domingo, 12 de agosto de 2012


Valeska Limeira Azevedo Gomes







Afonso Henrique Fávero
Andreia Maria Braz da Silva
Andrey Pereira de Oliveira
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Bethânia Lima Silva
Cássia de Fátima Matos
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Edlena da Silva Pinheiro
Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Paiva
Laís Rocha de Lima
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Mona Lisa Bezerra Teixeira
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Rousiêne Gonçalves
Terezinha Marta de Paula Peres







Valeska Limeira Azevedo Gomes [11-8- 2012]



Edição: Martins, 1971:
  
da p. 263:  “Aí se encontra a sua filosofia da moderação, linha estratégica num momento de crise”[...]

até a p. 265:
[...]  “no segundo, oferecia honestamente as fontes em que hauria as ideias.“



Os gêneros públicos, incluídos na história da literatura, constituíam-se das oratórias e das publicações periódicas e os ensaios. São de suma importância para a difusão do pensamento de autores, tendo por intuito a informação, um juízo e a orientação do público, sobretudo no período dos reinados de Dom João VI e Dom Pedro I. O intelectual, jornalista e orador Evaristo da Veiga foi um dos principais representantes desse gênero, juntamente com Hipólito da Costa e Frei Caneca. Era um "monarquista de cabeça", atuou na luta pela independência do Brasil, manifestando as suas contribuições ao jornal Aurora Fluminense.


Evaristo tinha como filosofia e estratégia política, a moderação. Em artigo, desconstrói a ideia de fraqueza associada à moderação. O contrário da moderação inspiraria a perda da razão e o avultamento das paixões, algo perigoso para um momento de crise. Aí se explica a sua predileção pelos girondinos como modelo na primeira fase da Regência - "embora partidários  de reformas radicais, deslizam-se insensivelmente ao centro ". Para Candido, a censura não cabe, visto a esquerda e a direita serem compostas pelos grupos de "duvidoso aventureirismo" e de "virulentos reacionários", respectivamente. Essa filosofia o diferencia principalmente do Frei Caneca, que tratava passionalmente de suas convicções políticas, adotando discurso fervoroso. Para esse, "as ideias são sentimentos e só existem na medida em que neles se encarnava".


Candido ressalta alguns aspectos da conduta de Evaristo, tais como: a vontade predominando à sensibilidade e à inteligência; a moderação como palavra de ordem; o apego e importância dada à Constituição: A constituição era a ordem, a unidade, o progresso, e a presença de um soberano hereditário lhe parecia favorecê-los; o ódio e o ataque aos privilégios; a pregação de igualdade das oportunidades; a crítica às tendências cesaristas de Bolívar; a necessidade do pacto social para o progresso; a conciliação da liberdade com as exigências da ordem; a oposição a radicalismos, aos demagogos, aos anticonstitucionais e aos que não reconhecem no povo um fator determinante para o progresso social e político; a defesa da liberdade política: "O que pretende ela [a liberdade]? Que gozemos melhor dos nossos direitos; que as sociedades sejam felizes e estáveis, regidas por Leis derivadas de uma sorte de consenso comum...”; que a razão tenha todo o necessário desenvolvimento; que a publicidade abra a porta dos Conselhos Nacionais, e dê a conhecer ao Povo o como se tratam os seus interesses: que a Autoridade receba de cada cidadão o tributo das suas reflexões, e juízos sobre o que pertence à conveniência e proveito de todos".


Era um jornalista no sentido moderno, sem entrar pelo ensaísmo, comentava os acontecimentos à luz dos seus próprios princípios, o que impulsionava a sua influência de opinião e ressaltava o seu papel de mentor. Possuía vocação específica, sublinhada pela despreocupação em dar densidade maior às ideias que defendia. Criticava o uso dos termos Revolução e Revolucionário como "uma espécie de talismã mágico com que os Governos sabem a propósito fazer calar a opinião pública, e incutir terror nos homens pacíficos e moderados.", não temendo a pecha de subversivo ou radical atribuída àqueles que procuravam progresso.


Na revista Aurora de números 32 e 42, ataca os falsos constitucionais (para ele, mais perigosos que os absolutistas) e reafirma a importância da participação do "poder invisível da opinião" para a boa organização da política. "A boa organização marcha lentamente, e só poderá realizar-se se os cidadãos se compenetrarem de que não há uma casta investida da atividade política; mas que esta se deve processar pela participação de todos...". Essa sentença atesta a necessidade do pacto social.


Em razão de transcrições ensaísticas que, sem produzir, entretanto divulgava e da fraternidade com o pensamento de jornais liberais do Brasil como os de Benjamin Constant, Daunou, Destutt de Tracy, entre outros, Candido encontra no perfil do jornalista a característica de caudatário intelectual. Esse ponto é interessante para pensarmos sobre a omissão como o oposto da moderação, princípio norteador de Evaristo.

3 comentários:

Afonso Henrique Fávero disse...

Uma vez mais Valeska apreende de modo bastante pertinente os juízos de Antonio Candido, agora para traçar o perfil de Evaristo da Veiga como homem político. Para dar conta da tarefa, Valeska acabou por retomar as páginas anteriores (já exemplarmente comentadas pela Terezinha Peres) no intuito de melhor figurar o intelectual e político em questão.
Penso que é preciso apenas relativizar a afirmação de que Candido apontou em Evaristo da Veiga a “característica de caudatário intelectual”. Na verdade, Candido refere-se a uma “certa impressão (...) de honrado caudatário intelectual” em razão das ideias de Evaristo da Veiga serem explicitadas sobretudo por meio de transcrições de autores, brasileiros ou não, com perspectiva semelhante à sua.

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Jackeline Rebouças voluntariamente em 16-8-2012 comentou a leitura de Valeska Limeira:

Bem destacado por Valeska, Evaristo da Veiga era um herói mediano, pois sabia conciliar o equilíbrio e a energia, e a prudência com o desassombro, em uma época de paixões desencontradas. Monarquista de cabeça, porém convicto, Evaristo tinha como filosofia utilizar-se de atitudes moderadas. Em seu estudo, Candido deixa claro ,que Evaristo na qualidade de intelectual, bom jornalista e defensor da liberdade política aproveita para escrever artigos, onde procurava expor suas ideias. Em seu artigo 32, ele ataca os falsos constitucionalistas, completando a sua opinião a cerca da política no artigo 42, onde mostra que uma boa organização da política marcha lentamente.
Para Evaristo, as sociedades tinham que ser regidas por leis baseadas no consenso comum. Sobre isso, Candido afirma que na defesa da liberdade política, o intelectual prezava as formas de austeridade republicana, e, por isso, odiava os privilégios. Assim, procurava combater tal atitude, mostrando o comportamento artificial do império no que se refere ao uso ridículo de títulos. Dessa forma, Evaristo defendia a igualdade das oportunidades, desprezando a riqueza e o luxo. O crítico ao fazer uma comparação de Evaristo com Hipólito e Frei caneca, mostra que e Evaristo não era nem pensador como Hipólito e nem apaixonado como Frei Caneca, pois faltava-lhe energia de sentimento e energia de pensamento. Porém, foi um grande jornalista no sentido moderno e teve inúmeros artigos publicados, onde procurava expor suas ideias.



Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Marcela Ribeira comenta em 29-8-2012 a leitura de Valeska Limeira:


Através da construção do perfil político de Evaristo da Veiga por Candido, como bem enfatizou Valeska, visualizamos uma persona que vai ao encontro da filosofia grega no tocante a moderação: político, jornalista e orador afeito ao bom-senso, não confundia moderação com indiferença (como acontece em nossos dias); Evaristo segurava a bandeira da Monarquia, porém, acima dela, estava sua bandeira pessoal, embasada por teorias que não se envergonhava em citar. Por isso sofria pressões tanto de um lado como de outro da força, mas mantinha seus ideais e convicções, às vezes usando seu espaço como jornalista para refutar os imoderados. Senhor de si e de suas ideias, talvez Evaristo possuísse como filosofia as ideias de Cícero: É feliz o sábio que com moderação e firmeza está tranquilo e em harmonia consigo mesmo, não se consumindo com os males, futilidades e entusiasmos, nem se enervando por medo, nem ardendo de desejos e de cobiça.