domingo, 11 de março de 2012

Marcos Falchero Falleiros




Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Massimo Pinna
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosanne Bezerra de Araujo
Rosiane Mariano
Rousiêne Gonçalves
Valeska Limeira Azevedo Gomes

Afonso Henrique Fávero
Andreia Maria Braz da Silva
Andrey Pereira de Oliveira
Antônio Fernandes de Medeiros Jr
Arandi Robson Martins Câmara
Bethânia Lima Silva
Cássia de Fátima Matos
Daniel de Hollanda Cavalcanti Piñeiro
Edlena da Silva Pinheiro
Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Paiva
Laís Rocha de Lima
Lígia Mychelle de Melo
Mácio Alves de Medeiros
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro










Marcos Falchero Falleiros [10-3-2012]



Edição: Martins, 1971:

da p. 244: [início de “3. Os gêneros públicos”] “Num momento percorrido por semelhantes idéias e tendências” [...]

até a p. 246:
[...] “ó Irzerumo, tu verás que ela se compadece mui bem com os princípios do cristianismo’ “



Nas últimas leituras de 2011 vimos que a nossa tardia Aufklärung, desdobrando-se pelo início do século XIX, e alimentada pelo “tempo do Rei”, teve por objetivo e expressão máxima a Independência de 1822. O efeito desse processo histórico foi rebaixar a literatura a uma condição coadjuvante dos gêneros públicos: a oratória, o jornalismo e o ensaio político-social, que impuseram aos registros da história da literatura autores de zonas limítrofes da então desprestigiada atividade puramente estética. Assim, o orador e o jornalista, num contexto político, figuram até hoje [1959, ano de edição da FLB, e também 2012] como a própria encarnação da literatura [quer mais encarnação da literatura que José Sarney? Só se for outro imortarrr: Paulo Coelho, mas este Rasputin midiático é um novo perfil de 171, composto de rock com autoajuda para as cabecinhas ocas necessitadas de enxada].



Apesar dos registros perdidos dos discursos parlamentares, os testemunhos da época confirmam no período a ampla ressonância da oratória laica, penetrando mesmo no púlpito, como prova o depoimento do alemão Schlichthorst, em O Rio de Janeiro como ele é - uma vez e nunca mais, a respeito da pregação de um Frei que enraiveceu o Imperador, pouco se lixando que ele se retirasse da missa diante de suas invectivas ao governo. [Pena que essa cena não figure em Memórias de um sargento de milícias, pois combinaria muito com a dialética da malandragem de O Rio de Janeiro como ele é - uma vez e nunca mais].



A partir das publicações que se conservaram é possível quanto ao jornalismo identificar três ramos, unificados pela intenção de esclarecimento do leitor e do homem público: o ensaio, o artigo e o panfleto, cuja gradação de complexidade reflexiva encontra seus melhores representantes, respectivamente, em: Hipólito da Costa, em Londres, Evaristo da Veiga, no Rio, e Frei Caneca, em Pernambuco.



As Cartas de Sousa Caldas



Duas cartas de Sousa Caldas são mais significativas para o pensamento social do período que os ensaios econômicos de José da Silva Lisboa. O achacadiço e modesto padre Sousa Caldas [fluminense, discípulo de Rousseau e simpatizante das “ideias francesas”, preso pela Inquisição quando estudante em Coimbra sob acusação de “Herege, Naturalista1, Deísta2, Blasfemo” – ver nota biográfica ao final do volume de FLB] nelas revela a agudeza de espírito que concilia convicção liberal com fé religiosa. Nas duas cartas já publicadas [1959] de cinco manuscritos que sobraram de uma indiciada vasta produção, a numerada 47ª defende que a liberdade de imprensa, pensamento e pesquisa, tal como ocorre com as ciências naturais [seria?], seja estendida às matérias religiosas e à avaliação do procedimento de magistrados e governo, só defendendo restrição de especulações a respeito da existência de Deus, providência divina e imortalidade da alma [como diria Paulo Honório in S. Bernardo: “tão pensando que isso aqui é a Rússia”!]. É nestes termos que, como leitor simpatizante do Correio Braziliense3, conclama o governo a tomar posição pela liberdade de imprensa.

1 - doutrina que, negando a existência de esferas transcendentes ou metafísicas, integra as realidades anímicas, espirituais ou forças criadoras no interior da natureza, concebendo-as redutíveis ou explicáveis nos termos das leis e fenômenos do mundo circundante.
2 - doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada. O deísmo difundiu-se principalmente entre os filósofos enciclopedistas e foi o precursor do ateísmo moderno.
3 – veremos a seguir: “braziliense”, de “brasileiro”, 1º jornal brasileiro - 1808-1822, clandestino, editado em Londres por Hipólito da Costa, expressão do liberalismo: doutrina baseada na defesa intransigente da liberdade individual, nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contra ingerências excessivas e atitudes coercitivas do poder estatal – seu nome serviu de inspiração ao atual Correio Braziliense [1960], Brasília.

2 comentários:

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Maria Aparecida da Costa Gonçalves Ferreira comentou em 13-3-2012:

Marcos apresenta o início do capítulo em que Antonio Candido retoma o que estava anunciado anteriormente: a importância dos gêneros públicos em detrimento da literatura. O que chama a atenção neste trecho é a importância dos escritos do setecentista religioso, considerado herege e deísta e, também por isso, condenado pela inquisição. Sousa Caldas, adepto dos ideais franceses, tem uma oratória refinada e honesta que o leva a se indispor com o governo quando prega a liberdade de pensamento e de imprensa, ilustrada na carta 47ª.

Base de Pesquisa Formação da Literatura Brasileira disse...

Marcos comenta em 14-3-2012:

É isso aí - vejam que desde a leitura de Marcel, a situação já vinha anunciada: a literatura perdeu espaço para os gêneros públicos. Nem a linguística conseguiu tanto! O interessante em relação a Sousa Caldas é que ele concilia iluminismo com religião: pede liberdade de imprensa, simpatizante do primeiro jornal brasileiro, infernal para a Metrópole portuguesa, o Correio Braziliense - não confundam com o atual - vejam a nota a respeito. Mas não admite que se discuta a existência de Deus, alma e outros produtos!! Nem padre Marcelo e Edir Macedo conseguiriam tanto!!