sexta-feira, 20 de dezembro de 2013



Marcus Vinicius Mazzari




Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Maria Valeska Rocha da Silva
Massimo Pinna
Mona Lisa Bezerra Teixeira
Paulo Caldas Neto
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosiane Mariano
Rousiêne Gonçalves
Thayane de Araújo Morais
Terezinha Marta de Paula Peres
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Arandi Robson Martins Câmara 
Bethânia Lima Silva
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Laís Rocha de Lima
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros



 



Marcus Vinicius Mazzari   [21-12-2013]


Edição: Martins, 1971, Vol. 2:  
da p. 24: “Paralelamente, altera-se o conceito de natureza; em vez de ser, como para os neoclássicos, um princípio” [...]

até a p. 26:  [...]”A Nebulosa, em pleno século XIX, já parece erro de visão, parecendo um retardatário.”


Nas suas Confessions, escritas entre 1765 e 1770, Rousseau fala no Livro VIII no propósito de romper bruscamente com todas as “máximas de meu século” (rompre brusquement en visière aux maximes de mon siècle). Embora não citadas por Antonio Candido ao estudar o advento do romantismo no panorama literário europeu, essas palavras de Rousseau ajudariam a elucidar a atitude de contestação e negação que o crítico brasileiro atribui ao movimento romântico em sua totalidade.


Nesse sentido, o romantismo teria retomado uma tendência que já se verificara no arcadismo, mas aprofundando e intensificando a níveis extremos o gesto de resistência aos valores e princípios constituídos, uma vez que “revoca tudo a novo juízo”, promovendo inversões e buscando constantemente o “único”, o elemento irredutivelmente individualizado que se substitui então ao “perene” que constituíra outrora a aspiração dos árcades.


Individualismo e relativismo convertem-se, nesse processo, na base de todas as atitudes românticas, que se opõem abertamente e em todas as instâncias às tendências racionalistas para o geral e absoluto.


As concepções românticas acarretam igualmente profundas transformações no relacionamento humano com a Natureza, que deixa de ser um “princípio” envolto em equilíbrio e classicidade e se torna uma potência inapreensível, incomensurável, perante a qual o ser humano se posta numa solidão sem paralelos em épocas anteriores. Nas manifestações literárias contemporâneas A. Candido vê se reforçarem cada vez mais o senso de isolamento do homem e a tendência para os arroubos individuais e mesmo para o desespero. (Referências ao movimento “Tempestade e Ímpeto”, que prepara o romantismo na Alemanha, seriam aqui plenamente cabíveis.)


Ainda quanto à visão da natureza, uma constatação muito importante nesse subcapítulo diz respeito à “magia romântica”, que teria desalojado inteiramente o “encanto” árcade – essa formulação repercute cinco páginas adiante, quando se fala da “magia” com que poetas associados ao romantismo envolvem a lua, “que deixa de ser a metáfora unívoca, a divindade imutável de todos os momentos, para se tornar uma realidade nova a cada experiência, soldando-se ao estado emocional do poeta”.


No bojo do movimento romântico, a poesia passa a concentrar-se com crescente intensidade na “pesquisa lírica”, o que pode ser observado na linha que leva de Cláudio Manuel da Costa a Gonçalves Dias e, sobretudo, Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. (Para Candido, nessa evolução residiria uma das raízes da expressão lírica de alguns modernos, como o Mário de Andrade dos Poemas da Negra ou o Manuel Bandeira da Estrela da Manhã, em seus “balbucios quase impalpáveis”.)


Contudo, o fruto mais relevante desse desenvolvimento teria sido a consolidação do gênero “romance” no Brasil, um dos mais genuínos produtos do Romantismo. Valeria observar que na própria literatura francesa, o romance, isto é, o moderno realismo de Stendhal e Balzac surge, no ano de 1830, como tributário do Romantismo, conforme as explanações de Auerbach no antepenúltimo capítulo de seu Mimesis (“Na mansão de la Mole”). No Brasil, todavia, esse novo gênero parece ter uma força de atração ainda maior, pois passa a sugar para sua esfera quase todas as manifestações literárias, seja o conto fantástico (A Noite na Taverna), a reconstituição histórica (As Minas de Prata), a descrição dos costumes (Memórias de um Sargento de Milícias). Nesse novo contexto, o surgimento de uma obra como A Nebulosa, o longo poema publicado em 1857 por Joaquim Manuel de Macedo, revela-se, na visão de Antonio Candido, como um fenômeno defasado e até mesmo obsoleto. De qualquer modo, a tendência que irá de fato prevalecer em nossa jovem literatura está associada à prosa de ficção, mais particularmente ao romance de costumes e ao romance regional, o que leva a um extraordinário enriquecimento do panorama romântico brasileiro, com desdobramentos que perduram até os dias de hoje. 



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