domingo, 19 de outubro de 2008

Cássia de Fátima Matos dos Santos – [18-10-2008]

Editora Ouro sobre Azul, 2006. p.35-38

Item 5 e início do item 6 - Introdução:
DE: p. 35: "Quando nos colocamos ante uma obra, ou uma sucessão de..."
A: p. 38: "... sugestões fugazes), que por vezes sobrelevam as mais evidentes."


Item 5: Os elementos de compreensão


Candido inicia este item expondo os vários níveis de que dispomos para a compreensão de uma obra. 1º) os fatores externos – vinculam a obra ao tempo, são portanto os sociais; 2º) O fator individual – o autor; 3º) O texto. Segundo Candido, para que um livro de história literária escape à parcialidade ou à fragmentação, o autor precisa referir-se a esses três aspectos/fatores ao mesmo tempo. Entretanto, ele não descarta a possibilidade de se estudar uma obra escolhendo apenas um dos ângulos referidos, mas atenta para o fato de que aí não se estará sendo crítico, e sim sociólogo, psicólogo, lingüista etc. Vejam aí que o arsenal necessário para ser crítico não é pouca coisa, tendo em vista as exigências da tarefa.

Tendo claros esses elementos, a discussão de todo este item será em torno dos argumentos que sustentam a tese, qual seja, a de que ao se analisar uma obra, o crítico deve considerar que ela é “uma realidade autônoma” e os elementos extraliterários devem sim ser observados na medida em que auxiliam na sua interpretação. Todavia, o estudioso de literatura deve ter claro que, não sendo história, a obra literária é, antes de tudo, forma. Assim, importa descobrir como um autor encontra uma fórmula estética para plasmar a realidade. No fundo, Candido está debatendo e marcando uma posição, por um lado, em relação ao formalismo (preocupados com a estrutura interna e os aspectos lingüísticos), sem negar a sua contribuição e validade; por outro, com o sociologismo ou psicologismo (que transformam a obra literária em documentos históricos ou compêndios psicanalíticos) sem também dispensar a sua importância; em síntese, ele integra tudo com o objetivo de desvendar como se organiza a particularidade formal/estética da obra. (Eu particularmente acho isso a coisa mais difícil de se fazer. Por isso acho que muitas vezes Antonio Candido não é entendido de jeito nenhum e, contraditoriamente ao que ele advoga, ainda é tachado de fazer crítica sociológica. Eu mesma no começo achava que era isso. Depois fui ler direito e vi que era outra coisa).

Reiterando, Candido elege para o seu livro o seguinte critério: “a literatura é um conjunto de obras, não de fatores nem de autores”. Porém, a obra não se faz sem a integração destes dois últimos. O crítico demonstra ainda alguns exemplos da própria literatura brasileira para reforçar os seus argumentos e finaliza dizendo que utilizará as técnicas que considerar conveniente, “no momento exato e na medida suficiente” a fim de alcançar o entendimento da obra, que é o seu alvo principal.


Item 6: Conceitos, p. 38:


Neste item Candido irá discutir os conceitos que utilizará no livro: período, fase, momento; geração, grupo, corrente; escola, teoria, tema; fonte, influência.

O que fica claro logo numa primeira leitura desta parte é o cuidado do crítico em modalizar, se é que assim posso me expressar, os conceitos. Ou seja, ele quer escapar da rigidez que os termos por vezes evidenciam. Reconhece que usará a noção de período de forma incidental, porque quer sugerir mais certa idéia de “movimento, passagem e comunicação entre as fases, grupos e obras”; o crítico quer mostrar com isso que entre arcadismo e romantismo irá se caracterizar certa continuidade e, portanto, a noção meio separada de período quebraria em parte o seu objetivo.

Já no que se refere a gerações, considera que este termo evoca certa idéia mecânica, o que atrapalharia a perspectiva de seu estudo, que é antes de tudo longitudinal. Para isso sobrepôs ao conceito de geração o de tema, procurando observar a sua retomada através das gerações. Vê-se aí como Candido tinha claro o sistema literário, ou melhor, como o arsenal teórico-conceitual é escolhido com lupa para tecer a idéia de sistema.

Com isso se chega ao conceito de influência, que afinal vincula os escritores uns aos outros e contribui para a formação do momento literário. Trata-se, segundo Candido, de um conceito de complexo e delicado manejo para toda a crítica, isto porque é difícil distinguir coincidência, influência e plágio, sem falar que não temos como identificar se houve deliberação ou inconsciência do autor no uso da fonte de outrem.

5 comentários:

Anônimo disse...

Acho que esses dois itens, que foram (diga-se de passagem) muito bem comentados por Cássia, são, digamos assim, "a chave" para entendermos o pensamento de Antonio Cândido e também os critérios que ele utiliza ao fazer um juízo de valor a uma determinada obra. Um texto é essencialmente forma, mas mesmo sendo metalinguístico, ele tem uma articulação com o social.
Ora,se ele diz que nós (analistas) devemos encarar um texto literário levando em consideração tanto os fatores externos (os fatores históricos e sociais) quanto as leis internas do texto literário (as peculiaridades artísticas), isso quer dizer que um bom texto tem que ter um equilíbrio entre forma e conteúdo, ou seja, todo bom escritor consegue articular bem essas duas realidades.

Anônimo disse...

Gente, esqueci de comentar o outro item!
Antonio Candido diz:"...À diferença entre essas fases, procuro somar a idéia da sua continuidade, no sentido da tomada de consciência literária e tentativa de construir uma literatura." Particularmente, adoro esse termo "continuidade" porque desfaz a idéia de quebra entre um estilo literário e outro. A prova real e concreta de que existe essa continuidade são as chamadas "obras de transição" .Nas primeiras obras de Machado de Assis, por exemplo, podem ser vistas muitas caracte´rísticas do Romantismo. Então não há um rompimento, o que há é uma gradação (por isso que Eliot vai dizer que o novo brota do velho).

Anônimo disse...

Olá para todos. Não sei bem quem é vc (ahasverus). Dá para se identificar? Eu também sou ganha para esta idéia de continuidade. Penso que é ela que vai resultar na "causalidade interna" do sistema literário. Estou certa na interpretação? Mas é muitíssimo interessante como A.C. irá tratar o período de transição 1900-1922/Modernismo. Ali ele não considera pré-modernismo; ali não há continuidade do período anterior. Para isto ele irá chamar o período de lit. de permanência. Desculpe ir assim entrando em um assunto q está lá no "literatura e sociedade". É q estou estudando um pouco isto para auxiliar na compreensão do poeta q pesquiso, q é daquele começo de século. Bem, se alguém puder me ajudar um pouco nessa distinção...eu penso q estou chegando a conclusões interessantes, mas não vou me alongar, veremos se alguém se interessa e continuaremos.
Cássia.

Anônimo disse...

Oi Cássia, Ahasverus sou eu e eu sou Lígia (é que eu me identifiquei com pelo nome com o qual assino minhas postagens no meu "brog"). Olha, achei que a sua parte foi muito bem comentada e, não sei se vc concorda comigo, mas acho que compreendendo esses dois itens a gente compreende o pensamento de Candido como um todo. Sobre o que vc colocou: acho pertinente.O assunto está lá (em "Literatura e Sociedade") mas serve para compreender as "lacunas", digamos assim, deixadas em "Formação da literatura". Quer dizer que são idéias diferentes mas que se complementam é isso? porque de qualquer forma a idéia de permanência também vai de encontro com a idéia de ruptura, não é isso? olha, eu vou ser sincera: não li "Literatura e sociedade" e realmente não posso discuir com vc com segurança, mas vou procurar ler e, se vc quiser, voltamos a discutir: é que acho realmente interassante!
abçs.
Lígia Mychelle de Melo

Anônimo disse...

é melhor e mais visível clicar
nos comentários de cima, o da listagem dos participantes
Marcos