sexta-feira, 31 de agosto de 2018






Edlena da Silva Pinheiro






Eide Justino Costa
Eldio Pinto da Silva
Elizabete Maria Álvares dos Santos
Érika Bezerra Cruz de Macedo
Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti
Giorgio de Marchis
Jackeline Rebouças Oliveira
Joana Leopoldina de Melo Oliveira
Juliana Fernandes Ribeiro Dantas
Kalina Naro Guimarães
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Laís Rocha de Lima
Manoel Freire Rodrigues
Marcela Ribeiro
Marcel Lúcio Matias Ribeiro Saraiva
Marcos Falchero Falleiros
Marcus Vinicius Mazzari
Maria Aparecida da Costa
Maria do Perpétuo Socorro Guterres de Souza
Maria Valeska Rocha da Silva
Massimo Pinna
Paulo Caldas Neto
Peterson Martins
Rochele Kalini
Rosiane Mariano
Terezinha Marta de Paula Peres

Adriana Vieira de Sena
Afonso Henrique Fávero
Antônio Fernandes de Medeiros Jr 
Bethânia Lima Silva






Edlena da Silva Pinheiro [01-09-2018]


Edição: Martins, 1971, VOL.2:
da p. 220 – no visor p. PDF: p. 529:      [início do capítulo]      "3   Os Três Alencares ” [...]
até a p. 222  – no visor p. PDF: p. 533    [...] “necessário, da verossimilhança literária.”



Os três Alencares


José de Alencar escreveu romances em duas fases de influências. Primeiro, durante a adolescência, sofre influência de autores franceses como Dumas, Balzac, Victor Hugo. Mais tarde aos dezoito anos, viajando pelo Ceará, sente o desejo de enfocar a própria terra. Sua estreia aos 27 anos foi com Cinco minutos, publicado em folhetins no Correio Mercantil, assim como O guarani, publicado em três meses no ano de 1857. Antonio Candido observa que toda a obra de Alencar guia-se por duas posições iniciais: a  complication sentimentale, como em Lucíola,  e a idealização heroica, como em O guarani.  


No período de 1857 a 1860, Alencar dedica-se ao teatro e somente em 1862, ao romance, com a publicação de Lucíola, onde se nota a influência teatral nos diálogos firmes, na representação de situações reais e nos conflitos psicológicos. Candido define Lucíola como um dos romances excelentes de Alencar. As minas de prata (1864 -1865) se destacam pela capacidade de fabulação e segurança narrativa que até hoje prendem o leitor. Iracema (1865) é o exemplo de perfeita prosa poética no romance, pois integra expressão literária com evocação plástica e musical. 


Após 1870, sua produção torna-se profícua: Alencar publica doze romances em seis anos, incentivado pelo contrato com a Livraria Garnier. Nesse período procura com sua obra dar uma ideia de levantamento do Brasil através do regionalismo de O gaúcho (1870) e O sertanejo (1875). Os seus romances da burguesia carioca são A pata da gazela (1870), Sonhos d´ouro (1872), e Senhora (1875), este último se destaca pelo excelente estudo psicológico.  A guerra dos mascates (1870) é o seu romance histórico e documental com alusões ao Império. Os romances O garatuja, O ermitão da Glória e Alma de Lázaro (1873) baseiam-se nas tradições do Rio. O tronco do ipê e Til (1872) são os seus romances de descrição da vida rural. Ubirajara (1874) traz de volta o Indianismo, mas com reconstituição etnográfica mais erudita em resposta às críticas de Franklin Távora.


Antonio Candido recomenda a leitura de todos os vinte e um romances do romancista cearense, pois nenhum pode ser classificado como péssimo. No entanto, o destaque do crítico frisa Lucíola, Iracema e Senhora, recomendando, pela força criadora dos três, leituras e releituras.  Quanto a tais escolhas, Candido observa que existem dois Alencares: o Alencar dos rapazes, heroico a altissonante; e o Alencar das mocinhas, gracioso ou trágico.       


A obra de José de Alencar na nossa literatura representa também o aparecimento do herói: Peri, Ubirajara, Estácio Correia, Manuel Canho,  Arnaldo Louredo são o ideal de heroísmo e utopia em uma sociedade mal  organizada, com crescentes lutas políticas e revoluções sangrentas.  O herói imaculado diante da realidade difícil corresponde à necessidade de eternizar seus romances aos leitores.  Alencar exprime assim uma fuga do real. Nos seus romances heroicos a vida é subordinada a personalidades inflexíveis, sem medo ou dúvidas, sem maus desejos ou qualquer ato degradante, configurando uma vida aplainada para o herói seguir até o fim.  O antagonismo faz parte de um jogo apenas aparente e a luta é combinada, pois o herói vence sempre. Para Antonio Candido, o romancista Alencar recorta a vida de forma idealizada, onde tudo é possível, com um fio muito tênue entre a vida real e a verossimilhança literária.