sábado, 6 de outubro de 2012


Antônio Fernandes de Medeiros Jr 



Arandi Robson Martins Câmara
Bethânia Lima Silva
Cássia de Fátima Matos
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Edlena da Silva Pinheiro
Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Paiva
Laís Rocha de Lima
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Maria Valeska Rocha da Silva
Massimo Pinna
Mona Lisa Bezerra Teixeira
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Rousiêne Gonçalves
Terezinha Marta de Paula Peres
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Andrey Pereira de Oliveira




Antônio Fernandes de Medeiros Jr   [6-10-2012]

Edição: Martins, 1971:
da     p. 275:      “ A reflexão histórica nos leva a reputar sediços esta  ‘luz febeia’   ”[...]
até a p. 278:       [...]“ 'junto dos mares', mal saídos do confinamento colonial."    
                  


No trecho conclusivo desse “Poesia a reboque”, Antonio Candido amplia comentários analíticos à poesia de Natividade Saldanha, inclusive, com desdobramento teórico sutil acerca do binômio forma-conteúdo, nexo balizador na elaboração do efeito poético de ordem geral. Além disso, noticia a presença literária de Evaristo da Veiga, contexto no qual ilustra, uma vez mais, alguns fatores que distinguem a expressão do poeta da prática redutora típica de “versejadores”.

Em relação a Natividade Saldanha, ainda referindo-se ao soneto transcrito “Noite, noite sombria, cujo manto”, Antonio Candido identifica, no poema, traços “sediços”  da personalidade  “[d]esse pobre mocho fatigado por alguns séculos de ininterrupta indisposição dos poetas”, convergente, portanto, à índole predominante da poesia brasileira até então. Contudo, mudando o enfoque da avaliação, o crítico relativiza por detectar no soneto “certos traços de permanente encanto” efeito auferido “quando se encaixa na forma poética verdadeiramente adequada”. De modo a esclarecer que o tema eleito ao poema tem menos relevância de que o ajuste de linguagem entre forma e conteúdo: “Então, o que é mais banal fica mais poético, porque o geral é que melhor recebe as necessidades do nosso restrito particular”.

Para Antonio Candido, a importância da presença de Natividade Saldanha ocorre “como autor patriótico das quatro odes pindáricas sobre os heróis da Restauração pernambucana”, odes epigonais compreendidas como “verdadeiros pastiches das que escrevera sobre as grandes figuras da história portuguesa o seu querido Diniz”. Por fim, apreende que a poesia de Natividade Saldanha é confirmadora do ambiente histórico libertário “onde permanece, sem  pusilanimidade, a nota de doçura e tristeza dos sonetos transcritos mais altos”.

Na sequência, Antonio Candido estabelece que afora Natividade Saldanha todos os poetas comentados nesse capítulo, uns mais outros menos, são “versejadores em que a poesia aparece como automatismo e mau hábito, e que recorrem a ela simplesmente por ser a forma estabelecida de exprimir as opiniões e marcar os momentos significativos da vida”. Considero oportuno salientar que tal confusão – a de misturar poeta com versejador – parece ter expectativa de vida longa, é crescente ainda hoje. Com a proliferação de “sites” e páginas pessoais na internet percebe-se o “mau hábito” frequente de cometimento de poemas (forma) sem teor poético (forma-conteúdo).

Na seara de “versejadores”, o último a ser comentado é Evaristo da Veiga, autor de “duzentos e sessenta e três poemas”, com forte vinculação temática à “circunstância” e “comemorativa em alto grau”. A curiosidade em torno desse poeta é registro de cunho biográfico. Antonio Candido destaca a precocidade de elaboração dessa obra, quantitativamente volumosa, uma vez que esse poeta “metrificador tenaz desde os treze anos abandonou as musas quando passou ao jornalismo e nele encontrou veículo consentâneo às suas necessidades de expressão”, ao que parece, contribuindo mais com a poesia brasileira por meio de sua ausência de que com a insistência de permanência.

O “mau hábito” de cometimento do poema-sem-poesia é fortemente criticado por Antonio Candido quando avalia as mais de duas centenas de poemas de Evaristo da Veiga: “É difícil encontrar maior coleção de versos razoavelmente metrificados tão fora da poesia. Lê-los é experimentar a que ponto vai a força anuladora da rotina [...]”.

Outro modo de ponderar o equívoco continuado de se tentar instaurar o poema (apresentação física) como se fora automaticamente poético (grau de exigência maior que cobra os modos de particularidade do conteúdo). A respeito dessa versificação  prolífica “comemorativa em alto grau”, o crítico afirma que a coleção “ignora de todo o que havia de mais poético nas tendências literárias do tempo: o pendor meditativo, o naturalismo, a melancolia [...]” e registra que foi o poeta-patriota “autor do nosso primeiro hino nacional”.

Por fim, Antonio Candido considera a coleção de poemas-sem-poesia como “dezenas de odes e sonetos exaltadamente patrióticos”, sem relevo poético, embora se insira mais revelador do ambiente histórico de “confiança na grandeza do país, que do terreno material se refletiria no da cultura”. 




Um comentário:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Maria Aparecida comenta em 8-10-2012 a leitura de Medeiros em 6-10-2012:

No subcapítulo “Poesia a reboque”, Antonio Candido elenca alguns poetas que figuraram naquele momento literário brasileiro, mostrando o esforço de tais poetas em fazer poesia, bem como o resultado medíocre de tal esforço. Candido ainda reforça que de tudo que se produziu naquele momento “escapa”, apenas, algumas produções de Natividade Saldanha. Para Antonio Candido, aqueles “versejadores” não tinham “n’alma qualquer vislumbre de poesia”.
Conforme comentário de Antônio Medeiros, “afora Natividade Saldanha”, uns mais outros menos, todos os poetas comentados por Antônio Candido são, na verdade, versejadores que trazem assuntos cotidianos e opiniões pessoais como matéria literária, ou simplesmente registram fatos. Antônio Medeiros ainda acrescenta que, “tal confusão – a de misturar poeta com versejador - parece ter expectativa de vida longa, é crescente ainda hoje. Com a proliferação de “sites” e páginas pessoais na internet percebe-se o “mau hábito” frequente de cometimento de poemas (forma) sem teor poético (forma-conteúdo)”.