domingo, 5 de abril de 2009

Renan Marques Liparotti [4-4-2009]


Editora Martins, 1971:
de: p. 81: "Nos documentos publicados por Lamego é patente o nativismo"...
até: p. 84: ..."a expressão do coletivo, de que não se destacavam as personalidades de pouco relevo."


CAPÍTULO II – TRANSIÇÃO LITERÁRIA
2
Grêmios e Celebrações



Os Renascidos

O tópico sobre o qual o colega Peterson versou seu texto introduziu a noção de literatura congregada, importante para entendermos o início da formação de um sistema mesmo que caracterizado ainda por um autopúblico formador de uma subliteratura.

No tópico dois, Grêmios e celebrações, Candido irá expor características importantes de academias que se destacaram como a dos Renascidos e a dos Seletos.

A Academia dos Renascidos adquirirá significação por englobar autores pernambucanos, paulistanos e mineiros, havendo pela primeira vez um sopro de integração entre os intelectuais no Brasil que irá se traduzir numa vaga consciência de integração.

Outro aspecto interessante é o fato de os Renascidos terem tratado do nativismo, elucidando pontos da história local e se preocupando com a imagem do índio. Este, por exemplo, foi considerado, pela primeira vez, “menos bruto do que parece” e se concluiu, num dos poemas, que este povo não merecia o tratamento até agora adotado.

Dentro dessa temática, destaca-se ainda a preocupação com o caso de Diogo Álvares Corrêa – o Caramuru – que exprime a visão de nossa gênese histórica e social, tema esse recuperado por Santa Rita Durão – o que corrobora o início de um sistema literário no Brasil. Mostra-se como desejo, inclusive, a composição de uma epopéia nativista, dando categoria estética aos feitos da crônica local. A academia, todavia, se decompôs antes de terminar esse feito que, ao que parece, permaneceu no estado de esboço publicado por João Lúcio de Azevedo.

Os Seletos

Outra academia em destaque se mostrou a dos Seletos que, ao que parece, foi menos ambiciosa e menos significativa, pois já nos objetivos prenuncia um malogro estético, por ser unicamente destinada a celebrar Gomes Freire de Andrada.

Quanto a essa é interessante recuperar a ênfase crítica dada por Candido ao afirmar que as introduções do secretário, os discursos do presidente, as poesias dos acadêmicos, nada valem esteticamente. "Desnudam uma subliteratura de fiteiros, glosando, adulando, comprazendo-se em equívocos e trocadilhos, exibindo-se por meio da negaça e da falsa modéstia". [p. 82].

Os textos dessa academia eram feitos para se elogiar um poderoso, cultuar um santo ou celebrar um acontecimento, de forma que acabavam se tornando extremamente demagógicos contribuindo para a formação de um ciclo de elogios mútuos que provocava o fechamento da academia aos membros da sociedade que não tivessem uma condição sócio-econômica destacada. Inicia-se, com isso, também, a definição do status de letrado.

Nos poemas, percebe-se uma quantidade exorbitante de elogios que diversas vezes ofuscavam a intenção inicial do texto, tornando-o ainda mais pobre esteticamente. Isso se observa ao observarmos que o principal recurso na construção desses textos foi o símile que se mostra um dos mais usuais recursos e que, afora isso, não havia individualidades, mas o estilo coletivo de um grupo homogeneamente medíocre.

Isso se corrobora se conferirmos um trecho em que Otávio Paz (1982:20) em que afirma: “Quando um poeta adquire um estilo, uma maneira, deixa de ser um poeta e se converte em construtor de artefatos literários”. Se isso ocorre com um poeta, imagine com um grupo... Não é estranho, portanto, o tratamento enfático de Candido.

O valor dessas obras, segundo Candido, se mostra mais documental do que estético. Uma fonte na qual se bebe a mentalidade duma camada social, através de seus porta-vozes ideológicos. Nesse sentido, deve-se destacar a participação maciça do clero, tanto individualmente como também, no caso dos regulares, que disciplinadamente se misturavam na massa amorfa que se caracterizava a produção coletiva.

Dessa forma, por meio destes documentos, pode-se constatar o monopólio da instrução colonial que garantia os padrões de rotina e tradição literária, os valores de devoção e lealdade à Igreja e à Coroa, em colaboração com magistrados e militares.

As exéquias de Paracatu

Nesse contexto se destacam “As exéquias de Paracatu”, texto encomendado para homenagear Dona Maria Francisca Dorotheia, Infanta de Portugal, filha de D. José I.

Conclui-se, dessa forma, que apesar de apresentarem características significativas para a formação de nossa literatura como a abordagem do tema nativista, o início de uma integração intelectual, o início da formação de um sistema literário, os letrados formavam ainda um grupo que se separava da massa na medida em que integrava os quadros dirigentes na política, na administração, na religião.

Agora, neste INÍCIO foi assim, a literatura engatinhava como atividade grupal. Os grupos ainda eram homogêneos pela falta de expoentes que se libertassem dos valores dominantes e criassem estilos individuais que só quando somados formariam o aspecto grupal. Isso começará a ocorrer, paulatinamente, como bem explicitou Peterson, construindo, ironicamente, uma idéia de emancipação política, e, sobretudo, de emancipação econômica de Portugal.

Nenhum comentário: