terça-feira, 20 de abril de 2010

Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza


Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Andreia Maria Braz da Silva
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros




Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Sousa [24-04-2010]



Edição: Ouro sobre Azul, 2007:


da p. 170: [Capítulo IV início do subcapítulo 3]
" 3. CARTAS CHILENAS
As Cartas Chilenas são um poema satírico inacabado ou
truncado." [...]

até a p. 173: [em meio ao começo do subitem O autor oculto]
[...] "a um dos três poetas maiores da Vila, unidos por
amizade estreita -- embora haja um certo grupo de
criptônimos indicando pessoas que podem ser eles, ou
não, dadas as contradições."


Cartas Chilenas


A análise de Candido no item 3 do capítulo IV (‘Musa Utilitária”) aborda as Cartas Chinelas, poema satírico composto de treze epístolas, inacabado ou truncado, no qual um morador de Vila Rica (ficticiamente Santiago do Chile) ataca os desmandos do Fanfarrão Minésio, nome alusivo ao governador da Capitania de Minas Gerais no período de 1783 a 1788, Luís da Cunha Pacheco e Menezes. O autor, Critilo, comenta nas cartas endereçadas a um amigo, Doroteu, supostamente na Espanha (na verdade, Portugal), os desregramentos da gestão do governador. Embora alguns afirmem que as cópias manuscritas do poema circulavam largamente por Vila Rica, para Candido possivelmente elas tiveram um curso pequeno e sigiloso, pois a repressão configurada na Inconfidência foi imediata à composição dos versos, que devem datar do fim do governo de Cunha Menezes, prolongando-se até o ano seguinte.


A disputa sobre a autoria


Conforme expõe Candido, as Cartas Chilenas suscitaram dúvidas quanto à autoria, sendo que, de positivo, há o depoimento de Luís Saturnino da Veiga, um contemporâneo das Cartas que afirmava ser Critilo pseudônimo de Tomás Antônio Gonzaga. Segundo o crítico, provavelmente seja mesmo Gonzaga o autor. Candido cita a observação de Joaquim Norberto referente à forma áspera com que é tratado no poema o capitão José Pereira Marques, com o nome deformado para Marquésio, já que este, em pendências políticas, era protegido de Cunha Menezes, ferrenho inimigo do Ouvidor Gonzaga. As pesquisas de Luís Camilo de Oliveira informam os pormenores da briga entre Gonzaga e o capitão-general, o que, de acordo com Candido, era um dos fundamentos da diatribe e bem poderia ter sido o seu ponto de partida. Faltando uma prova decisiva, a análise estilística, sobretudo a de Manuel Bandeira, é favorável a Gonzaga, indicando uma analogia de imagens e recursos poéticos.



Candido relata uma terceira prova, estabelecida por Arlindo Chaves, que consiste na comparação do número de palavras por período no texto em dúvida e noutro de autoria certa. Assim, utilizando em confronto as Cartas, a Marília de Dirceu (de Gonzaga) e o Vila Rica (de Cláudio Manuel da Costa), Arlindo concluiu por Gonzaga, mostrando que os índices de coincidência são a seu favor. É ainda nitidamente favorável a Gonzaga, diz Candido, a “lei da constância da pontuação”, determinada pelo próprio Arlindo Chaves. Contudo, os critérios estilísticos e conjeturas sobre correspondência de personagens, fatos e traços morais, usados por Sílvio de Almeida e Lindolfo Gomes, concluem pela autoria de Cláudio, também defendida por Caio de Melo Franco. Candido pondera que a influência de Cláudio sobre Gonzaga poderia dar o tom peculiar do autor de Vila Rica nas Cartas, mas poderia indicar também colaboração, hipótese defendida por Sud Menucci. Já a atribuição de autoria a Alvarenga Peixoto, sugerida por Varhnagen e retomada aereamente por Sílvio Romero não é passível de defesa, tanto pela falta absoluta de indicações históricas, quanto pela escassez de sua obra, o que impossibilitaria a comparação do estilo. Sobre a hipotética autoria tríplice (Cláudio, Gonzaga e Alvarenga), mencionada por Pereira da Silva, Candido diz ser insubsistente, pelos motivos que invalidam qualquer atribuição ao terceiro. Segundo Joaquim Norberto, Critilo teria sido um outro poeta, obscuro e anônimo, convicção defendida por Lívio de Castro. Candido relata que a mais recente conjetura, de Cecília Meireles, indica como autor ou colaborador das Cartas, Antonio Diniz da Cruz e Silva, encarregado de julgar os réus da Inconfidência Mineira.


O autor oculto


No que se refere às Cartas, Candido é favorável à autoria de Gonzaga, sem recusar a possibilidade de colaboração acessória de Cláudio Manuel e, quem sabe, algum reparo de Alvarenga. Contudo, em relação à Epístola inicial de Doroteu, Candido acredita que só pode ter sido escrita por Cláudio. Além das provas referidas, às quais devem ser juntadas os trabalhos de Alberto Faria e a Introdução de Afonso Arinos à sua edição crítica, Candido valoriza a análise psicológica, preconizada por Luís Camilo. O crítico relata que com igual facilidade pode-se provar que Critilo é europeu ou brasileiro, casado ou solteiro, pobre ou rico. Alguns criptônimos são transparentes e permitem a estudiosos como Alberto Faria localizar com segurança os indivíduos correspondentes. Todavia, nenhum deles se refere a um dos três poetas maiores da Vila, embora, acentua ainda Candido, “haja um certo grupo de criptônimos indicando pessoas que podem ser eles, ou não, dadas as contradições”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Já que o assunto é um poema satírico, não posso deixar de mencionar o trocadilho - nesse caso um anagrama - involontário (e divertido) que a colega "rosiana" Soccoro fez, transformando as "Cartas Chilenas" em "Cartas Chinelas", título sugestivo para qualquer obra de caráter satírico. Dito isso, tenho que parabenizá-la pela capacidade de síntese - porém mantendo fidelidade filológica - em reportar os dados relativos à "disputa sobre a autoria" das Cartas, pois acompanhar o processo no texto original é mais complexo. Talvez valha a pena evidenciar o método estatístico-filológico, usado por Arlindo Chaves, para identificar a possível autenticidade de uma obra, criado pelo pioneiro da estatística moderna, o inglês George Udny Yule, o qual - como nos lembra o mestre Candido - o aplicou para demonstrar a provável autoria do mais famoso texto da literatura cristã ocidental: De imitatione Christi. Esse método - relata Antonio Candido - "consiste em comparar o número de palavras por período, no texto em dúvida e noutro de autoria certa".

Massimo Pinna

Eldio Pinto disse...

As observações ressaltadas sobre "Cartas Chilenas" mostram como o Brasil desenvolveu sua política de repressão. Sabe-se que alguns políticos neste país não gostam de serem criticados, então o escritor-crítico tem que se esconder por trás de um pseudônimo. "Cartas Chilenas" demonstra o quanto devemos ter cuidado ao criticar os Democratas (DEM) brasileiros.