expressão estética resultante de nossa condição periférica e de país novo gerado sob a opressão e a exploração de um processo colonizador — e, pior, dependente de uma literatura, a portuguesa, que por sua vez é um “galho secundário” da européia. Numa atitude intelectual que serve de exemplo para nós, o autor professa seu carinho pela literatura brasileira, salienta a importância de vivificá-la pela leitura de sua obras, que não devem ser relegadas ao esquecimento, mas nem por isso se isenta de senso crítico para avaliar sua pobreza. [Aqui é interessante observar, a partir das observações de Roberto Schwarz, que a obra tem como ponto de fuga o aparecimento do grande autor Machado de Assis, mas que não chega até ele, tratando justamente dos “momentos decisivos” — e fracos — da formação da literatura brasileira, anteriores a Machado, mas que teriam sido seu húmus]. No item 2 do prefácio, Antonio Candido [sem acentos] lembra que escreveu a obra entre 1945 e 1951. Dois amigos leram os originais: Décio de Almeida Prado [grande estudioso do teatro brasileiro, falecido há uns anos, foi meu professor na Letras – USP, era um dos “chatos-boys”, na designação de Oswald de Andrade dos anos 40 para o pequeno grupo de intelectuais da revista paulistana “Clima”, do qual participava o jovem Candido] e Sérgio Buarque de Holanda [grande pensador da cultura brasileira, cremado na Vila Alpina – São Paulo, limítrofe com São Caetano do Sul, antes disso, não necessariamente nesta ordem, morou na Rua Buri, no bairro do Pacaembu, passei em frente da casa sábado passado, foi professor de história na USP, fundador do Instituto de Estudos Brasileiros – IEB-USP, pai do Chico Buarque e irmão[errado, ver comentário abaixo] do dicionário Aurélio]. Depois de uns quatro anos, Antonio Candido retomou para revisão o volume 1, entre 1955-1956 e o volume 2, em 1957. [Este Prefácio da 1ª. edição está datado no final: “São Paulo, agosto de 1957”, mas a obra é conhecida historicamente como um evento da cultura brasileira com publicação em 1959]. A seguir, faz algumas observações bibliográficas, entre as quais, a mais interessante é quando diz que só traduzirá textos em inglês e latim, já que espanhol, italiano e francês são acessíveis ao leitor médio. [O que revela o nível do tempo, se lembrarmos que hoje o leitor médio brasileiro geralmente não sabe ler e escrever nem em português]. Não garante precisão nos dados biográficos e pede correção dos leitores. Com modéstia que esquece o equacionamento teórico significativo da obra, acima referido, observa a dificuldade de ser original em matéria tão extensa, originalidade, “ilusão dos parvos ou ignorantes”, sempre limitada ao pequeno timbre pessoal da forma de expressá-las [também observação interessante aos pós-graduandos sempre ingenuamente e presunçosamente preocupados com originalidade]. No item 3, observa que a obra é resultado de uma vida inteira de interesse pelo assunto, desde a infância, quando já lia histórias de literatura da biblioteca do pai, com destaque para Sílvio Romero e Ronald de Carvalho. Ainda que superadas e quase nada utilizadas, sente que as obras desses autores estão na base de muitos de seus pontos de vista. Já nos seus tempos de neófito [: recém-admitido, noviço] da crítica literária, reconhece a influência de José Veríssimo. Apesar de a obra ter sido escrita durante anos [ver acima: 1945-1951] em meio a outras atividades, lembra que teve de imediato um plano fixado, que foi mantido, ainda que no momento de concluí-la sentisse tendência a outras orientações. Lamenta em seu plano original a exclusão do teatro, o que na verdade empobreceu sua argumentação, quando poderiam servir para reforçá-la autores como Martins Pena, Alencar, Gonçalves Dias etc. Exclusão que talvez possa ser explicada pela timidez para enfrentar a crítica teatral, com a qual não tinha prática. Vê também falha na exclusão do Machado de Assis romântico, mas justifica por não querer seccionar uma obra a cuja unidade se dá cada vez mais importância para o estudo integral do autor. Pensa em sanar essas lacunas numa próxima edição [o que não ocorrerá, como veremos no prefácio à 2ª. edição].

 ———————————————————————————————————- [[a deletar:] o texto acima fica valendo como a remessa de sábado, 13-9-2008. Logo que os convidados confirmarem o interesse na participação, remeterei a lista e inicia-se a ordem alfabética – provavelmente o próximo, dia 20-9-2008, será do A-fonso com as 4 páginas seguintes: Martins, 1971 – p.13 a 16 (início da 17): De “No capítulo dos agradecimentos” [ainda no prefácio da 1ª.edição] a “para fazer justiça aos vários fatores atuantes no mundo da literatura.”[penúltima página do Prefácio da 2ª. edição]]

Um comentário:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Correção em 2013: a respeito do grau de parentesco entre Sérgio Buarque de Holanda e Aurélio Buarque de Holanda [primos distantes] ver entrevista de Chico Buarque de Holanda:
http://www.chicobuarque.com.br/critica/crit_leite_ipsilon_isabel.htm