domingo, 29 de agosto de 2010

Rosanne Bezerra de Araujo



Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Andreia Maria Braz da Silva
Andrey Pereira de Oliveira
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Bethânia Lima Silva
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Edlena da Silva Pinheiro
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Peterson Martins
Rochele Kalini




Rosanne Bezerra de Araujo [21-8-2010]


Ed. Martins, 1971:
da p. 177 [início do Capítulo V - O PASSADISTA - Santa Rita Durão]
“Não são raros num período literário fenômenos de sobrevivência”...
até a p. 179: ... “ ‘[...]não mereciam menos um poema que os da Índia. Incitou-me
a escrever este o amor da Pátria.’ “



Dando início ao capítulo V, “O Passadista”, Candido ressalta que em certos períodos da literatura ocorrem os fenômenos de 'sobrevivência' e 'retrocesso'. No caso de Santa Rita Durão, por exemplo, mesmo pertencendo à geração de Cláudio, o estilo do autor se insere na geração de Gonzaga. Sua obra Caramuru traz um estilo neocamoneano, com traços cultistas misturados aos traços de seu tempo.


Sua tentativa de escrever o Caramuru imitando o gênero épico em plena época de ascensão do romance (transição do século XVII para o XVIII) pode ser considerada um tanto anacrônica. Afinal, trata-se da época do iluminismo, individualismo, racionalismo, não cabendo, portanto, a insistência na épica.


No entanto, Candido ressalta o fato de o contexto brasileiro ser outro. Nessa época, o Brasil afasta-se um pouco desse contexto universal, pois sua literatura ainda encontra espaço para a sobrevivência da épica. Por isso o estudioso afirma que Santa Rita Durão foi "um homem de seu tempo enquadrado na tradição épica".

2 comentários:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Lígia Mychelle de Melo
comentou em 29-8-2010:

O que Candido quer enfatizar em relação a Santa Rita Durão é que, apesar de ele ser um desses casos de “sobrevivência e retrocesso”, ou seja, deslocado de uma determinada escola literária, uma vez que não “se nota em seus versos qualquer influência estilística dos árcades” (2000: p.170), a obra de Durão é significativa e, portanto, não passa despercebida, ao contrário, se destaca justamente pelo estilo épico, neocamoniano, à parte do Arcadismo, é verdade, porém enquadrando-se no contexto de nossa literatura luso-brasileira, representando um caso singular “de tradição inserida em idéias modernas e de idéias modernas vincadas pela tradição” (2000:p.170).

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Rosiane Mariano comenta em 8-9-2010:
O comentário, a seguir, é sobre o estilo neocamoniano de Caramuru, destacado por Rosanne da análise de Candido.
O enfoque inteiramente cristão que Santa Rita Durão, na condição de religioso, ressalta em Caramuru, é a marca que o diferencia do poema de Camões. Com efeito, o poeta mineiro assegura muito mais sua visão religiosa do que a razão pela qual diz ter escrito Caramuru: “o amor à pátria”.
Na estrofe 18, transcrita a seguir, os costumes indígenas, inclusive, que se assemelham à mitologia pagã, são repudiados pela ótica cristã:


Que horror da humanidade! ver tragada
Da própria espécie a carne já corruta!
Quando não deve a Europa abençoada
A fé do Redentor, que humilde escuta!
Não era aquela infâmia praticada
Só dessa gente miseranda e bruta:
Roma e Cartago o sabe no noturno
Horrível sacrifício de Saturno. (4)*

[DURÃO, José de Santa Rita. Caramuru, Lisboa: Imprensa Nacional, 1836, p. 17.]
Já, em Os Lusíadas, a recorrência à mitologia pagã, no canto nono, a partir da estrofe 20, representa, alegoricamente, a recompensa pelas lutas dos navegantes, no momento em que os nautas param para descansar. A exaltação da cultura pagã dá-se através da figura que os nautas avistam “lá no meio / Das águas algũa ínsula divina / Ornada de esmaltado e verde arreio”:


Algum repouso enfim, com que pudesse
Refocilar a lassa humanidade
Dos navegantes seus, como interesse
Do trabalho que encurta a breve idade.
Parece-lhe razão que conta desse
A seu filho, por cuja potestade
Os Deuses faz descer ao vil terreno
E os humanos subir ao Céu sereno.

Isto bem resolvido, determina
De ter-lhe aparelhada, lá no meio
Das águas algũa ínsula divina,
Ornada de esmaltado e verde arreio,
Que muitas tem no reino que confina
Da mãe primeira co’o terreno seio,
Afora as que possui soberanas
Para dentro das Portas Herculanas.

Ali quer que as aquáticas donzelas
Esperem os fortíssimos barões
¬- Todas as que têm título de belas,
Glória dos olhos, dor dos corações –
Com danças e coreias, porque nelas
Influirá secretas afeições,
Para com mais vontade trabalharem
De contentar a quem se afeiçoare¬m.
[CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 320]

*Em nota, no final do “Canto I”, Durão explica o último verso: “Saturno. Os antigos italianos foram, como se colige de Homero, antropófagos; tais eram os Lestrigões e os Liparitanos. Os Fenícios e os Cartagineses usaram de vítimas humanas, e Roma própria nos seus maiores apertos. São espécies vulgares na história” (p. 42, nota 4). In: http://books.google.com.br/books?id=V9wFAAAAQAAJ&printsec=frontcover&dq=caramuru&hl=pt-BR&ei=e36HTJPXJIH-8AbT_pzzAQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCoQ6AEwAA#v=onepage&q=caramuru&f=false