sábado, 27 de setembro de 2008

Antônio Medeiros
Arandi Robson Martins Camara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo Silva
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falleiros
Massimo Pinna
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
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Antônio Medeiros (27.09.08)

Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 6ª edição, 1981:

da p.17 [primeiro parágrafo da página]: "A aplicação deste critério permitiu..."
à p. 24 [último parágrafo da página terminando em]: "...quanto João de Brito e Lima pôde alcançar".



O trecho que comento abrange os três últimos parágrafos do Prefácio da 2ª edição, o breve Prefácio da 6ª edição e parte do item 1, “Literatura como sistema”, da Introdução, esta composta por seis subdivisões.


AINDA NO PREFÁCIO DA 2ª EDIÇÃO, dialogando com a recepção da 1ª edição da obra, Antonio Candido pondera o quarto pressuposto fundamental do livro – os três anteriores foram comentados por Fávero. Esse penúltimo item componente do recorte de trabalho esclarece que o período histórico-literário destacado (Arcadismo e Romantismo) é estudado como contraponto ao que até então, em meados do século passado, havia cristalizado na critica desses dois movimentos. Considera a depreciação a que ambos estiveram submetidos, ora sob a pecha de veicular “uma forma de alienação (isto é, um desvio da atividade literária)”, ora sob argumento romântico, “revigorado pelos modernistas” e também àquela época “pelos nacionalistas”, segundo o qual “os árcades fizeram [tão-somente] literatura de empréstimo, submetendo-se a critérios estranhos à nossa realidade, incapazes de imprimir a cor local”. Aqui se pode aludir a que “cor local” é expressão que lembra fortemente o texto crítico de Machado de Assis, “Notícias da atual literatura brasileira – instinto de nacionalidade”, de 1873, material útil para ampliar a discussão do tema.

Antonio Candido diverge da crítica que o antecedeu para reavaliar esse estado de coisas. Em lugar da falha, percebe o nexo. Em vez da precariedade, detecta que, associados, Arcadismo e Romantismo significaram o exercício saudável de aproximação estético-cultural brasileiro incipiente aos “padrões universais”. De outro modo, em circunstância distinta, mas conseqüente do andamento histórico, os modernistas de 1922 ecoaram essa necessidade que revela a compreensão de nossa singularidade e da juventude cultural brasileira. Antes de tudo é preciso digerir, esse é um dos sinalizadores da Antropofagia oswaldiana, por exemplo.

Para ilustrar o alcance dessa tentativa em busca da identidade nacional, Antonio Candido menciona Basílio da Gama (luso-brasileiro, autor de O Uraguai, de 1769) e Silva Alvarenga (mineiro que se radicou em Portugal, autor de Coimbra, de 1774) considerando que tais poetas contribuíram para “exprimir as particularidades do nosso universo, conseguiram elevá-las à categoria depurada dos melhores modelos”. A essa altura do Prefácio, chama a atenção do leitor o empenho didático para esclarecer, em confluência, os quatro pressupostos fundamentais do livro, a que, por fim, se ajunta o derradeiro, referido à definição da literatura brasileira como uma literatura “eminentemente interessada”. Esse pressuposto corrobora toda a argumentação dos quatro que antecederam. Ganha relevo porque expressa ser da natureza das culturas emergentes – a brasileira entre elas no conjunto das culturas latino-americanas – lançar mão do repertório geral, que, freqüentemente, se depura por contraste ou por afinidade de valores, processamento típico no curso de definição das identidades culturais.


Em relação às leituras anteriores, me aproprio do pensamento de Marcos, referido ao Prefácio da 1ª edição – “Esse prefácio pode ser considerado hoje um patrimônio da cultura brasileira” – incluindo nesse patrimônio o Prefácio da 2ª edição. E concordo com as afirmações extraídas por Fávero da leitura do Prefácio da 2ª edição, sobretudo em relação ao problema grave, dramático nas exposições de pesquisas menos atentas, de se “fetichizar a teoria”. A expressão de Fávero me fez recordar do capítulo IX, do Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, no exato instante em que, desabusabamente, Brás Cubas está saindo do delírio em que se encontrava metido, recobra a consciência ficcional e se dirige ao leitor demonstrando destreza para conciliar a necessidade do método com a habilidade do raciocínio lúdico e lúcido: “... o livro fica assim com todas as vantagens do método, sem a rigidez do método [...] que isso de método, sendo, como é, uma coisa fundamental, todavia é melhor tê-lo sem gravata nem suspensório, mas um pouco à fresca e à solta, como quem não se dá da vizinha fronteira, nem do inspetor de quarteirão”. O Prefácio da 2ª edição demonstra ao leitor – a despeito da expressão autoral de ser um “rodeio espichado”, que de espichado tem nada – o método de trabalho modelar, “sem gravata nem suspensórios”, demonstração que prenuncia o estudo do FLB sempre recomendável para se obter lições de consistência teórica e de fluência metodológica.


O BREVE PREFÁCIO DA 6ª EDIÇÃO, composto por dois parágrafos curtos, é dedicado aos esclarecimentos de ordem prática. O primeiro registra a gratidão do Autor, que credita o retorno da obra ao catálogo à “insistência cordial” de seu Editor. Lá também informa que, decorrido o tempo, a bibliografia sobre o tema do livro havia crescido substancialmente. Afirma que a nova tiragem do livro, embora merecesse revisão bibliográfica, se manteve tal qual as antecedentes. Para tanto, usa como justificação a especificidade do recorte de trabalho definidora dessa obra que, não sendo “uma justaposição de ensaios”, mas um todo orgânico, deva ter a força suficiente para “prestar algum serviço assim como está”, numa aposta feita por meio de expressão modesta.

No segundo parágrafo, Antonio Candido declara que, na contingência, havia mais de dez anos que não lia o FLB e comenta ao retomá-lo um efeito percebido na leitura, distanciada no tempo, de “sentimentalismo da escrita de alguns trechos e na tendência quem sabe excessiva para avaliar, chegando a exageros de juízos”. Tanto ou quanto o dilema apontado no parágrafo anterior, esse entrave foi removido por ponderação de equanimidade: “o que somos é feito do que fomos, de modo que convém aceitar com serenidade o peso negativo das etapas vencidas”. Assim, o texto do FLB está preservado da 1º edição de 1959 até a 6ª edição de 1981.



“LITERATURA COMO SISTEMA” nomeia a primeira das seis partes da Introdução do FLB. Para explicitar conceitualmente a abrangência de “Formação da Literatura Brasileira”, Antonio Candido estabelece o problema da defasagem semântica entre a simplificação de conteúdos estagnados que “ensinam os livros de história literária” contraposta à verificação efetiva de conteúdos históricos, sociais, políticos e propriamente literários configuradores da identidade brasileira. Estabelece a discussão empenhada em distinguir “manifestações literárias” da prática continuada característica de uma “literatura propriamente dita”. Paulatinamente, os termos que compõem o título e o subtítulo da obra (“momentos decisivos”) entram no circuito explicativo sintetizado por meio do sintagma “Literatura como sistema”. Interessado em discutir a particularidade formativa da literatura brasileira, Antonio Candido desenvolve um arcabouço crítico amplo. Aponta os denominadores comuns “que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização” no sistema simbólico articulado por meio da interação dos elementos básicos (“autor-obra-público”) os quais geram a tradição propriamente dita da cultura “sem a qual não há literatura [...] como fenômeno de civilização”.

A seguir reafirma que sem essa organização, representativa de um sistema literário, as ocorrências das obras de valor produzidas por força da inspiração individual são “manifestações literárias” isoladas que fermentam um sistema literário, mas ainda não o define. No caso brasileiro menciona, entre outras, a atividade literária do jesuíta José de Anchieta, no século XVI e considera as presenças influentes de Antônio Vieira e, particularmente, de Gregório de Matos, como “manifestações literárias” que ainda “não são representativas de um sistema, significando quando muito o seu esboço”. O ponto de vista de Antonio Candido a respeito da relevância histórica localizada da obra de Gregório de Matos obteve desdobramentos críticos importantes [Ver comentário de Marcos registrado no nosso blog no dia 20 de setembro].

3 comentários:

Anônimo disse...

Marcos Falchero Falleiros - 27-9-2008:
O Medeiros chamou a atenção para um aspecto que me estava passando em brancas nuvens: nesses prefácios, Antonio Candido fala em 5 pressupostos da obra. Quais são eles?
Quem responde?

Anônimo disse...

Marcos - 27-9-2008
Quer dizer, Candido fala em 5 pressupostos especificamente no prefácio da 2a. edição. Esquematicamente, quais são eles?
Quem responde? Onde está você, Franco Montoro???!!!

Anônimo disse...

Antônio Medeiros (27.09.08):

Resumidamente:

1.“[A literatura] brasileira não nasce, mas se configura no decorrer do século XVIII”;
2.”Há uma solidariedade estreita entre os dois períodos (Arcadismo e Romantismo)” estudados no FLB;
3.O estudo da literatura brasileira “requer um método que seja histórico e estético ao mesmo tempo...”;
4.Sem a compreensão nítida do Arcadismo e o Romantismo, perde-se de vista a visão geral da literatura brasileira;
5.A brasileira se define como uma literatura “eminentemente interessada”, e esse é um traço típico das culturas em formação, as demais latino-americanas também o são.