quarta-feira, 17 de março de 2010

Mácio Alves de Medeiros

Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Orlando Brandão Meza Ucella
Peterson Martins
Renan Marques Liparotti
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Aldinida Medeiros Souza
Andreia Maria Braz da Silva
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Carmela Carolina Alves de Carvalho
Cássia de Fátima Matos
Edlena da Silva Pinheiro
Edônio Alves Nascimento
Eldio Pinto da Silva
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Kalina Naro Guimarães
Lígia Mychelle de Melo




Mácio Alves de Medeiros [13-3-2010]



CAPÍTULO III – Apogeu da Reforma.
ITEM 4 – Poesia e música em Silva Alvarenga e Caldas Barbosa

Edição: Ouro sobre Azul, 2007:

da p. 151 :
"Os madrigais [subtítulo]
Vimos que a melodia cantante desse poeta (filho de músico, ele" [...]

até p.156: [...]"tão maltratado por Bocage, desaparece praticamente ao lado dos patrícios mais bem dotados." [final do Cap III]


Os madrigais constituem talvez o outro lado, ou o lado vizinho, da obra Glaura escrita por Manuel Inácio da Silva Alvarenga e destacada por Antonio Candido neste momento decisivo de Formação da Literatura Brasileira. Isto porque os 59 poemas em forma de rondós se juntam aos 57 em forma de madrigais. Numa autêntica fusão de poesia e música percebe-se o contraste entre as duas composições em relação à identidade do poeta com a poesia árcade. Ela se legitima, segundo Antonio Candido, com a presença dos madrigais, pois, ao contrário, os rondós emprestam à melodia cantante do poeta uma musicalidade afeita aos moldes do Romantismo. Nesses rondós prevalece uma sonoridade que ultrapassa os valores específicos da palavra, pois se rendem à melodia em detrimento da dignidade do verbo literário dignificado e conservado nos madrigais.



Apesar de ser a musicalidade o elemento comum às duas formas dos poemas de Silva Alvarenga, os rondós são criticados por Antonio Candido por um simples motivo: através da musicalidade, a plasticidade perfeita dos rondós enaltece as belas formas naturais, mas em contraste a isso deixam a impressão de monotonia quando se lê os versos integrados ao contexto e tomados no conjunto. Os rondós se servem do deleite das ninfas, uma vez que exaltam o ambiente destes seres. Por outro lado, se confrontados com a valorização do sistema poético oferecido pelos madrigais, as oitavas perfeitas dos rondós se assemelhariam a ninfas não mais na condição de divindades, mas como o estágio imaturo de um ácaro grudado à penha dura e caracterizado, inclusive, pelo número de patas, oito. A melopeia adocicada dos rondós não encontraria eco nos madrigais.



De qualquer forma, rondós e madrigais revelam a proporção harmoniosa de tudo, símbolo da graça elegante de Silva Alvarenga. A simplicidade da arte clássica, a naturalidade e a clareza dos modelos primitivos greco-romanos são perceptíveis nos excertos de Glaura apresentados por Antonio Candido. Nos madrigais, especialmente, prevalece uma composição poética simples e concisa que exprime um pensamento fino e um toque abrasileirado dos versos, no qual o poeta interage com um ambiente tropical e no qual envolve sua amada, reservando-lhe, no nativismo de paisagem, a sombra de mangueiras e laranjeiras nos dias de agosto à espera da primavera que evidenciará a sua flor, Glaura. O olhar perspicaz de Antonio Candido permite compreender o movimento do poeta colocado como refletor de uma forma ligada ao passado clássico e prenunciando o futuro romântico. O crítico demonstra predileção pelos madrigais porque eles evocam a vitória da arte sobre o sentimentalismo expresso pelos rondós com seus estribilhos, por vezes, beirando a redundância e favorecendo somente a memória musical do poema.


Em relação a Domingos Caldas Barbosa, pouco evidenciado nos manuais de literatura brasileira, tem-se em sua poesia, a exemplo de Silva Alvarenga, a dissolução da poesia na musicalidade. Acrescenta-se a essa dissolução um consórcio rastreado pela candura e pelo amor. Nestes aspectos encontra-se também um patriotismo mesclado por elementos da psicologia popular e pela utilização do vocabulário mestiço do Brasil-colônia: nhanhá, popôs, Xarapin, arenga, etc. Para Antonio Candido, apesar da lamuriante debilidade da poesia de Caldas Barbosa há, porém, exemplos fugazes de redenção de sua poesia, como a valorização das modinhas, cuja ausência da melodia impede o crítico de fazer uma melhor avaliação da inexpressiva lira deste poeta “trovista” relegado ao ostracismo.

2 comentários:

Unknown disse...

O que achei interessante no trecho comentado pelo amigo Mácio foi a análise desenvolvida por Candido da relação entre poesia e música nos dois poetas árcades mencionados. Podemos assim perceber que, de certo modo, a intersecção entre a poesia e a música já faz parte da cultura artística brasileira desde seus primórdios. Pois para a nossa geração, a associação MPB e literatura é muito forte...

Unknown disse...

Olha só, Marcel, adorei a sua percepção e concordo com ela. O colega Mácio resumiu muito bem o texto de Candido, chamando-nos a atenção para os aspectos mais destacados pelo crítico. Eu gostei tanto dessa parte, pois me lembrei dos poetas de Assú, a ingenuidade das modinhas. Em pesquisa que realizamos, a glosa se destacou como a forma poética que os poetas populares mais se utilizavam, isto nos diz muito sobre essa relação música e poesia. Outra questão é o apoio que encontro em Candido quando ele fala sobre a "fragilidade" de Caldas Barbosa, mas mesmo assim ele o coloca associado a Alvarenga, reconhecendo o seu valor no conjunto e no começo de nossa literatura. É algo que fica claro para mim quando estudo esses autores assuenses. Segue mais ou menos o intuito de Candido. Enfim, o mestre.