sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Valeska Limeira Azevedo Gomes



Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Andreia Maria Braz da Silva
Andrey Pereira de Oliveira
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Bethânia Lima Silva
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Edlena da Silva Pinheiro
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano





Valeska Limeira Azevedo Gomes [18-9-2010] :

Edição: Martins, 1971:
da p. 181: “É de fato refrescante a experiência de vazar o exótico regional” [...]
até a p. 183: [...] numa verdadeira tentativa de restauração intelectual, bem ao sabor da Viradeira.”



O texto de Candido traz à tona Santa Rita Durão e o seu poema Caramuru, sob o signo da mistura, duma miscelânea, seja quando considera ser refrescante a experiência do inovador traço exótico regional no poema escrito em moldes rígidos – possibilitando o ingresso da realidade brasileira na poesia europeia -, seja quando percebe, neste poema, a conservação de uma visão oposta à que dominava o século XVIII (período tonalizado pelo anticlericalismo, irreligiosidade, racionalismo, combate às constantes barrocas, simplicidade linguística), exemplificada tanto pela sua também composição em dez cantos e versificação no estilo camoniano, quanto pelo dogmatismo religioso. Parece ineficaz delimitar as correntes, pois as tendências se confundem, estão enleadas.



Ao trazer temáticas como o “sacrifício ritual, o sobreparto, o conselho dos varões, as danças, os combates, a estrutura das tabas, a própria construção das malocas”, Candido trata o poeta como verdadeiro precursor, visto imprimir olhar analítico à vida do índio (mesmo tendo penetrado nesta por meio de informações, como as de Rocha Pita, e levantando, assim, suspeitas sobre Ctrl C+ Ctrl V), prenunciando o nativismo que irá se desenvolver no Romantismo e se tornar tema emblemático da literatura brasileira. O poema Caramuru exerce forte inspiração na construção do poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, vejamos esse fragmento de confluência temática entre os dois poemas:



Se o sacro ardor, que ferve no meu peito,
Não me deixa enganar, vereis que um dia
(Vivendo esse impostor) por seu respeito
Se encherá de Imboabas a Bahia.
Pagarão os Tupis o insano feito,
E vereis entre a bélica porfia
Tomar-lhe esses estranhos, já vizinhos,
Escravas as mulheres c’os filhinhos.

Vereis as nossas gentes desterradas
Entre os tigres viver no sertão fundo,
Cativa a plebe, as tabas arrombadas;
Ou, quando as deixam cá no nosso mundo,
Poderemos sofrer, Paiaiás bravos,
Ver filhos, mães e pais feitos escravos?
(IV, 34-5)



Neste ponto, Nelson Werneck Sodré* aponta essa supervalorização da natureza, esse nativismo como antecipadores do indianismo: “O índio era apenas um assunto, nessa fase, mas já aparecia com alguns dos traços de valorização que o indianismo levaria aos mais extremos limites”.

As visões de mundo, atitudes, condutas pessoais de alguns poetas são significadas como razões de ser dos seus próprios poemas. Desse modo, o papel ideológico que a religião assume na obra de Durão é chave para avaliar o seu significado real.



Candido situa o Uraguai, de Basílio da Gama, e Caramuru como um par antitético. Diferentemente do intento de Durão, revela ter sido um “devaneio lírico”, o intento de Basílio da Gama. Isso é ressaltado pela “babação” a Pombal, a configuração do índio como herói e do jesuíta como vilão e a semelhança maior com um poema-narrativo do que com uma epopeia.
Com isso, arremata que em oposição e réplica ao Uraguai e à Ilustração Portuguesa, Caramuru surge como tentativa de restauração intelectual.

*História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand, 1988. P. 98-124

2 comentários:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Afonso Henrique Fávero comenta em 2-10-2010 a leitura de Valeska:

Creio que os comentários da Valeska apontam com propriedade os aspectos essenciais da reflexão de Antonio Candido no segmento em questão. Especialmente naquilo que se refere às posições distintas de Basílio da Gama e Durão.
Faço apenas um reparo: a estrofe 35 do Canto IV, que é uma oitava, foi reproduzida como se fosse sextilha, pois faltaram os versos “Levando para além do mar profundo/Nossos filhos e filhas desgraçadas;”. Além disso, o teor das duas estrofes reproduzidas por Candido tem a ver com “O Canto do Piaga” (e não com o “I-Juca Pirama”, ambos de Gonçalves Dias).

marcenga disse...

Valeska deixou bem claro o que podemos ler em Candido: Durão representa nesta ordem de considerações um caso interessante, de tradição inserida em idéias modernas e de idéias modernas vincadas pela tradição.
Ou seja, o autor de Caramuru representa dois papéis dentro da Literatura Brasileira, duas faces de uma única moeda: ao mesmo tempo em que retrocede, avança; ressuscita com Caramuru as sonoridades tradicionais, à moda camoniana, também desterrando o exótico como já o haviam feito antigamente, entretanto, insere em seu poema alguns aspectos do que viria a ser o nacionalismo romântico, sendo pioneiro também no olhar analítico sobre a figura do índio e sua cultura, e para isso se valeu de aproveitamentos literários de textos de historiadores, como Rocha Pita, citado pela colega.
Porém, acima de tudo, o que faz do Caramuru um intento de epopéia brasilíada é a religiosidade de seu autor.