sábado, 4 de maio de 2013


Giorgio de Marchis





Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Paiva
Laís Rocha de Lima
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Maria Valeska Rocha da Silva
Massimo Pinna
Mona Lisa Bezerra Teixeira
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Rousiêne Gonçalves
Thayane de Araújo Morais
Terezinha Marta de Paula Peres
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Andrey Pereira de Oliveira
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Arandi Robson Martins Câmara 
Bethânia Lima Silva
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Edlena da Silva Pinheiro
Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti







Giorgio de Marchis    [4-5-2013]



Edição: Martins, 1971:
da     p. 296:      “O leitor de Chateaubriand percebe logo quanto lhe deve Monte
                                                                                                                        Alverne” [...]
até a p. 299:       [...]        "Que no céu rugindo passa.
                                           Hiena que despedaça
                                           Minha mais bela ilusão!”





Formação da Literatura Brasileira nos apresenta um Frei Francisco do Monte Alverne que muito deve a Chateaubriand e também como o autor que primeiro difunde no Brasil uma atitude romântica perante a religião. Deste ponto de vista, extremamente interessante é a análise de Candido das Obras oratórias deste franciscano brasileiro. Nos sermões do autor, a religião se transfigura, através do filtro dum poderosíssimo e incontornável eu, numa aventura pessoal que leva o sentimento religioso à dimensão bem mais vaga, inapreensível e, portanto, romântica da religiosidade.

Apesar da grande unidade de estilo e de temáticas – provavelmente possível graças à revisão dos textos realizada pelo autor, em vista da sua publicação por volta de 1850 – o que predomina nestes textos, segundo Candido, é a acumulação de imagens e conceitos, que aproxima o leitor (ou o ouvinte) ao objeto, sem levar esse mesmo leitor (ou ouvinte) até lá. Recusa deliberada, em suma, de qualquer progressão lógica e linear, sem possibilidade alguma de síntese ou de coerentes conclusões.

Candido, depois de comparar o estilo de Monte Alverne à oratória da época (Januário da Cunha Barbosa) e a inevitáveis modelos do passado (Antônio Vieira), considerando uma possível afinidade com outro orador contemporâneo (Francisco de São Carlos), pergunta-se se não haveria no Brasil daqueles anos uma linha franciscana da oratória poética, evocativa mais do que didática, sedutora mais do que esclarecedora, e, sobretudo, caraterizada por uma desconfiança em relação às possibilidades da palavra.

Como leitor estrangeiro, ao me debruçar sobre um autor como Monte Alverne, pergunto-me se mais do que a dívida para com Chateaubriand não terá maior interesse esta dúvida em relação às possibilidades da palavra. Num Pré-Romantismo que – como noutros contextos periféricos ou semiperiféricos (Itália e Portugal, por exemplo) – interpretava a modernidade através de moldes inteiramente dependentes do pensamento iluminista e, no âmbito mais amplo dum Romantismo prevalentemente interpretado como contribuição cívica e racional do poeta à construção da Nação, não será a oratória de frei Francisco do Monte Alverne uma das poucas frestas através das quais a sensibilidade do eu apaga o Mundo e a emoção romanticamente abafa a lógica linear da razão? Como qualquer leitor de Antonio Candido sabe, longe dos países centrais, a filiação dos textos talvez seja menos interessante que a relação com o seu contexto.

2 comentários:

Paulo Caldas Neto disse...

É até cabível nesse caso uma investigação maior que a de Candido sobre essa relação entre a oratória clássica do fins dos sécs.XVII e XVIII com o nascimento do Romantismo enquanto arte. O gênero Sermão vem tendo pouco olhar por parte dos estudiosos da História da Literatura Brasileira.

Thayane de Araújo Morais disse...

Ainda temos poucas pesquisas sobre a poética, de fato, em Monte Alverne e outros franciscanos (nomes já citados pelo Giorgio) a ponto de caracterizar uma linha da oratória poética. Suas produções são, geralmente, lembradas na história do Brasil sem aprofundamento na contribuição literária. Seria um incentivo a mais para questionamentos acerca dessas personalidades.

A leitura do colega Giorgio sobre Monte Alverne ressaltou os pontos importantes citados por Candido e para além, um convite à reflexão sobre as possibilidades da palavra. Acredito que Monte Alverne tanto desconfiava que conseguiu encontrar alguma dessas possibilidades misturando os elementos característicos do Romantismo a forma de ver a religião. É intrigante o fato de um Frei franciscano, naquele período, não ter como o essencial “argumentar sobre questões de dogma e moral”. Ao que parece a “sensibilidade do eu” se utiliza da religião como meio de expressar esse sentimento.