sábado, 19 de março de 2011

Bethânia Lima Silva



Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Edlena da Silva Pinheiro
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Laís Rocha de Lima
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Rousiêne Gonçalves
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Andreia Maria Braz da Silva
Andrey Pereira de Oliveira
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara





Bethânia Lima Silva [19-03-2011]



Edição: Ouro sobre Azul/Fapesp, 2009

da p.212: “Mau gosto e prosaísmo se manifestam ainda no uso inferior da mitologia e,” [...]
até a p. 216: [terminando o subcapítulo 3. Mau Gosto][...] “mas de eventual concentração da poesia em torno de outros temas”.


Dando continuidade ao estudo do subcapítulo “Mau Gosto”, após Antonio Candido explicar a “fraqueza” dos recursos utilizados pelos literatos do período final do arcadismo (um exemplo seria a pobreza nos neologismos), o pesquisador apresenta ainda a decadência na aplicação da mitologia por parte dos poetas, em suas produções literárias. Segundo Candido é como se os poetas não conseguissem mais promover o encontro da mitologia com a tradição clássica, provocando então um desencontro entre a emoção e o pensamento.


Para exemplificar o “ressecamento” mitológico é feita a comparação de Tomás Antônio Gonzaga e a sua Lira 11 da 2ª parte, com José Joaquim Lisboa nas Liras de Josino, pastor do Serro (1807):


Lira 11 – 2ª parte

Se acaso não estou no fundo Averno,
padece, ó minha Bela, sim padece
o peito amante, e terno,
as aflições tiranas, que aos Precitos
arbitra Radamanto em justa pena
dos bárbaros delitos.

As Fúrias infernais, rangendo os dentes,
com a mão escarnada não me aplicam
as raivosas serpentes;
mas cercam-me outros monstros mais irados:
mordem-se sem cessar as bravas serpes
de mil, e mil cuidados.

Eu não gasto, Marília, a vida toda
em lançar o penedo da montanha;
ou em mover a roda;
mas tenho ainda mais cruel tormento:
por coisas que me afligem, roda, e gira
cansado pensamento.

Com retorcidas unhas agarrado
as tépidas entranhas não me come
um abutre esfaimado;
mas sinto de outro monstro a crueldade:
devora o coração, que mal palpita,
o abutre da saudade.

Não vejo os pomos, nem as águas vejo,
que de mim se retiram quando busco
fartar o meu desejo;
mas quer, Marília, o meu destino ingrato
que lograr-te não possa, estando vendo
nesta alma o teu retrato.

Estou no Inferno, estou, Marília bela;
e numa coisa só é mais humana
a minha dura estrela:
uns não podem mover do Inferno os passos;
eu pretendo voar, e voar cedo
à glória dos teus braços.
Tomás Antônio Gonzaga

Liras de Jonino, pastor do Serro

Íxion co’a roda parou,
Não sobe Sísifo ao monte,
Descansa o velho Caronte,
O abutre a Tício deixou;
Tântalo d’água provou,
Que a seu pesar lhe é vedada,
Foi a pena comutada
Por divina, alta clemência,
Por lhes servir de indulgência
Os anos da nossa Amada.

José Joaquim Lisboa


Nos versos de Lisboa, “a inovação mitológica perde o caráter de correlativo da emoção para tornar-se mero recurso verbal”, considera Antonio Candido. Já em Gonzaga, existe a combinação alegórica com a expressão sentimental.

O que pode ser observado é o abandono e o “repúdio à moda greco-romana”. Sousa Caldas, em 1790, na Carta Marítima, já apresenta “rejeição” ao “sistema greco-romano”:
“Como é louco e bárbaro o sistema de educação que os europeus têm adotado! Tomaram dos gregos e dos romanos o que estes tinham de pior; aprenderam a fazer-se pedantes e esqueceram-se de fazer homens. A adolescência, idade preciosa, gasta-se em granjear vícios e decorar coisas muitas vezes inúteis. [...]”

Antonio Candido encerra o subcapítulo abordando a ruptura com a idealização clássica, e mostra que a liberdade expressional em torno de uma maior diversidade temática na poesia e na prosa é o que vai ocorrer.

Um comentário:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

comentário de Marcos sobre a leitura de Bethania:


O trecho que coube a Bethania foi muito bem resolvido pela síntese que ela apresentou: deu destaque com precisão cirúrgica ao sintagma que condensa a ideia central desta passagem: o "ressecamento" da mitologia. A abordagem e o diagnóstico nos fazem lembrar que estamos num percurso histórico e não passando por fragmentos isolados de um manual de literatura.
Em todo este longo capítulo VI, "Formação da rotina", subcapitulado pelas rubricas "1. Rotina", "2. Pessoas", "3. Mau gosto", "4. Sensualidade e naturismo", "5. Pitoresco e nativismo", "6.Religião", Antonio Candido está enfocando um momento intermediário entre os "momentos decisivos", no qual a baixa qualidade dos epígonos do Arcadismo entremostra no seu húmus
[esterco, no mau sentido do que produziram]as sementes do Romantismo.