terça-feira, 14 de julho de 2009

Arandi Robson Martins Câmara





Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos dos Santos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr





Arandi Robson Martins Câmara [11-07-09]





Editora Martins, 1971:
da p. 115: "Para podermos formar juízo, é preciso mencionar pelo menos três pontos:"...
[parágrafo anterior ao subtítulo Presença de Marília]
até p. 119: ... "diz retomando Anacreonte:
Já me alvejam as têmporas e a cabeça é calva: já passou a cara juventude e os dentes se arrruinaram. Resta pouco tempo da doce vida."




Neste tópico Antonio Candido enfoca a poesia de Tomás Gonzaga. Essa apresenta-se como fenômeno vivo e autêntico por ter brotado de experiências humanas palpitantes. Antonio Candido afirma que o poeta Gonzaga existe, realmente, de 1782 a 1792: poeta de uma crise afetiva e de uma crise política. O problema consiste em avaliar até que ponto a Marília de Dirceu é um poema de lirismo amoroso tecido à volta dessa experiência concreta ou o roteiro de uma personalidade, que se analisa e expõe, a pretexto da referida experiência. É certo que os dois aspectos não se apartam, nem se apresentam como alternativas. Mas também é certo que o significado da obra de Gonzaga varia conforme aceitemos predominância de um ou de outro. Para podermos formar juízo, é preciso mencionar pelo menos três pontos: a sua aventura sentimental, a sua formação poética, as características de sua poesia.



PRESENÇA DE MARÍLIA



Antonio Candido diz que Gonzaga é dos raros poetas brasileiros, e certamente o único entre os árcades, cuja vida amorosa tem algum interesse para a compreensão da obra. Primeiro, porque os seus versos invocam a pastora Marília, segundo, porque eles criaram com isto um mito feminino, dos poucos em nossa literatura.


A partir daí Candido destaca versos de Gonzaga sobre a temática de Marília tecendo reflexões: os versos a seguir caracterizam-se por uma presença física de Marília, concretamente sentida:

Quando apareces
na madrugada,
mal embrulhada
na larga roupa,
e desgrenhada,
sem fita ou flor;
ah! que então brilha
a natureza!
Então se mostra
tua beleza
inda maior. ( I, 17 )






Nos versos seguintes, Antonio Candido assinala na musa a presença, sugerida por Gonzaga, de um leve esnobismo de mocinha fina:


É melhor, minha bela, ser lembrada
por quantos hão de vir sábios humanos,
que ter urcos, ter coches e tesouros
que morrem com os anos;



O autor continua viajando nas veredas dos versos do árcade, lembrando também que, sob esta Marília dos poemas, podem na verdade ocultar-se pedaços de Lauras, Nizes, Elviras, Ormias, Lidoras e Alféias, que o poeta cantara em versos anteriores.



Eu não sou, minha Nize, pegureiro
que viva de guardar alheio gado.


A predominância do ciclo de Marília é quase toda a sua obra: seria realmente pouco vulgar que apenas aos quarenta anos tal poeta abrisse as asas, e o fizesse de maneira desde logo tão consumada.


Foi um acaso feliz para a nossa literatura esta conjunção de um poeta de meia-idade com a menina de dezessete anos. O encantamento de um amor refinado em relação à moça em flor é descrito nos versos abaixo:


Ah! Enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós na face irada,
façamos sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos (...)




O amor entre o homem mais experiente com a menina em flor é descrito de forma bastante objetiva na poesia de Gonzaga. Nesta perspectiva, Antonio Candido afirma que na poesia de Tomas há uma substituição da antiga pena de amor, como impaciência sensual, pela aspiração ao convívio doméstico, que coroa e consolida os amores da mocidade. São numerosas as suas liras de celebração do lar e de sonhos de vida conjugal. Por isso dignificam os sentimentos cotidianos, superando os disfarces alegóricos que o Arcadismo herdou da poesia seiscentista e quinhentista. Marília aparece então realmente como noiva e esposa, desimpedida de toda a tralha mitológica, livre da idealização exaustiva com que aparece noutros poemas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Breve comentário do texto de Arandi

No trecho da Formação da literatura brasileira comentado pelo amigo Arandi, despertou-me a atenção a conjugação que Antonio Candido realiza entre a “vida” de Tomás Antônio Gonzaga e a concretização de sua obra poética. Há uma consonância entre biografia e literatura que resulta em uma obra original para os padrões estéticos do Arcadismo. Também achei interessante a concepção de Candido referente ao amor do eu-lírico devotado à Marília: um amor maduro, que foge ao idealismo amoroso tão comum à poesia lírica.

Marcel Lúcio