segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mácio Alves de Medeiros [22-11-2008]



Editora Martins, 1971:
DE: p. 58: "Deístas, céticos, ateus; materialistas, empiricistas, sensualistas,"...

ATÉ: p. 62: ..."imagens pastorais, como Garção, Gonzaga, Silva Alvarenga."
[do subitem Bucolismo do Cap 3 Natureza e rusticidade]


Capítulo I – Razão, natureza, verdade
Item 3 – Natureza e rusticidade




A dialética do natural e do racional persiste no comportamento setecentista, embora se perceba que o século XVIII tenha sido um período de transição. A percepção do eu e do outro como representações da existência pessoal mas também do mundo exterior combinava com a revolução que ressaltava o sentimento e estava implícita no empirismo por meio da literatura de Rousseau. E isso demonstrava já a prevalência da magia sobre a simetria matemática, não significando, contudo, a mudança total de paradigmas, mas o fortalecimento do conceito de Natureza, da valorização da emoção, da leitura em voz alta, do recitador enfim, do sentimento do interlocutor, como já frisara Antonio Candido. Fazendo-se uma breve divagação, basta lembrar da multiplicação dos salões de leitura na França do século XVIII, em pleno Antigo Regime que ao proibir uma série de publicações excitava mais ainda a subversão dos leitores. Nesse mesmo contexto, para a valorização da natureza e da rusticidade pode ser representativo o interesse das elites urbanas pela cultura camponesa.


No Brasil, destaca Antonio Candido, a respeito de Silva Alvarenga, tem-se a mera transcrição do preceito horaciano segundo o qual o poeta deveria estar comovido para poder comover. Esse mesmo pensamento também fora defendido, na música, por Emmanuel Bach.


Essa exaltação da sensibilidade como condição na poesia árcade tornou difícil de ser combinada, na obra de Gonzaga, com os elementos racionais. Mesmo assim, a obra de Gonzaga produziu momentos de plenitude da naturalidade, do homem natural com algumas características do seu padrão ideal, embora sua invocação na literatura fosse influenciada por circunstâncias históricas e ideológicas.


O homem natural


O homem natural tornou-se a representação da bondade, tornou-se o herói destituído do caráter humano da urbanidade e da arquitetura apresentada pelo barroco e pelos sistemas monárquicos. Diferentemente disso, ele representa a contemplação da naturalidade das maneiras e dos sentimentos e a assimilação disso pelo social. O equilíbrio entre a forma e o conteúdo é ao mesmo tempo preenchido pela linguagem do coração e da inteligência.


Grande parte da literatura dessa época se empenha na construção de um ideal que defende o homem natural imbuído dos embates culturais envolvendo o erudito e o popular (se é possível interpretar assim), pois era exigido dele a simultaneidade da razão e da emoção, do simples e do requintado, do rústico e do erudito, do polido e do espontâneo. Inclusive, a este último aspecto (considerado a negação da racionalidade) foi conduzido o ideal de naturalidade, depois que o pensamento setecentista ressaltou a identidade do racional e do natural, rompendo o equilíbrio clássico e instalando a lógica do coração e a dicotomia entre sentimentos espontâneos e a razão raciocinante. No contexto geral, menos no Brasil e em Portugal, a razão raciocinante foi dissolvida – como instância superior na criação literária – com a chegada do Romantismo.


Bucolismo


Por fim, na continuidade das manifestações da naturalidade, ao aspecto do homem natural foi acrescentada a ênfase nos gêneros pastorais, que juntava a tradição clássica com relações humanas simples, sendo interpretada, porém, por normas racionais. Assim, o projeto árcade segue no cumprimento de sua atitude estética de tornar equivalentes a palavra e a natureza, substitui a idéia de progresso pela noção de homem natural, acolhendo a utopia em detrimento da nostalgia.

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