domingo, 6 de dezembro de 2009

Lígia Mychelle de Melo

Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães


Lígia Mychelle de Melo [05-12-2009]
Edição Itatiaia, 2000:
da p. 135 :"D rima obrigatoriamente com o verso final de cada quadra que compõe a
oitava, que [...]"

até p.139: [...]"Mas quando terá fim o meu tormento?
(XXVI) "

Antonio Candido observa que Manuel Inácio da Silva Alvarenga inventou um tipo de rondó com estribilho, ou seja, com rimas obrigatórias ao fim de cada quadra, o qual foi inspirado na composição da cançoneta “L’estate” de Metastásio:

Più non hanno i primi albori [Não têm mais os primeiros alvores]
Le lor gelide rugiade; [Os seus gélidos orvalhos;]
Più dal ciel pioggia non cade, [Do céu a chuva não cai mais]
Che ristori e l'erbe e i fior. [Que revigore seja as ervas seja as flores.]

Alimento il fonte, il rio [ Alimento – a nascente, o rio]
Al terren più non comparte [Ao terreno mais não comparte]
Che si fende in ogni parte [Que se fende em cada parte]
Per desio di nuovo umor. [Por desejo de novo humor.]


[Tradução literal e exegese de Massimo Pinna: a 2a.estrofe diz que a nascente, o rio, não dá mais alimento ao terreno, que se resseca quebradiço, ansioso pelo
líquido]

Conforme podemos observar na composição acima, a palavra “fior” do quarto verso rima com “umor” do oitavo verso; o poema obedece ao esquema de rimas externas ABCD EFFD. Geralmente essas rimas são terminadas em ar, er ou or, o que favorece a excessiva melodia. No caso aqui específico as rimas são terminadas em or. Tal modelo de poema se assemelha às cantigas, às letras de modinha e traz ao Arcadismo brasileiro a musicalidade, a sensibilidade e a popularidade, bem ao nosso gosto, que prenunciam a arte romântica.
Outro ponto observado por Antonio Candido é que Alvarenga é o único poeta árcade que “deixa de lado carneiros e ovelhas” e passa a cantar em sua poesia a cobra, a onça, o elefante etc. Entanto, os animais mais caros em seus versos são a pomba branca e o beija-flor, os quais aparecem como representações de sua atividade amorosa:

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Neste bosque alegre e rindo
Sou amante afortunado;
E desejo ser mudado
No mais lindo beija-flor.
Todo corpo num instante
Se atenua, exala e perde;
É já oiro, prata e verde
A brilhante e nova cor.
[...]

Nesse rondó podemos observar a presença do beija-flor identificado com a sensualidade; a exaltação da natureza; a facilidade das rimas; (terminadas em or); a espontaneidade dos versos; a musicalidade e o sentimentalismo. Assim, podemos dizer que Silva Alvarenga, ao imprimir em sua poesia “certos tons da nossa sensibilidade”, tentou escapar dos valores universais defendidos pela arte neoclássica (que destoam da nossa realidade local) e deixou se guiar pela intuição. Por isso é tido por Cândido como o mais sentimental comparado a Gonzaga e a Cláudio Manuel.
E, “se não vibrou em seu verso a humanidade profunda de Gonzaga, nem a visão plástica de Cláudio Manuel”, é preciso reconhecer que ele soube bem colorir seus versos com nossa brasilidade e, assim como Basílio da Gama, antecede características da poesia romântica.

Um comentário:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Carmela Carolina, sobre a leitura de Lígia [12-4-2010]:


Meu comentário enfim chegou!!!


O texto de Lígia deixa claro o que ela pretende expor, entretanto se formos seguir à risca a nossa leitura do livro Formação da Literatura Brasileira, ainda foram deixadas algumas lacunas, tais como: o sistema de rimas e a constância da rendondilha isorrítmica que Alvarenga criou, foram utilizados largamente por ele nas árias de dramas e cantatas, fazendo com que se variasse bastante a forma como a rima se encadeava. Na cançoneta L' Estate é o único caso que não a utiliza como ária, todavia ele utiliza em toda sequência do poema as quadras justapostas. Costa e Silva percebe a forma como Alvarenga corta musicalmente as estrofes, como buscou acentuar os versos de forma bem calculada para as cláusulas do canto, como ele escolhia e dispunha as rimas. É conhecido o estudo que o poeta fez sobre as cançonetas de Metastásio.

Faltaram comentários sobre a cançoneta do poeta romano, intitulada Estio, onde é visto que o ritmo de Glaura, tão brasileiro e tão popular, vem das línguas românicas e que seu autor, Manuel Inácio, percebeu que essa melodia se encaixava perfeitamente ao verso leve português e à nossa tendência para a melodia epidérmica, afirmando, desta feita, a nossa tradição da estrofe isorrítmica.
Faltou citar a ternura brasileira que passou a se apresentar mais nos poemas amorosos, o ritmo passou a ser mais fácil, e a imagem, a ter mais um toque de sabor, passando de cançoneta erudita para o violão.

Gostei do texto dela, pois ela se mostra bem familiarizada com o tema.

Abraços,

Carmela Carvalho