sexta-feira, 27 de março de 2009

Peterson Martins

Editora Martins, 1971:
DE: p. 77: “O ambiente para a produção literária nos meados do século...”
ATÉ: p. 80: “...Pela primeira vez bruxuleou uma vaga consciência de integração
intelectual no Brasil”.


CAPÍTULO II
Transição Literária

1 Literatura Congregada

Neste segundo capítulo intitulado Transição Literária teremos o percurso traçado pela literatura colonial em seu processo de amadurecimento que culminará na literatura nacional desenhada mais solidamente no Romantismo. O primeiro tópico, Literatura Congregada, de que fiquei responsável, trata dos primeiros passos na organização literária brasileira e da função primordial que as arcádias literárias exerceram nesse importante papel de organização não apenas dos produtores, mas também na construção da crítica e do embrião de um mercado consumidor da produção literária que ainda era um autopúblico. Nas importantes funções dessas agremiações literárias que floresceram, sobretudo, na região das Minas Gerais, tal como aponta Antonio Candido, teremos uma certa abertura social na participação delas, embora a exclusão de negros ainda fosse algo marcante na maioria de tais agrupamentos, excetuando a Academia dos Renascidos.



Voltando um pouco ao início do texto é interessante percebermos como essas agremiações literárias coloniais, fortemente influenciadas pela ideologia e princípios da metrópole lusitana, irão, paulatinamente, construindo uma idéia de emancipação política, e, sobretudo, de emancipação econômica de Portugal, influenciadas, ironicamente, pelos mesmos princípios ilustrados pelos quais tanto simpatizava o Marquês de Pombal.


O contexto do Brasil do século XVIII não era dos mais estimulantes, pois até mesmo em períodos anteriores os grandes produtores do barroco literário brasileiro, para terem um certo reconhecimento deveriam obter aprovação na metrópole portuguesa – o que funcionava como um grande poder censurador. Assim, nesse período tivemos a proliferação (de acordo com Candido) de uma subliteratura, graças a essas agremiações literárias (denominadas arcádias ou academias) que irão surgir mesmo bem antes do Arcadismo (pois na fase final do Cultismo barroquiano já se havia iniciado uma associação de produtores literários e intelectuais).


Dentre esses tipos de agremiações literárias, Candido aponta três tipos: permanentes, temporárias e ocasionais. As primeiras, portanto, teriam um caráter mais duradouro, pois se propunham a ser associações culturais, enquanto que as outras duas eram criadas por ocasião de comemorações. Dentre as que tiveram importante papel no amadurecimento literário temos as do primeiro tipo, onde se enquadram: a Academia dos Renascidos em Salvador (que teve um caráter mais popular, inclusive com associação de negros e membros de categorias profissionais desprivilegiadas); a Academia Científica no Rio de Janeiro (fundada, inicialmente, com o intuito de subsidiar o Reino quanto a melhor forma de explorar a colônia, mas que irá extrapolar sua função e se tornará um importante centro educador e formador de homens de ciência); e a Sociedade Literária, também na cidade do Rio de Janeiro, que segundo Candido não era “mais uma Academia: incorporando ao espírito associativo às diretrizes da Ilustração, é um meio caminho para os grêmios liberais de caráter quase sempre maçônico...”.


Prosseguindo em nossas reflexões, percebi que quando relacionamos as observações de Bosi em sua História Concisa da Literatura Brasileira ao trecho em que fala da Arcádia e da Ilustração a química que agitava essas congregações brasileiras fica mais clara. [vejam p. 55-59, 1997].



De tudo isso, pude concluir que foi a partir dessa congregação literária que o delineamento ideológico ilustrado começou a ser construído em um movimento emancipatório que, a princípio, foi despretencioso, pois os inconfidentes, no início, só queriam impedir a Derrama; e muitos (inclusive o nosso Tiradentes) eram contrários à abolição da escravidão, tal como apontam estudos históricos mais recentes. Mas com a disseminação das associações culturais que congregaram os intelectuais e representantes do povo, foi possível redesenhar o sonho da nação brasileira. Isso tudo me faz lembrar aquela música do Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawai): “sem querer eles nos deram as chaves que abrem essas prisões”.

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