sábado, 1 de novembro de 2008

JOANA LEOPOLDINA DE MELO OLIVEIRA – [01-11-2008]


Editora Martins, 1971:
DE: p.46: Capítulo 2 - Razão e imitação
"Não esqueçamos que a idéia-força do Arcadismo português (de..."
A : p.49: "...da poética franco-italiana e intelectualismo mitigado pela fantasia."

No começo do Capítulo 2 – Razão e imitação - Antonio Candido inicia suas reflexões sobre o primeiro conceito-chave desse período. Fala para não esquecermos que a idéia-força do Arcadismo português foi polêmica porque tratava de opor e, por isso, foi um movimento eminentemente crítico. Como conseqüência, prezou-se na poesia alguns valores que eram atribuídos à prosa como ordinários: clareza, ordem lógica, simplicidade e adequação ao pensamento. Segundo Candido, esta reconquista da naturalidade dá feições clássicas ao período, pois é ligada a uma estética em que a palavra deve exprimir a ordem natural do mundo e do espírito.

Antonio Candido fala que o Arcadismo em Portugal integra um movimento amplo de renovação cultural e que homens como Verney e Ribeiro Sanches queriam introduzir na pátria o novo espírito filosófico, impregnado das orientações do racionalismo e pós-racionalismo anglo-francês. Na literatura defendiam uma poesia lógica, sem artifícios nem surpresas marcantes.


A literatura francesa precisava de um movimento exatamente oposto ao racionalismo estético. Já em outras partes, como na Itália e Portugal, esse movimento (que o autor chama de dieta magra) vinha corrigir os excessos de um século destemperado, que criou produtos excelentes, mas depois descaiu na orgia verbal. Por isso, os árcades se empenhavam nas duas penínsulas em retomar o decoro e a dignidade da expressão à prosa.


Estas idéias são o ponto de referência da teoria literária do século XVIII em quase toda a Europa. Embora fosse conhecida em Portugal nos fins do século XVII e início do XVIII, só ganham força em meados do século XVIII com o movimento da Ilustração, comandado por Verney.


Verney


Antonio Candido agora abre um subitem para falar de Verney. No seu livro Verdadeiro Método de Estudar, Verney se encontra muito próximo dos teóricos franceses posteriores a Boileau, que despoetizaram ao máximo a teoria poética, mas alguns deles também insistiram no gosto como critério de apreciação. Extremado racionalista, para ele poetar dependia de conhecer as normas da poesia e quando alguém as abandona e confia na inspiração, desanda.


Verney, como homem do seu tempo, também aceita o progresso na literatura e entende que os contemporâneos estavam mais aparelhados para escrever bem, graças à superação dos antecessores pela assimilação do seu exemplo. Enquanto essencialmente pedagogo, a poesia só lhe interessa como instrumento e exercício mental. Repudiava nela os aspectos mais livres e pessoais, para guardar os que se enquadrassem no preceito didático.


Chegou a criticar o próprio Camões, culpando-o de preciosismo nos sonetos e nos Lusíadas, dizendo sentir lacunas de instrução que enfraquecem a poesia. (Isso é brincadeira, né?!!). Por isso, Candido anota o supremo pedantismo deste homem, assim como o do século que ele exprime, cujo racionalismo tendia a um utilitarismo didático que é a própria negação da arte. Mas o nosso autor não deixa de ver nas reflexões antipoéticas de Verney um elemento justo e fecundo, pois repudiava a mania versejante do tempo, reservando o exercício do verso às vocações verdadeiras, dos que fossem capazes de escrever com lógica, naturalidade e modernidade.


Cândido Lusitano


Noutro subitem o autor fala sobre Cândido Lusitano, pseudônimo árcade usado por Francisco José Freire. Ele reequilibra a situação, defendendo que a poesia não visava o puro deleite, mas que, como as demais produções do espírito, era útil ao progresso moral. No seu livro Arte Poética, empreenderá uma conceituação mais ampla que redignifica a poesia, inserindo-a, simultaneamente, nas aspirações do tempo e na tradição clássica. Candido afirma que o seu tratado pode ser considerado pedra fundamental da poesia arcádica portuguesa, pelo seu caráter de superação do cultismo, a imitação da poética franco-italiana e o intelectualismo suavizado pela fantasia.

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