sábado, 6 de maio de 2017





Érika Bezerra Cruz de Macedo






Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Laís Rocha de Lima
Lígia Mychelle de Melo
Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro Saraiva
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Maria Valeska Rocha da Silva
Massimo Pinna
Paulo Caldas Neto
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosiane Mariano
Rousiêne Gonçalves
Terezinha Marta de Paula Peres
Thayane de Araújo Morais

Adriana Vieira de Sena
Afonso Henrique Fávero
Alynne Ketllyn da Silva Morais
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Bethânia Lima Silva
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Érika Bezerra Cruz de Macedo
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis





Érika Bezerra Cruz de Macedo  [06-05-2017]

Edição: Martins, 1971, VOL. 2:
da p.  159:      [visor p. PDF: +-p. 470]    “Raramente, porém, alcança poesia tão boa                 
                                                                  para exprimir os”[...]
até a p. 161:   [visor p. PDF: +-p. 472]       [...] “mas intensos momentos de beleza que
                                                                   logrou alcançar. ” [final do capítulo]


“Havia nele mais dum traço original; é lamentável que a pressão insuportável das condições de vida e um formalismo constrangedor houvessem impedido a sua realização plena, no nível dos poucos, mas intensos momentos de beleza que logrou alcançar”. É com essas palavras que o mestre Candido remata sua incursão na poética contraditória do ultrarromântico Junqueira Freire. Se antes nosso crítico destacara a estreiteza formal e rítmica dos padrões neoclássicos que inspiravam o vate baiano como incongruente à exacerbação de sentimentos que moviam este a uma constante confissão, ocupa-se, agora, em comentar o efeito e a causa que tal dissonância tem em seu feitio literário.


O efeito é o de raramente o poeta produzir uma poesia que tão bem expresse seus dramas. Dentre as exceções, estão alguns versos que, mesmo contidos, transparecem “uma bela e saudável euforia dos sentidos”. O geral, porém, de seus cânticos de dor arrancados das inquietudes do claustro, da solidão, do desejo reprimido, das revoltas pessoais, do remorso e da obsessão da morte é a expressão de um espírito poético oscilante e desprovido de mistério.


Com sua habitual lucidez, Candido discorre sobre a ausência de mistério e de complexidade como a causa que minoriza os bons momentos da produção freiriana. Segundo o crítico, a complexidade de um escritor geralmente deriva de sua “capacidade de ver os próprios problemas por várias facetas, experimentando interiormente com eles, dando-lhes forma pela descoberta de imagens adequadas”. São essas imagens que sensibilizam o leitor, não bastando para isso a mera existência de um drama complicado, porém reduzido à matéria que origina a expressão.


Enquanto os poetas clássicos recorreram à tradição greco-latina, que demandava grau relativamente alto de abstração nas figuras paradigmáticas, míticas ou pastoris, e os românticos, por sua vez, valeram-se de diversas formas sinuosas e musicais para expressar o influxo desordenado das emoções, Junqueira Freire não obteve muito êxito em achar imagens que encarnassem seus sentimentos, bastando alguns extratos de sua poesia para se conhecer o gênio poético que se escondia sob as vestes do monge.


A monotonia presente nas repetidas situações de que o poeta se vale demanda muita seletividade na apreciação de sua obra, a fim de ressaltar seus bons momentos. Um destes é o poema “Morte”, considerado “um travo antecipado de Augusto dos Anjos e da poesia realista da morte”. Eis alguns de seus versos:


Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dois fantasmas que a existência formam,
– Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
Do prazer que nos custa a dor passada.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.

(...)

Amei-te sempre: – e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra – esse elemento;
Que não se sente dos vaivéns da sorte.

Para tua hecatombe de um segundo
Não falta alguém? – Preenche-a tu comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Miríadas de vermes lá me esperam
Para nascer de meu fermento ainda.
Para nutrir-se de meu suco impuro,
Talvez me espera uma plantinha linda.

Vermes que sobre podridões refervem,
Plantinha que a raiz meus ossos ferra,
Em vós minha alma e sentimento e corpo
Irão em partes agregar-se à terra.

E depois nada mais. Já não há tempo,
Nem vida, nem sentir, nem dor, nem gosto.
Agora o nada, – esse real tão belo
Só nas terrenas vísceras deposto.



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