sábado, 29 de agosto de 2009

Carmela Carolina Alves de Carvalho




Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara









Carmela Carolina Alves de Carvalho [29-8-2009]





Editora Martins, 1971
da p. 119: “E, mais próximo aqui de Horácio, a visão burguesa da decrepitude:
Mas sempre passarei uma velhice
muito menos penosa.” [...]
Até p. 122: [...]”A suprema importância de sua obra é a maturação do psicologismo esboçado naquele poeta, mas que só avulta com ele e Bocage”.




Segundo Anacreonte, seu mestre, a velhice traz o lamento pela fuga da juventude. Mas Gonzaga retoma seu mestre consolando-se com a paz doméstica da velhice, aproximando-se de Horácio:


Mas sempre passarei a velhice
muito menos penosa.
não trarei a muleta carregada,
descansarei o já vergado corpo
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada.

As frias tardes, em que negra nuvem
os chuveiros não lance,
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno
onde os membros descanse,
e ao brando sol me aquente.
(I, 18)


“O meu Glauceste”

Se o amor pela mocinha de Vila Rica foi de grande influência na sua vocação, é necessário, entretanto, assinalar outra grande influência: a de Cláudio Manuel da Costa. Gonzaga por pertencer à nova geração, recebe a influência da Arcádia Lusitana, consequentemente de Cláudio. Quando chegou aqui, ligou-se ao amigo mais velho que apontou o caminho da poesia ao talento que fora logo pressentido e manifestado.

A intimidade entre eles fica sempre patente, como nos Autos da devassa, onde podemos observar que Cláudio o aconselha em matéria poética. Num de seus poemas, querendo traçar o perfil do poeta, diz:

e o terno Alceste chora
ao som dos versos, a que o gênio o guia (I,6)


Na Lira 31 da 1 Parte, o elogio:

Porém que importa
não valhas nada
seres cantada
do teu Dirceu?
Tu tens, Marília,
cantor celeste;
o meu Glauceste
a voz ergueu:
irá teu nome
aos fins da terra,
e ao mesmo Céu.

Em outra lira mostra o orgulho que sentia por ser admirado por Cláudio:


Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste,
nem canto letra que não seja minha. (I, 1)


O último verso parece indicar, da parte de Gonzaga, desvanecimento, não de quem estreia, mas de alguém que começa a poetar com verdadeiro discernimento e força para prosseguir.

Devido à contenda com a Governador Luís da Cunha Menezes, o sentimento por justiça e o ardor combativo reforçariam o apego ao amigo, que contribuiu para interessá-lo pela Inconfidência, onde teve um papel marginal, se é que teve algum.

O profundo amor que Cláudio possui pela terra mineira teria passado em parte ao luso-brasileiro Gonzaga.

Essa fraternidade não tinha ciúmes: a obra de Gonzaga de certo modo superou a obra de Cláudio, ao trazer para a literatura luso-brasileira um tom mais moderno dentro do Arcadismo, levando a naturalidade a um plano mais individual e espontâneo, que na geração anterior ainda é quase acadêmica.



Dirceu transfigurado

Na literatura brasileira, Gonzaga foi dos seus maiores poetas, junto a outros que contribuíram para a construção de uma visão de mundo nossa. Nele, a pesquisa neoclássica da natureza alcança expressão mais humana e artisticamente mais pura, libertando-se do barroco e do prosaísmo.
Antes da prisão, na primeira fase de sua poesia, prefere o verso leve e ataviado. Depois, supera o lado rococó da inspiração, para se concentrar em formas mais severas, mas, paradoxalmente, é do tempo anterior a mais bela de suas odezinhas amorosas:


A minha amada
é mais formosa
que o branco lírio,
dobrada rosa,
que o cinamono,
quando matiza
co’a folha a flor.
Vênus não chega
ao meu amor;
(II,27)



Apura o contraste entre a celebração mitológica da mulher e o senso de realidade. Busca valorizar a vida social, a ordem serena da razão, a beleza e a nobreza das artes da paz, combatendo o falso heroísmo da violência:


Um pouco meditemos
na regular beleza,
que em tudo quanto vive nos descobre
a sábia Natureza.
(I, 19)


A naturalidade inicial dos árcades nele é recuperada com nota humana. Contra a degeneração da simplicidade despoetizada, ofereceu a vivência calorosa do quotidiano, com uma maturação do psicologismo que só se avultará com ele e Bocage.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto de Carmela Carolina Alves de Carvalho comentado por Afonso Henrique Fávero.
Carmela procurou acompanhar todos os passos contidos nas páginas de que se ocupou. Nesse sentido foi um trabalho de concentração, minucioso, preocupado em não deixar nada para trás. Felicito-a pela tarefa cumprida.
Por outro lado, é preciso apontar uma adesão exagerada ao texto do autor, inclusive com reprodução de suas expressões, cujo resultado acaba sempre em diminuição do potencial crítico. Recebemos do nosso "sanfoninha" a orientação de evitar tal procedimento, substituindo-o por uma leitura mais pessoal de nossa parte. Também creio que aí está o melhor caminho, mesmo com o risco de algum distanciamento em relação às idéias de Candido.
Em tempo:
Lembro-me de nossas antigas reuniões presenciais em que perguntei ao grupo, a propósito de uma afirmação na página 121 (“Em nossa literatura é dos maiores poetas, dentre os sete ou oito que trouxeram alguma coisa à nossa visão de mundo.”). Repito a pergunta aos interessados: quem seriam os outros seis ou sete poetas até o período em que Candido redige seu FLB?
Abraços a todos

Anônimo disse...

4-9-2009 - comentário de
Cássia de Fátima Matos dos Santos:

Um dos aspectos que mais me chamou a atenção no trecho comentado por Carmela foi a relação que Candido realça entre Gonzaga e Cláudio, sendo este último uma espécie de mentor daquele, admirando-o e estimulando-o diante das novidades que a poesia do poeta mais jovem apresentava. Fato que Candido destaca como qualidade do poeta mais velho, tendo em vista que este, ao invés de rejeitar ou condenar, como normalmente fazem os mais velhos com aqueles que inovam na literatura onde antes eles produziram, o incentiva. Vejo um esforço muito interessante de Candido em dar um sentido construtivo, por assim dizer, a esta relação. Explico: quer dizer, eu penso que faz parte da ideia mesma do processo formativo, em que um poeta vai encadeando no outro a sua forma ou ensinamento, como preferir. Sendo assim, a ideia de continuidade parece estar aí embutida, em que, sob a maturidade de Cláudio, Gonzaga foi estimulado, produzindo uma obra de qualidade mais rica do que os seus colegas árcades e nesse processo algo vai se acumulando.

Outro aspecto a ser destacado é o aproveitamento que Candido faz dos itens da biografia de Gonzaga. Segue, portanto, o método do autor, em que, os elementos exteriores ao poema, como a vida do autor por exemplo (ele reitera “anterior à prisão; “depois da prisão”, demonstrando a diferença na feitura do verso de antes e depois), são utilizados para a sua leitura mais inteiriça, na medida em que se expõem no poema e dão os indicativos para o intérprete literário.

Outra afirmação de Candido que se encontra bem no finalzinho do texto comentado é sobre o quanto a poesia de Gonzaga ganha em vida no sentido mais humano e natural do termo, se comparado aos outros, pois o poeta contrasta o teor mitológico com que celebra a mulher com o senso de realidade.



Um abraço,

Cássia.