sábado, 10 de abril de 2010

Marcos Falchero Falleiros


Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Andreia Maria Braz da Silva
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro




Marcos Falchero Falleiros [10-4-2010]

Edição: Martins, 1971
Da p. 157: “Pouco adiante encontramos um dos melhores trechos, onde adaptou e
desenvolveu a tenebrosa descrição da morada da coruja, no Lutrin: ”
[...]

Até a p. 160: [...]”passando da reforma intelectual para as perigosas fronteiras da
verrina política.”



No subcapítulo 2, “O Desertor e O Reino da Estupidez”, (o “pombalismo educacional” manifesta-se nestes dois poemas herói-cômicos em defesa da reforma da Universidade e contra o ensino escolástico), ao comentar “O Desertor” (1774), de Silva Alvarenga, Antonio Candido aponta como um dos melhores momentos do texto brasileiro o que traz uma passagem adaptada de “O Lutrin”, de Boileau, a que se acrescentam aspectos do estilo de Basílio da Gama: influências que Alvarenga superaria depois, pela maneira pessoal com que se expressaria no jardim domesticado e rococó de ”Glaura” .


O Reino


“O Reino da Estupidez” (1785), de Francisco de Melo Franco, caracteriza-se pelo verso seco, de prosa didática, mas viva e ferina, extravasando a convenção do poema herói-cômico pela maneira panfletária com que ataca a Universidade rotinizada novamente após a reforma incompleta. No entrecho, a Estupidez, ameaçada pelas luzes, convoca o Fanatismo, a Hipocrisia, a Superstição [só faltou convocar a Burocracia, mas naquela época não havia Sigaa], para uma investida no lugar mais propício a ela, Portugal-Coimbra.


O autor conseguiu manter-se anônimo à perseguição das autoridades. Mas é sua ousadia que o faz legível ainda hoje, com seu racionalismo franco e ataques aos figurões da universidade, com uma atitude permanente de estudante, talvez injusta e excessiva.


Nos desdobramentos do poema é retratada, com uma exceção, a mediocridade do corpo docente, louvando-se com saudosismo a figura do Marquês de Pombal, em meio à escandalosa indicação nominal de professores. Junto à hipótese, documentada por cartas e sugerida pela fatura da obra, de ter sido coautor do poema o péssimo poeta e ideólogo violento, José Bonifácio, o teor intelectual do contexto revela o culto ao progresso científico e a Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal, que os estudantes liberais brasileiros professavam.


Um ciclo de protesto


O então jovem estudante de medicina Francisco de Melo Franco, antes de escrever “O Reino da Estupidez”, foi preso pela Inquisição [1777-1781, acusado de “Herege, Naturalista, Dogmático” - cf. nota biográfica à p. 321]. Como ele, também foi vítima do mesmo Auto-de-fé Sousa Caldas, que escreveu “Carta” (obra a ser analisada a seguir) onde faz a crítica ao ensino. Acrescentando o exemplo de Francisco Vilela Barbosa, cujos versos dizem que ir ou não estudar em Coimbra dá no mesmo [precursoramente ao Brás Cubas retratado por Machado de Assis], Antonio Candido evidencia as amostras na época do clima geral de protesto à universidade. Francisco de Melo Franco, nascido em Paracatu – MG [1757] tornou-se médico da moda em Lisboa, escreveu com paixão educativa um tratado de pediatria e morreu pobre [1822 ou 23], de passagem por Ubatuba, litoral, quando voltava de São Paulo para o Rio de Janeiro. Com ele, o poema herói-cômico passou à militância satírica, num processo evolutivo que chegará às Minas Gerais, entrando pelas perigosas fronteiras da verrina política.

Um comentário:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Socorro Guterres [13-4-2010] – comentário sobre a leitura de Marcos:


É perfeita a explanação de Marcos acerca do texto de Candido sobre a “Musa Utilitária” que se revela nos poemas herói-cômicos dos estudantes mineiros Manuel Inácio da Silva Alvarenga e Francisco de Melo Franco, por meio de mordazes críticas à pedagogia da Universidade de Coimbra. Francisco de Melo Franco também excede a simples celebração cômica em tom épico de um episódio banal, dando mais espaço à sátira, ao contrário do padrão da época, o que acentua, conforme Candido, o cunho militante desse formato poético nas versões brasileiras. O ciclo de protesto filosófico por ideias avançadas é endossado por Sousa Caldas e Francisco Vilela Barbosa, como evidencia Marcos na análise do crítico literário, lembrando ainda, de forma perspicaz, que entre os convocados pela deusa Estupidez, nos versos ferinos de Melo Franco, poderia estar a onipresente Burocracia dos dias atuais. O mestre sabe o que diz.