sábado, 24 de março de 2018




Peterson Martins





Rochele Kalini
Rosiane Mariano
Terezinha Marta de Paula Peres
Thayane de Araújo Morais

Adriana Vieira de Sena
Afonso Henrique Fávero
Alynne Ketllyn da Silva Morais
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Bethânia Lima Silva
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Érika Bezerra Cruz de Macedo
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis
Érika Bezerra Cruz de Macedo
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Laís Rocha de Lima
Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro Saraiva
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Maria Valeska Rocha da Silva
Massimo Pinna
Paulo Caldas Neto





Peterson Martins  [24-03-2018]


Edição: Martins, 1971, VOL.2:
da p.  194:      [visor p. PDF: p. 502]   [capítulo  6. O “belo, doce e meigo”: Casimiro de Abreu] “Há nessa geração um momento” [...]                                                                                       
até a p. 197:   [visor p. PDF: p. 504]    [...]“É a anestia da razão pelo feitiço da sensibilidade".


O MORMAÇO DOS POMARES DE CASIMIRO

O Mestre-Açu outra vez nos faz adentrar na atmosfera de uma análise lírica coerente. Esse intento está bastante claro: Candido pretende nos tirar da acédia mental e trazer o óbvio que insiste em ficar sob a penumbra da maioria dos livros didáticos brasileiros de literatura para o Ensino Médio.

Tendo como referencial inicial o insigne ensaio de Mário de Andrade (Amor e Medo), Candido, em análise arguta, descortina alguns aspectos que desfilia Casimiro de Abreu da estética do ultrarromantismo. Os primeiros passos dessa observação se estabelecem com a percepção de que não encontramos, na lírica casimiriana, nem o cronotopo noturno e sombrio dos ciprestes funérios alvarianos e nem a angústia das vigílias infindáveis de Junqueira. Pelo contrário, o clima é ameno e diurno em que o eu-lírico colhe flores no jardim para despetalá-las no leito nupcial.

A natureza não é hostil, mas domesticada em jardins e pomares burgueses que, na infância, brincava-se com segurança e, nos ares primaveris da juventude, namora-se ardorosamente em um velado “amor sonso”. Por isso, o próprio epíteto do título (O ‘belo, doce e meigo’), que atribui ironicamente a um dos “avatares do egotismo”, passará completamente à margem do aspecto satânico do ultrarromantismo inglês miltoniano que, depois, foi incorporado por René de Chateaubriand, [um dos grandes ideólogos franceses que irá inspirar o ultrarromantismo português e brasileiro, tal como aponta o Prof. André de Sena Wanderley em sua Tese “Visões do ultrarromantismo: melancolia literária e o modo ultrarromântico”. Nessa obra, Wanderley corrobora as reflexões de Candido e avança no sentido de apontar que Casimiro de Abreu tinha uma proposta estética de um “ultrarromantismo à brasileira”. Essa verificação foi obtida no prefácio de “As Primaveras” (datado de 20 de agosto de 1859) em que claramente Casimiro propõe um rompimento com diversos aspectos melancólicos de Chateaubriand: “O filho dos trópicos deve escrever em uma linguagem – propriamente sua – lânguida como ele, quente como o sol que o abrasa, grande e misteriosa como as suas matas seculares; o beijo apaixonado das Celutas deve inspirar epopeias como a dos – Timbiras – e acordar os Renés enfastiados do desalento que os mata”. ]

Esse ultrarromantismo à la brasileira que Casimiro propõe teria, por isso, a máscara da contenção da carnalização amorosa no que Candido denominou de “amor sonso”, por isso chega a afirmar que Casimiro talvez tenha sido o “mais feliz na vida dos instintos” transposto e revelado pela carnalidade do beijo dado na languidez, pureza e inconsciência de corpos absortos no “mormaço dos trópicos” em meio a “laranjeiras, mangueiras e regatos”.

Isso se revela na polifonia dialética do elemento flamígero a queimar os versos de Amor e Medo das metáforas mais que explícitas:


Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.

Depois… desperta no febril delírio,
– Olhos pisados – como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?…
Eu te diria: desfolhou-a o vento!…  


Assim é um ledo engano atribuir a dimensão melancólica a Casimiro, pois sua lírica está muito mais relacionada à dimensão disfórica da súbita e provável languidez proporcionada pelas primícias sexuais.  








Um comentário:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Terezinha Peres comentou em 24-03-2018 a leitura de Peterson Martins:

Antonio Candido nos mostra o quão leve é a poesia de Casimiro de Abreu. Leve por ser carregada de sentimentos, de amor representado sem contornos ou rodeios, como se a natureza física falasse aos que já experimentaram as delícias do encantamento e os reportassem aos encontros secretos por entre as laranjeiras, os manguezais, ao som dos pássaros, sob o testemunho da lua. A evocação da natureza, por meio do eu-lírico, como “pura expressão da sensibilidade”, mesclada à “saudade, à ternura e ao desejo”, parece falar diretamente aos apaixonados de alhures e aos de agora, confirmando assim as características poéticas do “belo, doce e meigo” Casimiro de Abreu.