terça-feira, 6 de outubro de 2009

Edlena da Silva Pinheiro



Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Ligia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos








Edlena da Silva Pinheiro [26-09-2009]




Formação da Literatura Brasileira
Edição: Martins, 1971:
da p. 127 : "capítulo 3. O DISFARCE ÉPICO DE BASÍLIO DA GAMA" [...]
até p. 131: [final do poema:][...] "Mil vezes, e mil vezes solta o arco
Um chuveiro de setas despedindo."


Nesta parte, Antonio Candido comenta o poema Uraguai, de Basílio da Gama, e o vê nao como um poema épico, mas primeiramente como lírico. O tema do poema é a expedição dos portugueses e espanhóis contra as missões dos jesuítas no Rio Grando do Sul (1756), para executar o Tratado de Madrid, firmado entre Portugal e Espanha para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas. Utilizando o índio como elemento representativo do Brasil, Basílio da Gama oscila entre o encantamento com o pitoresco e a ordem social européia, diferentemente de Cláudio Manuel da Costa, que se identificava claramente muito mais com a paisagem nativa.


Essa indecisão de Gama, pois até mesmo contra os jesuítas percebe-se o ataque do poeta, todavia, não deixa de revelar a simpatia pelo elemento mais fraco, o que significa uma prevalência da emoção contra o racionalismo. As duas partes do poema, a dos versos e a das notas, sao complementares, sendo as notas imprescindíveis para a compreensão do texto e perceber o combate aos jesuítas e a exaltação ao Marquês de Pombal. Assim, o uso da prosa para o expressão ideológica torna o poema mal construído, pois mostra a incapacidade do autor em ideologia em poesia épica. Entretanto, a plasticidade, fluidez e movimento dos versos decassílabos soltos de Basílio da Gama fazem do Uraguai uma obra brilhante do ponto de vista estético, apreciada pelos árcades e usada até como modelo pelos românticos, como Gonçalves Dias.


Antonio Candido utiliza trechos do poema para ilustrar o aproveitamento das leituras clássicas de Basílio da Gama, que cita Virgílio, Petrarca, Camoes em versos cujas combinações lhe dão verdadeiro movimento. Já as imagens relacionadas ao mar mostram a influência do poeta pela cidade do Rio de Janeiro, onde se educou e estava ligado pela família e amigos. Na última citação, Candido mostra como os dois elementos – europeu e índio – são apresentados através de diferentes espaços e como a batalha é o espaço novo, onde esses dois elementos se confrontam. O poeta simpatiza com o selvagem, mas se conforma com a ordem do civilizado. Seria também essa uma das razões que fazem o crítico afirmar que Basílio da Gama usa o épico como disfarce, pois o conflito cultural passa a ser mais importante que contar fatos heróicos da guerrilha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Medeiros [9-10-2009]:


Quando aponta alguns aspectos problemáticos de construção literária do Uraguai, Antonio Candido permite ao leitor perceber mais amplamente a dificuldade a que está submetida qualquer literatura em formação, como a nossa árcade, dificuldade renovada a cada tentativa de elaboração de um poema épico. E não faltam razões para tanto. Por tradição de gênero, o canto épico resulta da combinação de densidade cultural e solidez histórica para revelar o caráter de um povo. Os conteúdos épicos são afirmativos de civilidade consolidada, as suas formas discursivas tendem à expressão afirmativa, em defesa de. Entretanto, a cultura de um povo em formação, e a literatura deixa transparecer, carece de tais substâncias. Como ensina Antonio Candido – e Edlena sublinha as estratégias de forma e conteúdo de Basílio da Gama – em lugar da peculiaridade de um povo [material épico], predominam os traços de personalidades, de indivíduos [deslumbramento, lirismo]; em vez do andamento temático “pró”, a situação histórico-literária brasileira ainda demandava um confronto político “antijesuítico” anterior à definição da identidade nacional. A escassez da experiência histórica, natural no processo formativo de um povo, pode justificar a fragilidade épica da tentativa e realização de Basílio da Gama.